Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas. ************ O Estado de S. Paulo
Segunda-feira, 27 de fevereiro de 2006
INTERNET
O colapso da Wikipedia na China
‘The Washington Post, Pequim – Quando o acesso à Wikipedia, uma enciclopédia online que qualquer pessoa pode editar, foi impedido em toda a China, em outubro último, um engenheiro químico chamado Shi Zhao telefonou para seu provedor de internet para reclamar. Um técnico confirmou o que Shi já desconfiava – alguém do governo tinha ordenado o bloqueio do site novamente.
Quem fizera isso e por que era um mistério, mas o técnico prometeu enviar a reclamação para esferas superiores se ele as manifestasse por escrito.
‘A Wikipedia não é um site na web para disseminar um discurso reacionário nem é um site de puro comentário político’, escreveu Shi, de 33 anos, alguns dias depois. Sim, continha verbetes sobre assuntos melindrosos como Taiwan e o Massacre da Praça da Paz Celestial, em 1989, mas os usuários se certificaram de que seus artigos eram objetivos, disse ele, e bloqueá-lo somente serviria para tornar mais difícil ao povo chinês apagar conteúdo’danoso’.
Shi teve esperança de que o governo concordasse. Quando o site foi bloqueado, em 2004, ele enviou uma carta semelhante, e o acesso foi rapidamente restaurado. Desde então, a edição em língua chinesa da Wikipedia cresceu, ampliando seu interesse para as pessoas não só como ferramenta de consulta, mas também como fórum onde gente de toda a China e da diáspora chinesa podia se reunir, compartilhar conhecimentos e discutir até assuntos que causavam mais divisão.
Mas hoje, passados quatro meses da carta de Shi, a Wikipedia continua bloqueada.
O governo tem se recusado a explicar suas atitudes. Mas suas tentativas de permitir e impedir acesso ao site trazem à luz a profunda ambivalência do Partido Comunista em relação à internet. O partido parece ao mesmo tempo determinado a não ser deixado para trás na revolução global da informação, mas teme ser atropelado por ela.
A princípio, as autoridades toleraram a Wikipedia, talvez porque lhes tenha parecido exatamente o que partido tinha em mente quando começou a promover a internet, há 11 anos – um recurso educacional que poderia ajudar a China a diminuir sua diferença tecnológica em relação ao Ocidente, incentivar a inovação e impulsionar o crescimento econômico.
Porém, à medida que a Wikipedia florescia, aparentemente as autoridades passaram a encará-la como mais uma ameaça ao controle da informação pelo partido.
Com 111 milhões de pessoas online e mais 20 mil se integrando diariamente, a paisagem do ciberespaço chinês lembra um vasto ajuntamento de comunidades novas superpostas.
Há estudos que indicam que esta interação digital está mudando a estrutura tradicional da sociedade chinesa, fortalecendo as relações entre amigos, colegas e outras redes fora da família. Num levantamento multinacional, foi muito maior a porcentagem de usuários chineses da internet em relação a qualquer outro lugar que disseram que a comunicação online intensificou seu contato com pessoas que compartilhavam dos mesmos hobbies, profissões e opiniões políticas.
O Partido Comunista policia essas comunidades emergentes na internet com censores e agentes secretos e mantém um site na web que diz ter recebido no ano passado quase 250 mil denúncias anônimas sobre ‘informações prejudiciais’ online. Porém os métodos que o partido utiliza para controlar o discurso e o comportamento no mundo real se mostram menos eficazes no ciberespaço, onde o governo freqüentemente está um passo atrás das pessoas.
E as pessoas aprenderam a trabalhar juntas para escrever uma enciclopédia. ‘A Wikipedia é especial porque outros lugares não têm esse tipo de discussão, ao menos não uma discussão tão intelectual. É um local onde pessoas com antecedentes diferentes interagem’, disse Shi, um prolífico contribuinte para a Wikipedia chinesa.’Mas essa nem era a nossa meta. Nossa meta era apenas produzir uma enciclopédia.’
