‘O cinema americano está mais violento e apresenta mais cenas com linguagem obscena e conteúdo sexual do que em 1992. Essa é a conclusão de um estudo divulgado nesta semana por duas pesquisadoras da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard.
‘Violência, Sexo e Linguagem Obscena nos Filmes: a Correlação das Classificações de Filmes com o Conteúdo’, de Kimberly Thompson e Fumie Yokota, ainda critica o sistema de classificação etária empregado pela Motion Picture Association of America (MPAA). Diferentemente do que acontece no Brasil, nos EUA a censura dos filmes é feita de forma voluntária pela própria indústria cinematográfica.
A pesquisa analisou a classificação de 1.269 filmes feitas pela MPAA entre 1992 e 2003 e concluiu que, ao longo desses 11 anos, os padrões foram afrouxados. Há hoje muito mais violência e sexo em filmes classificados nas categorias PG, PG-13 e R (respectivamente: companhia dos pais sugerida; presença dos pais recomendada junto a menores de 13 anos; admissão de menores de 17 anos somente com a companhia paterna ou do responsável).
Entre as conclusões da pesquisa também está a de que os desenhos animados -como ‘Aladim’, ‘Tom e Jerry’, ‘Procurando Nemo’ e ‘Pokémon’- são mais violentos que os filmes classificados como próprios para crianças -como ‘Babe, o Porquinho Atrapalhado’ e ‘Os Muppets na Ilha do Tesouro’.
‘Pesquisadores deveriam (…) expandir os limitados estudos existentes sobre a capacidade de as crianças distinguirem a realidade da fantasia, reconhecendo que a compreensão de que algo não é real não necessariamente neutraliza efeitos’, sustenta o trabalho.
Além disso, o estudo afirma que, na média, os filmes que receberam classificações PG-13 e R por conter alguma violência têm bilheteria maior do que aqueles não violentos.
As pesquisadoras também afirmam que as classificações são inconsistentes e variam muito de filme para filme. ‘A MPAA deveria desenvolver critérios mais claros para o conteúdo e comunicá-los aos pais. Gostaria de ver a indústria criar um sistema de avaliação universal de mídia, que valesse para filmes, videogames e televisão’, diz Kimberly Thompson.
O estudo propõe que a MPAA deveria examinar a possibilidade de incorporar a seus critérios de classificação a notificação da presença de fumo, álcool e drogas. Mencionando dados coletados em uma outra pesquisa, Thompson e Yokota afirmam que em apenas 5% dos filmes não aparecem ou não há referências a cigarros, álcool ou drogas.
‘A sociedade mudou’
‘Ao longo dos anos, a comissão tenta acompanhar o nível de aceitação nos EUA. A sociedade mudou nos últimos 11, 15 anos? A resposta é: claro que sim. Pesquisa recente mostra que 76% dos pais acham o sistema ‘muito útil’ a ‘razoavelmente útil´‘, rebate Phuong Yokitis, diretora de relações públicas da MPAA.
Jon Lewis, professor da Universidade Oregon State e autor de vários livros sobre cinema, incluindo ‘Hollywood Vs. Hard Core: How the Struggle over Censorship Created the Modern Film Industry’ (Hollywood contra o pornô: como a luta sobre a censura criou a moderna indústria do cinema), tem a mesma opinião.
‘O sistema de classificação foi projetado em 1968 para ser flexível e responder às mudanças na cultura popular americana. Considerando tudo o que jovens de 13 anos ouvem na música pop e vêem na TV, o que é considerado adequado para adolescentes mudou nos últimos tempos e talvez as classificações tenham levado isso em conta’, diz Lewis.’
ATRÁS DAS GRADES
‘Apresentadora é condenada à prisão nos EUA’, copyright Folha de S.Paulo, 17/7/04
‘Celebridade nos EUA, a apresentadora Martha Stewart, que transformou uma empresa de bufês em um império da mídia, foi condenada ontem a cinco meses de prisão e a outros cinco em prisão domiciliar por mentir para investigadores federais sobre uma venda de ações suspeita. Seu ex-corretor, Peter Bacanovic, recebeu a mesma sentença.
Stewart, 62, havia sido considerada culpada em março das acusações de conspiração, falso testemunho e obstrução de Justiça. Ontem, uma corte federal de Nova York definiu a pena, segundo a qual ela ficará ainda em liberdade vigiada por dois anos e terá que pagar US$ 30 mil de multa. Durante a prisão domiciliar, Stewart deverá usar um bracelete de monitoramento eletrônico.
Os advogados da apresentadora afirmaram que vão recorrer, e ela poderá ficar em liberdade até que a apelação seja julgada.
‘Estou acostumada a todos os tipos de trabalho duro, como vocês sabem, e não tenho medo. Não tenho medo do que quer que aconteça’, disse a empresária.
Stewart tornou-se famosa por seus programas de culinária e decoração na TV americana. Ela alcançou sucesso também como uma bem-sucedida investidora, que arrastou o dinheiro de seus telespectadores para empresas que criou na Bolsa de Nova York.
O caso contra a apresentadora começou devido a suspeitas sobre a venda de ações da empresa de biotecnologia ImClone Systems, em dezembro de 2001.
Promotores disseram que a venda ocorreu depois que o corretor de Stewart, Bacanovic, mandou um assistente dar uma dica à empresária. De acordo com essa dica, o fundador da ImClone, Sam Waksal, estava vendendo as ações que tinha de sua empresa, ciente de que autoridades estavam prestes a rejeitar uma droga da companhia para o câncer.
Stewart e Bacanovic negaram o uso de informação privilegiada e disseram que eles já haviam combinado previamente que venderiam a ação quando a cotação ficasse abaixo do nível de US$ 60. Mas, durante o julgamento, o ex-assistente do corretor confirmou que recebera ordem de Bacanovic para passar a informação.
