‘A gaúcha Elis Regina (1945-1982) nunca precisou do marketing para ser reconhecida como cantora: teve apenas de unir seu talento como intérprete a um bom repertório. No caso da filha de Elis, o marketing é tudo. Nos últimos dois anos, a gravadora Warner empenhou mundos e fundos para impulsionar sua carreira de cantora. A companhia vende a artista como uma espécie de reencarnação da mãe – e ela se prestou a esse papel, emulando o estilo de Elis. A Warner gastou mais de 1 milhão de reais para promover seu disco de estréia, em 2003. Lançado há três semanas, o segundo álbum da cantora saiu da fábrica com uma tiragem de 250.000 cópias. Mas, como a Elis genérica já não é novidade para ninguém, a gravadora valeu-se de um expediente manjado no meio musical para divulgar o disco: o jabá, aquela lembrancinha que alguns radialistas e jornalistas recebem para ‘dar uma força’ aos lançamentos. A companhia presenteou trinta críticos de música de grandes veículos com mini-iPods – tocadores de MP3 cujo preço nas lojas varia entre 600 e 1.000 reais. O objetivo era, obviamente, conquistar a simpatia dos jornalistas. A Warner prefere uma desculpa esfarrapada: o presente seria necessário porque o disco atrasou na fábrica e, com o iPod, os jornalistas que iriam entrevistar a cantora poderiam ouvir suas músicas de forma mais prática. Claro.
O ‘mensalinho’ da filha de Elis surtiu o efeito esperado: quase nenhum crítico agraciado ousou fazer comentários negativos sobre o disco (que, aliás, é bem ruim). A maioria escreveu resenhas e perfis chapa-branca – cuja tônica, curiosamente, é que a moça estaria se emancipando da influência materna. A revista IstoÉ publicou que Maria Rita ‘está cantando esplendidamente’. Sua derivada, a IstoÉ Gente, lhe dedicou uma capa. No caso do jornalista da Época, a Warner matou dois coelhos de uma cajadada: ele escreveu uma matéria simpática na revista e outra mais elogiosa ainda na Bravo!, publicada pela Editora Abril, o mesmo grupo de VEJA. Poucos veículos recusaram o jabá da gravadora – foi o caso da Folha de S.Paulo, que devolveu o iPod, e do jornal O Globo, que ficou de fora da festa por não demonstrar interesse numa entrevista com a cantora. Entre o pessoal que não recusou o iPod, foram raras as notas dissonantes. O crítico do Jornal do Brasil esclareceu em sua resenha que recebeu um iPod mas ficou em cima do muro – disse que a cantora tem ‘talento até com repertório pouco inspirado’. O jornalista de O Estado de S. Paulo também ficou no morde-e-assopra – elogiou, mas ponderou que falta à cantora o ‘batismo da sarjeta’. Como disse um ganhador do brinquedinho, a filha da Elis ‘tá iPodendo’.’
Luís Antônio Giron
‘Carta dos Leitores’, copyright Veja, 04/10/05
‘Quero esclarecer que o aparelho i-Pod, enviado aos jornalistas de música dos principais veículos da imprensa, inclusive para mim, colaborador da revista Bravo e editor de Cultura da revista Época, foi devolvido à assessoria de imprensa da cantora Maria Rita, intacto. Meu trabalho como crítico sempre se pautou pela independência e jamais aceitei nenhum tipo de oferta em troca de minha liberdade de opinião. O CD Segundo (Warner) de Maria Rita é de ótima qualidade, e a cantora obteve na imprensa o espaço merecido (veja reportagem na pág. 115). Luís Antônio Giron, São Paulo, SP’
MÁFIA DO APITO
‘Como se manipula um apito’, copyright Blog Coleguinhas, uni-vos, 04/10/05
‘A cobertura das Organizações Globo sobre a máfia do apito está fazendo muito mal à minha paranóia. O jornal e a tevê abraçaram totalmente a tese de que os 11 jogos apitados por Edílson Pereira de Carvalho devem ser jogados de novo. Que o veículo tenha opinião a respeito de qualquer assunto, tudo bem. Bota lá no editorial e estamos conversados. O problema é o ‘jornalismo de tese’, como o que está sendo posto em prática na cobertura da máfia do apito, e que, além disso, deixa nas sombras questões embaraçosas.