Criado por voluntários que escrevem e editam artigos num processo colaborativo, a Wikipedia é o maior site de consulta da web e se orgulha de ter edições em mais de 200 línguas.
A edição chinesa, lançada em maio de 2001, ficou vazia durante mais de um ano até que Michael Yuan, um aluno de matemática da Universidade de Pequim, tropeçou nela numa busca no Google. Yuan disse ter ficado encantado com a edição em inglês e viu nela um ‘lugar interessante para estudar, manter discussões e compartilhar o prazer de aprender e escrever’. Quando observou que o site chinês estava vazio, se dispôs a construí-lo.
Em 30 de outubro de 2002, Yuan criou o primeiro verbete, uma definição de matemática numa única frase. Logo Sheng Jiong, um estudante de direito em Cingapura nascido em Xangai, juntou-se a ele e escreveu sobre a ‘República Popular da China’.
No início, a edição chinesa era repleta de ciência e tecnologia. Mas, à medida que os meses iam passando, gente do mundo inteiro começou a postar artigos sobre uma variedade de assuntos, incluindo vinhos, carros, história e política.
No início de 2004, jornais controlados pelo Estado começaram a escrever artigos positivos sobre a Wikipedia chinesa e essa cobertura inflou ainda mais seu crescimento. Em fevereiro, mais de 3 mil pessoas tinham se registrado como usuários e havia mais de 5 mil verbetes. Em abril, o site estava recebendo quase 100 mil consultas por dia. Em maio, o número de definições estava em 10 mil.
Então, em 3 de junho de 2004, as pessoas na China que tentaram visitar a Wikipedia se depararam com uma página de erro. O governo tinha bloqueado o site na véspera do 15º aniversário do Massacre da Praça da Paz Celestial.
O verbete sobre o ‘Incidente de 4 de Junho’, o do massacre da Praça da Paz Celestial, na Wikipedia chinesa tem quase 20 páginas, mas quando apareceu pela primeira vez, em setembro de 2003, tinha apenas 3 frases. Postado por um usuário não identificado, dizia que os soldados assumiram o controle da Praça da Paz Celestial porque tinha se convertido num ‘campo-base de várias forças hostis’. O verbete não mencionava nenhuma morte nem as exigências por democracia por parte dos estudantes que estavam se manifestando.
Dois meses depois, as pessoas começaram a editar o artigo, inserindo uma frase sobre o movimento a favor da democracia e mencionando que ‘muitos habitantes da cidade’ tinham sido mortos. Mas a comunidade do Wikipedia parecia hesitante. Umas poucas pessoas tentaram quebrar o silêncio, acrescentando milhares de palavras de uma só vez. Mas outras as apagaram imediatamente.
Então, quatro meses antes que o acesso à Wikipedia fosse impedido, Sheng postou uma mensagem dizendo que planejava reformular o verbete.
Gradualmente, começou a escrever um relato mais detalhado e objetivo, postando-o parte por parte, começando com a cronologia das manifestações e deixando o assunto mais melindroso do massacre para mais tarde. As alterações desencadearam um debate mesmo antes que Sheng terminasse o projeto. Um outro usuário atacou o artigo como sendo tendencioso, argumentando que os estrangeiros tinham usado os estudantes da Praça da Paz Celestial para subverter o governo chinês. Outros insistiram para que houvesse precaução por causa da sensibilidade política ligada ao assunto.
Shi Zhao, o engenheiro químico e participante freqüente, fez objeções ao uso da famosa foto que mostra um estudante sozinho fazendo parar uma coluna de tanques. Mas depois que o site foi bloqueado, Shi, que se descreve como um defensor do Partido Comunista, esteve entre os primeiros a telefonar para seu provedor de internet para reclamar. Depois, sem qualquer explicação, o governo restituiu o acesso ao site.