Apelo popular
‘Acredito que você já tenha sofrido, e continuará a sofrer, o suficiente’, disse a juíza Miriam Cedarbaum ao anunciar a sentença. Ao justificar a opção pela pena mínima, disse que Stewart não tinha antecedente criminal e que o interesse público já fora atendido.
‘Hoje é um dia vergonhoso’, disse a apresentadora à juíza, declaração que repetiu do lado de fora da corte em Nova York. Ela classificou a investigação como ‘um pequeno problema pessoal’ que se transformou em ‘um quase fatal evento circense de proporções sem precedente’.
A juíza disse ter recebido mais de 1.500 cartas de apoio a Stewart durante o processo. ‘É evidente que você tem ajudado muitas pessoas de fora de sua família’, afirmou à empresária. Estima-se que um site criado para apoiá-la tenha coletado 15 mil assinaturas para uma petição a ser enviada ao presidente George W. Bush. (Com agências internacionais e o ‘New York Times’)’
SETOR ENFRAQUECIDO
‘Modelo de televisão brasileira está esgotado’, copyright Folha de S. Paulo, 14/07/04
‘No último dia 6 de julho, uma comissão representando os participantes do Seminário de Valorização da Produção Cultural Brasileira, promovido pela Rede Globo, na PUC-SP, entregou, nas mãos do presidente Lula, um documento contendo conclusões dos debates.
O texto, de cerca de 20 laudas, discute temas de enorme relevância para o país. Os signatários, em sua maioria profissionais da emissora e cineastas, mas também funcionários governamentais, clamam por medidas que defendam a produção nacional da concorrência estrangeira, que impeçam empresas de telefonia de produzir e difundir conteúdos, que regulamentem a internet, que tomem logo as decisões necessárias à implantação da TV digital, entre outras propostas.
É comum que empresas de telecomunicação se manifestem contra medidas regulatórias. A intenção de diversos governos de introduzir mecanismos de controle de qualidade, classificações de horário, quotas de programação nacional, regional ou de produção independente, é, em geral, rechaçada pelas emissoras de TV como ingerência externa e indevida.
Nesse sentido, parece salutar e sintomático que um documento que não representa a Rede Globo, mas está certamente em sintonia com os anseios da emissora, reconheça justamente a necessidade de regulamentar o setor.
Desde o início desse governo, fala-se em ajuda governamental às empresas de comunicação. A dificuldade tem sido definir formas aceitáveis de investimento público. Divergências entre as emissoras são fator complicador.
O setor, especialmente a emissora líder, continua carente. Enquanto não equaciona o problema, o governo improvisa, injetando recursos via merchandising de estatais, como a Petrobras, em novela. A ocasião é especialmente propícia para que se repense a estrutura da TV brasileira. O modelo em vigor -inspirado na Hollywood dos anos 40 e adequado aos anos de autoritarismo- está esgotado.
A complexidade do problema é enorme. Os interesses em jogo também. O setor cultural é estratégico e merece crédito. Cabe ao governo aproveitar o momento privilegiado para negociar medidas de desconcentração que prezem e estimulem a criatividade que celebrizou a TV brasileira aqui e no mundo.’
DATANEXUS
‘Sem SBT, Datanexus deve fechar as portas’, copyright Folha de S. Paulo, 14/07/04
‘O Datanexus, instituto de medição de audiência lançado oficialmente há seis meses, deverá fechar suas portas no fim de julho.
A empresa foi criada há um ano graças a um investimento de R$ 4 milhões feito por Silvio Santos. Até hoje, o SBT continuava como seu único cliente, pagando R$ 160 mil por mês pelas pesquisas, segundo Carlos Novaes, diretor presidente do Datanexus. O contrato venceu no último dia 30 e não será renovado. A emissora só garantirá as despesas até o final do mês.
Novaes disse à Folha que o Datanexus só não fechará se o SBT voltar atrás ou se outras emissoras decidirem comprar suas pesquisas, com um custo mensal em torno de R$ 50 mil. O SBT informa oficialmente que não mudará sua decisão. E as outras redes, segundo a Folha apurou, não pretendem assinar com o instituto.
Novaes afirma que teve reunião com a direção da Band, Rede TV! e Record, mas não conseguiu vender suas pesquisas. ‘Essa decisão das emissoras é muito mais política do que financeira’, diz.
Para ele, o mercado está acomodado com a situação de monopólio do Ibope, único a medir audiência de televisão no Brasil desde 1954. ‘Alguns de nossos resultados são diferentes dos do Ibope, e o mercado não está disposto a, ao menos, debater as diferenças.’
No Datanexus, a Globo chega a ter de oito a dez pontos percentuais a menos do que no Ibope. SBT e Cultura (da qual Novaes já foi consultor) apresentam mais audiência no Datanexus.
‘É uma ironia que justo as duas emissoras com as quais tenho ligação apresentem mais audiência no Datanexus. Isso não é um problema, porque meu trabalho é sério, e o mercado sabe disso.’
As diferenças de resultado, segundo Novaes, se explicam em razão das distintas metodologias aplicadas pelos dois institutos.
Dora Câmara, diretora comercial do Ibope Mídia, diz que o monopólio na medição de audiência é uma opção do próprio mercado.
‘Essa não é a primeira vez que algum instituto tenta concorrer com o Ibope, mas o mercado já demonstrou não ter fôlego para manter duas medições de audiência. Isso é uma tendência também em outros países’, afirma.
Segundo ela, o monopólio não parece ser um problema para as emissoras. ‘Nossa relação é muito profissional. Desde 1998, as redes de TV e agências de publicidade fazem auditorias regulares no Ibope’, afirma Câmara.
O SBT também continua como cliente do Ibope.’