Para fazer valer a sua tese, os veículos das Organizações Globo não hesitam em lançar mão da manipulação mais rasteira. Vejamos a matéria principal de hoje do caderno de esportes (os grifos são meus). Ela começa assim:
Edílson Pereira de Carvalho pode não ser apenas uma peça do esquema de manipulação de resultados de jogos do Campeonato Brasileiro. Dados surgidos na investigação conduzida pelo Ministério Público Estadual de São Paulo e pela Polícia Federal indicam que, além de receber pagamento do empresário Nagib Fayad, o Gibão, pela venda de determinadas partidas, o árbitro pode ter adotado um procedimento paralelo para aumentar seus ganhos: apostar dinheiro do próprio bolso em sites clandestinos na internet, beneficiando-se de suas atuações e até mesmo enganando quem o corrompia.
Ou seja, é uma possibilidade, apenas uma conjectura (em princípio, tudo pode, não é mesmo?). Há indícios, não fatos, aspectos concretos.
A matéria prossegue assim:
(…) A possibilidade de o Edílson também se beneficiar das apostas não é descartada – disse o promotor José Reinaldo Guimarães Carneiro, do MP de São Paulo, que ouvirá nos próximos dias o juiz Romildo Correa.
Ainda é uma possibilidade. Segue-se na linha do ‘tudo pode’. Nada concreto, só conjectura.
De repente, no quarto parágrafo…:
A nova denúncia reforça a tendência de anulação dos 11 jogos apitados por Edílson, idéia defendida também pelo presidente da CBF, Ricardo Teixeira.
OPA!!! Denúncia?! Que denúncia?! Quem deu a informação – denúncia é informação, no mínimo informe, sobre algo concreto – de que o Edílson apostava nos jogos? Não foi o promotor que não denunciou nada, apenas não descartou a possibilidade, o que qualquer detetive de tevê faz. Não foi também a PF, nem mesmo em off. O que aconteceu entre o segundo e o quarto parágrafo?
Tem mais. Um colunista diz que não acredita em palavra de ladrão ‘que agora diz que em determinadas partidas, não ‘atuou’. Tudo bem. Só que o Edílson não diz isso agora. Ele disse isso já nas gravações feitas pela PF e publicadas pela Veja. Ou seja, ele não tinha motivos para mentir porque não sabia que estava sendo gravado, não é? Por princípio, o que ele disse nessas ocasiões é a verdade, pois não estava pressionado por ninguém e ignorava que estava sendo flagrado. Isso sei eu e quem mais leu a matéria da Veja, mas e quem não leu, ou leu e esqueceu, como fica? Acreditando que o Edílson montou a história agora para se livrar de penas maiores e que toda as 11 partidas devem mesmo ser anuladas, não é?
Mas o que ganhariam as Organizações Globo com a anulação de todas as partidas? Aí temos que entrar em grandes negócios. Como se sabe a Rede Globo tem a exclusividade para vender o Campeonato Brasileiro em todas as mídias até 2010. As negociações para alguns mercados já estão fechadas, outras em andamento em diversas fases. Ora, que comprador de evento esportivo levaria um produto suspeito de marmelada? Detonar os 11 jogos é necessário para o bom andamento das negociações, mesmo que para isso sejam punidos aqueles times que não só venceram seus jogos limpamente, como o fizeram mesmo contra o juiz. Seria um novo recorde em matéria de injustiça? Seria. Mas e daí? Business are business. Isso é o que importa.
Você acredita que tudo o que apontei é fruto apenas de uma grossa incompetência combinada com uma coincidência capaz de rasgar todos os compêndios já escritos sobre a Teoria das Probablidades?
É. Pode ser. Mas você vai perdoar um pobre paranóico de não concordar com isso, né?’
NOBLAT NO ESTADO.COM
‘Coleguinha’, copyright O Globo, 03/10/05
‘O jornalista Ricardo Noblat está deixando o portal IG. Vai se mudar para o site do jornal ‘O Estado de S. Paulo’.’
NEW YORKER
BRASILEIRAAncelmo Gois
‘Imprensa’, copyright O Globo, 03/10/05
‘Ainda não bateram o martelo. Mas ‘Piauí’ é, por enquanto, o nome da versão tupiniquim da badalada revista ‘New Yorker’, que será editada pelo cineasta boa gente João Moreira Salles.’