A interrupção por 19 dias provocou a queda no uso da Wikipedia chinesa e resultou em aflição por parte da comunidade que a construiu. Mas, em vez de retroceder, o site atraiu mais usuários. Gradualmente, foi-se consolidando uma comunidade fora da esfera de ação do partido, uma comunidade que estava aprendendo a resolver suas próprias disputas, que cruzava fronteiras e tolerava aqueles que contradiziam as opiniões do partido e que começou a organizar encontros no mundo real assim como no virtual.
Isso deve ter sido perturbador para membros do partido, que há muito queriam dominar toda a atividade social organizada na China. Em setembro de 2004, o governo obstruiu o acesso à Wikipedia mais uma vez.
A segunda obstrução durou apenas quatro dias. Então, por mais de um ano, a Wikipedia operou livre de qualquer interferência do governo. A enciclopédia floresceu, superando a marca de 40 mil verbetes em setembro, e a comunidade prosperou, ficando cada vez mais estável e madura. Os usuários continuaram a discutir e escrever sobre assuntos melindrosos, diversificando para assuntos da atualidade, mas o rancor nos debates pareceu abrandar.
Portanto a mais recente decisão do governo de bloquear a Wikipedia foi uma profunda decepção. Shi Zhao apresentou um outro apelo. ‘Tal atitude não é diferente de cortar fora nossas línguas e tampar nossos olhos e ouvidos. É fechar e trancar o país na era da internet.’
À medida que o tempo passou, muitos concluíram que a Wikipedia havia sido bloqueada para sempre, mas os usuários devotados estão encontrando formas de acessá-la.’
Pedro Doria
Na China, faça como os chineses
‘Zhao Jing tem 30 anos, vive na capital chinesa – Pequim – e tem um bom emprego numa multinacional. Ele é jornalista: trabalha no New York Times. Na verdade, não assina reportagens. Está lá para ajudar como intérprete, faz apuração, pesquisa – é como uma rede de apoio dos repórteres norte-americanos.
De noite, em casa, computador ligado e blog hospedado no MSN da Microsoft, é que Jing vira repórter, escrevendo em mandarim.
Ou virava – não mais. Ficou tão popular que começou a incomodar o governo chinês. Pediram à trupe de Bill Gates que o tirassem do ar. Os engenheiros nem piscaram, só obedeceram.
A relação das grandes empresas de internet com o governo chinês está começando a incomodar um bocado de gente em Washington. É que Yahoo! e Google censuram seu conteúdo em mandarim conforme os pedidos do governo, e a Microsoft tira blogs do ar. Estão fazendo o jogo da ditadura.
Não só elas: a Cisco, que fabrica roteadores – a máquina que, literalmente, faz o roteamento da rede, encaminhando cada pacote de informação para onde deve – também ajuda a filtrar o que pode ser visto ou não de um computador na China.
Este mês, as quatro estiveram perante o Comitê de Relações Internacionais do Congresso dos EUA. Elas apresentam um argumento que, no bojo final, é bastante simples. É verdade que censuram, mas de certa forma não têm escolha que não obedecer as leis de cada país em que atuam – agem, portanto, qual romanos em Roma.
A justificativa das empresas tem um desdobramento. Elas dominam boa parte da tecnologia que põe a internet no ar – o que é parcialmente verdade.
A China vai melhor com internet, mesmo que limitada, do que sem rede alguma. Bem ou mal, está lá uma ferramenta de comunicação que ainda assim é potencialmente revolucionária.
Talvez pareça tudo um bocado razoável – mas não é. Em meados de 2004, agentes policiais cercaram num beco o repórter Shi Tao, 37 anos, o prenderam. Ele foi condenado a 10 anos de prisão por revelar segredos de Estado. Dias antes do julgamento, coincidentemente, seu advogado foi posto em prisão domiciliar.
Shi Tao era editor no Dangai Shang Bao – Jornal do Comércio Contemporâneo – e publicou em seu blog anônimo um alerta que todas as redações do país receberam do governo central. Avisava para que tomassem cuidado com o aniversário de quinze anos do massacre da Praça da Paz Celestial que se aproximava. Afinal, uma entrevista com qualquer dissidente poderia causar perturbações públicas. Cabia não provocar.
No blog, ele se assinava 198964. Não havia como identificá-lo – ou quase. Os executivos da Yahoo!, que hospedavam sua conta, poderiam entregar sua identidade se o quisessem. Pequim pediu, Yahoo! entregou. Talvez mais incômodo seja o fato de que Jerry Yang, um dos fundadores do primeiro site de buscas da internet, é de origem chinesa.
Qual o limite para obedecer as leis de um país? Um senador norte-americano, ironizando o argumento das empresas, disse: é mais ou menos como se Anne Frank ao invés de um diário, escrevesse um blog e o Yahoo! a entregasse ao Terceiro Reich.
Talvez não seja tanto – o governo chinês já passou dos tempos maoístas e não parece estar engajado em genocídio. É só uma ditadura ordinária com muita mão de obra barata para oferecer à fúria do capitalismo internacional. Mão de obra barata, aliás, e uma classe média de milhões de consumidores que não têm o direito de dizer o que lhes passa na cabeça mas compram insaciavelmente.
Fim de fevereiro de 2006, pois, e o governo do País do Centro – é assim que se traduz a palavra que usam para China em mandarim – já anunciou que começará a investigar mais pesadamente os SMSs (mensagens de texto) que os pobres cidadãos trocam entre si pelos celulares. Nada é sagrado.
Google, Yahoo!, Cisco e Microsoft tentam apresentar seu problema como um dilema ético. Saem e deixam a China sem internet ou ficam, cedendo à ditadura, mas ao menos oferecendo alguma participação na rede.
É um não-dilema. Com software livre e computadores que a China fabrica às toneladas, põe-se a internet no ar sem a necessidade de qualquer estrangeiro. E a turma do software livre, enquanto as grandes enchem-se de dinheiro, se preocupa em contrabandear programinhas que, usados de dentro, podem driblar os filtros que a ganância e a ditadura, bem casadas, impõem.’
U2 NO BRASIL
Stuck in a moment
‘Terça-feira passada, quando saía de casa para ver o show do U2, vi um isqueiro em cima da mesa e resolvi levá-lo. Eu parei de fumar há anos. Mas pensei em usar o bichinho no estádio para acender junto com a multidão quando as luzes do palco se apagassem, na hora de uma balada mais lenta ou no final da apresentação, para pedir o bis.
Há anos eu não ia a um show desses. E, semana passada, tirei a barriga da miséria: fui ao Rio ver os Stones e ao Morumbi para curtir o U2. Mas em Copacabana, com a luz da rua, dos prédios e dos refletores, não rolou essa coisa de milhares de isqueiros piscando na escuridão.
Essa é uma praxe acadêmica para nós, velhos fãs do rock’n’roll. Uma maneira de participar do show e se integrar na multidão. Como as ‘olas’ das torcidas nos jogos de futebol. Assim, enfiei o isqueiro no bolso e me mandei para o Morumbi.
Macaco velho, fui para o estádio de moto e cheguei em cima da hora do show. Não enfrentei trânsito nem filas. Entrei em campo junto com o U2 . O show estava um arraso.
Lá pelas tantas, as luzes do palco e dos refletores finalmente se apagaram. Eu já ia metendo a mão no bolso para pegar meu isqueiro quando a multidão, a pedido do Bono Vox, começou a acender e piscar sabe o quê? Os celulares!
Resmunguei intimamente com mais essa novidade eletrônica. Mas tive de reconhecer que o efeito visual foi arrasador. Aquelas dezenas de milhares de luzinhas azuladas, balançando na escuridão, davam um ar mágico ao estádio. Essa moda chegou para ficar.
Resolvi entrar no fluxo, já que esse é o barato de participar dessas grandes aglomerações. Peguei meu celular, liguei e comecei a balançar o aparelho em sincronia com a multidão.
Foi inevitável me sentir meio sucateado. Depois de aposentar o LP, o cassete e o CD, chegou a hora de aposentar o isqueiro em show de rock. Logo logo será a minha vez. Malditos celulares, pensava eu.
Foi quando Bono puxou para a pista a fã gaúcha Desirê Thomé Pedroso, repetindo o que tinha feito na noite anterior com a fluminense Katilce Miranda. No dia seguinte, vários jornais e blogs comentavam a presença de espírito da Desirê, que falou seu nome para o Bono e acabou ganhando uma versão da música Desire, que nem estava no programa do show, só para ela.
Mas, na minha opinião, a Desirê deu bobeira. E acho que o Bono pensou a mesma coisa. Afinal a moça subiu lá, ficou abraçada com o ídolo, ganhou uma música em sua homenagem, mas sabe o que ficou tentando fazer? Tirar uma foto dela e do Bono com seu celular!
Enquanto via a Desirê lá em cima do palco, mais preocupada com seu telefone do que com o Bono, lembrei daqueles turistas que a gente vê em diversos cantos do planeta, que parecem mais interessados em tirar uma foto do que em curtir sua presença num local.
Bono resolveu ajudar, e até posou para a foto. Mas mesmo depois disso, Desirê continuou teimando em tirar outras. Até que ele tomou gentilmente o celular das mãos dela, como quem diz: ‘Acorda minha nêga, you’ve got stuck in a moment and now you can’t get out of it’ (título de uma música do grupo, que significa algo como ‘você paralisou num momento e agora não consegue sair disso’).’
Desirê, que revelou depois sonhar em ser atriz, desceu do palco para desfrutar seus 15 minutos de fama. Provavelmente pensando se aconteceria com ela o mesmo que rolou com a bancária Katilce. Aquela que, depois de dar um selinho na boca de Bono Vox na segunda-feira à noite, causou um verdadeiro furacão no Orkut.
A página de Katilce talvez tenha sido a que recebeu maior número de visitas no menor espaço de tempo na história dessa comunidade online. Em 48 horas foram colocados lá 939.267 recados. Uma barbaridade. Vários grupos também foram dedicados a ela, como ‘Eu vi Katilce beijar Bono’ ou ‘Quero ver Katilce no Jô Soares’.
O número do celular de Katilce aparecia numa mensagem colocada no Orkut. Alguém descobriu, espalhou, e por causa da enxurrada de ligações que se seguiu, o aparelho foi entregue a uma amiga, que virou uma espécie de relações-públicas, filtrando as chamadas. Os jornalistas que tentavam contato com Katilce eram encaminhados para outro celular, que a família adquiriu só para negociar o cachê de suas entrevistas.
No lugar de Desirê, acho que eu não tentaria ficar tirando fotos em cima do palco. Mas talvez ela seja mais esperta do que eu. A tal foto que ela tirou com Bono, que aparece aqui nesta coluna, está sendo comercializada para todos os jornais e revistas interessados através do FotoRepórter, o programa de jornalismo cidadão do Grupo Estado. Definitivamente, este mundo está mudando mais rápido do que eu e meu velho isqueiro conseguimos acompanhar.’
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Universidades atraem doações em troca de propaganda
‘As salas de aula do novo campus do Ibmec São Paulo, inaugurado há menos de um mês na Vila Olímpia, se chamam Walter Moreira Salles, Roberto Simonsen, Olavo Setúbal, José Ermírio de Moraes. Os nomes lembram as empresas cujas doações serviram para construir cada uma delas. É a tática que mais tem funcionado entre instituições de ensino superior que querem sensibilizar doadores: oferecer destino certo e preestabelecido para as gordas quantias – com direito a homenagens nominais ou mesmo propaganda dos benfeitores.
Dos R$ 15 milhões investidos pelo Ibmec na construção da moderna unidade de 10 mil metros quadrados, R$ 10 milhões foram angariados com empresas. Para o fundo de bolsas de estudo da instituição a quantia arrecadada foi menor: R$ 2 milhões. ‘É preciso emocionar o doador, mostrando o impacto na sociedade que nosso projeto terá. Além disso, as pessoas gostam de ser homenageadas’, diz o diretor presidente Cláudio Haddad, maior responsável por convencer 50 doadores e conseguir o invejável montante. Os R$ 12 milhões do Ibmec representam quase 70% do que o governo estadual destinou neste ano para o novo campus da Universidade de São Paulo (USP) na zona leste.
MERCHANDISING
Uma das pioneiras nesse trabalho, a Fundação Getulio Vargas (FGV) hoje tem até uma espécie de programa de milhagens para os doadores. Conforme o valor oferecido, acumulam-se pontos que valem prêmios para empresas. Entre os prêmios estão a permissão para fazer ação promocional dentro da escola ou para que seus funcionários usufruam da biblioteca da instituição. Trinta e cinco salas de aula das 58 da FGV são patrocinadas atualmente. ‘O dinheiro da mensalidade paga os profissionais’, explica a coordenadora da Assessoria de Desenvolvimento Institucional da FGV, Zilla Bendit. O estudante paga em torno de R$ 1.700 de mensalidade à escola.
Lá, a empresa precisa bancar a manutenção das salas, além da equipá-las com cadeiras, mesas, computador e ar-condicionado.
O merchandising é liberado. Na sala da companhia aérea Gol, as cadeiras são laranja, cor símbolo da empresa. Ao lado, há a sala patrocinada pela Dow Química, decorada em vermelho. Zilla não acredita que haja conflito entre a propaganda e o ambiente acadêmico, mas já recusou uma sala de aula à Souza Cruz, fabricante de cigarros. ‘Cigarro é um pouco demais, mas já tivemos um espaço Bohemia (marca de cerveja), para professores’, conta.
‘Ligar o nome da empresa a uma instituição de referência é um grande mecanismo de marketing institucional’, diz Damião Paes, assessor da presidência da Fundação Dom Cabral, especializada em formação de executivos. Para iniciar, recentemente, a construção de um prédio, a instituição vendeu 33 cotas de patrocínio a empresas, que ganharão em troca prioridade no uso do conhecimento obtido a partir das futuras pesquisas feitas na nova instalação.
APROXIMAÇÃO
O professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e ex-presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC), Abílio Baeta Neves, não vê problemas na ligação das empresas com instituições de ensino superior. ‘Nos Estados Unidos isso é muito comum. É preciso desenvolver essa cultura aqui. Muitas vezes o orçamento da instituição não é suficiente para manter uma boa estrutura’, diz. Neste mês, a Universidade de Harvard anunciou ter arrecadado US$ 600 milhões numa campanha de capitalização. O dinheiro será usado em assistência a estudantes e estrutura dos centros de pesquisa.
A parceria com empresas em universidades públicas algumas vezes ocorre por meio de fundações montadas pelos professores para fugir da burocracia estatal. Na USP, a oferta de serviços – como cursos de MBA, pagos, para empresas ou consultorias – alimenta um acirrado debate há anos. De um lado estão os que acreditam que a iniciativa descaracteriza a instituição pública e de outro, os que dizem que o dinheiro privado é essencial para a sua manutenção.
A universidade também tem exemplos de investimento particular na sua estrutura. A Escola Politécnica inaugurou em 2005 duas modernas salas de aula para os alunos do primeiro ano, com a ajuda de empresas de ar-condicionado, construção civil e automação. A tecnologia de última geração instalada na sala, com isolamento acústico, conforto térmico e portas automáticas, será usada também para pesquisas de pós-graduação da Poli. ‘É importante aproximar dessa maneira a academia do setor produtivo’, diz a coordenadora do projeto de instalação das novas salas, Brenda Coelho Leite.’
Carlos Franco
‘Prova de Amor’ põe Record na rota dos grandes anunciantes
‘Os grandes anunciantes do País estão atentos ao sucesso da TV Record com sua novela das 19h15, que tem roubado audiência das concorrentes, a ponto de a emissora do bispo Edir Macedo ter conseguido a vice-liderança, antes em poder da rede de Silvio Santos, no horário das 19 horas às 21 horas. Na última terça-feira, por exemplo, o Ibope indicava que Prova de Amor obteve 22 pontos de pico, 18 de média e 27% de mercado – aparelhos ligados – no horário das 19h26 às 20h27, enquanto a TV Globo exibia 30 pontos, o SBT, 8, e a Band, 3.
Tanto sucesso fez com que a TV Record dobrasse o preço cobrado por 30 segundos no intervalo de Prova de Amor. Hilton Madeira, diretor de Marketing da TV Record, relembra que, em outubro, quando a rede estreou a sua primeira novela contemporânea – as anteriores nesse horário de 19h15 foram Escrava Isaura e Essas Mulheres – , o espaço de 30 segundos no intervalo era vendido a R$ 70,6 mil. Hoje, esse mesmo intervalo custa R$ 167,4 mil pela tabela, sem levar em conta as políticas de descontos para grandes anunciantes.
A diferença é que, agora, essa grade, que concorre diretamente com a novela Bang Bang, da Rede Globo, é procurada por grandes anunciantes. Madeira cita Nestlé, Unilever, Kimberly-Clark, Casas Bahia e, pela primeira vez na TV Record, a Reckitt, dona de produtos como o multiuso Veja e o depilador Veet além de Bom Ar e Poliflor. ‘Para nós, foi uma surpresa, o ingresso na grade de anunciantes que antes não consideravam o nosso espaço.’
E a TV Record gostou dessa surpresa e vai tentar bisá-la em novo horário com Cidadão Brasileiro, que irá inaugurar a sua programação das 20h30, concorrendo diretamente com o Jornal Nacional e a novela , da Globo. Madeira diz que, para esta novela, de Lauro César Muniz, que terá entre os destaques Cleide Yáconis, Karina Bacchi, Lucélia Santos, Etty Fraser, Gabriel Braga Nunes e Taumaturgo Ferreira, a emissora já conseguiu vender duas cotas das quatro criadas. Uma ficou com a Unilever e outra com a Avon.
ESTRÉIA
A novela Prova de Amor também inaugurou a receita de merchandising da emissora, por meio de contrato com a Bombril, que promoveu o amaciante de roupas Mon Bijou na trama de Tiago Santiago dirigida por Alexandre Avancini e protagonizada por Marcelo Serrado e Lavínia Vlasak.
O merchandising, aliás, é um dos grandes desafios do concorrente SBT, que vai iniciar as gravações de uma nova novela, Cristal, onde possa contar com atores locais e inserções comerciais. Hoje, a emissora de Silvio Santos importa novelas mexicanas, que têm custo baixo, mas não abrem espaço na mídia, os atores são desconhecidos e não há receita de merchandising. Em Belíssima, a Lycra tem roubado a cena com a exibição da marca. É uma receita adicional e que acaba motivando novos anúncios.
A fome da TV Record é tanta, depois da escalada de Prova de Amor em cima de Bang Bang, que Cidadão Brasileiro irá sortear, nos primeiros 15 capítulos, 15 carros Fiat Uno, um por dia para quem acompanhar a novela, mais uma casa. ‘Estamos apostando que será um novo sucesso’, diz Madeira.
Presidente do Grupo de Mídia de São Paulo e diretor da agência Talent, Paulo Stephan, tem dúvidas quanto ao sucesso da emissora do bispo Macedo. ‘Já ocorreram no passado sucessos pontuais, como Pantanal, da extinta TV Manchete ou a Casa dos Artistas, no SBT, mas eles não conseguiram transferir a audiência que conquistaram para planos de continuidade das emissoras. É preciso esperar para ver.’
Stephan reconhece, porém, que, de qualquer forma, é inequívoco o sucesso de Prova de Amor, mas o atribui também à derrapada da TV Globo com Bang Bang, que acabou se transformando num tiro no pé da emissora que sempre manteve inúmeros pontos de distância dos concorrentes. A TV Record, garante Madeira, está com disposição de brigar por audiência. Prova de Amor fica no ar até junho.’
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Folha de S. Paulo
Segunda-feira, 27 de fevereiro de 2006
POLÍTICA CULTURAL
Nova lei pode subir preço de filme nacional
‘O ingresso de cinema no Brasil será mais barato para filmes de Hollywood do que para produções nacionais, se o Congresso aprovar modificação na lei de direito autoral proposta pelo senador Marcelo Crivella (PMR-RJ).
O alerta foi feito ao Senado pelo presidente da Ancine (Agência Nacional do Cinema), Gustavo Dahl. ‘Eu me manifestei contra a emenda, porque ela faz uma distinção entre o filme brasileiro e o estrangeiro que não tem cabimento, na medida em que irá encarecer para o público o preço do filme nacional’, afirma Dahl.
Fazer o ingresso do filme brasileiro pesar mais no bolso do espectador não era exatamente a intenção do senador Crivella. Esse será (se a emenda for aprovada) o efeito colateral de uma disputa que opõe exibidores e músicos, em torno da cobrança de direitos autorais das trilhas sonoras de filmes exibidos nos cinemas.
Crivella colocou-se do lado dos músicos. ‘Minha preocupação é com eles. Os artistas precisam estar bem para compor lindas canções e embalar a alma do povo brasileiro nesse momento de crise’, afirma o senador.
A emenda de Crivella é uma reviravolta num projeto de lei favorável aos exibidores, o 532, apresentado em 2003 pelos senadores Paulo Octávio (PFL-DF) e João Capiberibe (PSB-AP) -cujo mandato foi cassado em 2004, sob acusação de compra de votos.
O projeto retira definitivamente das mãos dos donos de cinema uma conta da qual há anos eles tentam se livrar. Segundo a lei de direitos autorais brasileira, os donos de cinemas devem pagar os direitos autorais aos titulares das trilhas dos filmes que exibem.
A cobrança é feita pelo Ecad (Escritório Central de Arrecadação de Direitos), que estabelece em 2,5% do faturamento das salas o montante do direito dos autores da trilha. Aí começa a briga.
‘Esse valor é abusivo e arbitrário’, afirma Valmir Fernandes, presidente da rede Cinemark, líder em número de salas no Brasil.
A Cinemark foi à Justiça questionar a cobrança e obteve liminar que a desobriga do pagamento. A vice-líder no mercado, a rede Severiano Ribeiro, está em situação inversa. Deixou de pagar os direitos ao Ecad durante anos, mas sofreu derrota na Justiça. A dívida a ser calculada é milionária.
A proximidade de datas entre o revés da Severiano Ribeiro e o projeto de lei 532 não é coincidência, na opinião da superintendente do Ecad, Glória Braga.
‘Justamente quando perderam a ação, surgiu o projeto de lei. Levamos a vida toda discutindo a lei, se estava certa. No final, o Superior Tribunal de Justiça diz que está certa. Agora eles querem mudar a lei. É uma rasteira numa decisão judicial’, afirma.
A mudança que o projeto de Capiberibe e Octávio promove é a de excluir os cinemas da definição de locais de ‘execução pública’ de músicas, portanto, da lista de devedores de direitos dos músicos.
O projeto foi aprovado em primeira votação no Senado. Antes que fosse ratificado e enviado à Câmara, os músicos reagiram, com incentivo do Ecad.
O cantor e compositor Zezé Di Camargo enviou carta até ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmando que ‘a possível aprovação do projeto’ acarretaria ‘sensível redução da arrecadação dos direitos’ e seria ‘um brutal retrocesso da legislação de proteção aos direitos intelectuais’.
Crivella propôs então uma emenda que determina a cobrança dos direitos das trilhas só para filmes brasileiros e os de países com os quais o Brasil tem reciprocidade na questão. Como não é o caso dos EUA, onde a legislação autoral é diferente, quem lucra com isso é Hollywood, já que os exibidores repassarão ao consumidor a diferença nos custos.’
TELEVISÃO
Regra da Fifa pode deixar 14 mi sem Copa
‘Uma cláusula do contrato da Globo com a Fifa pelos direitos da Copa de 2006 obriga a emissora a codificar seu sinal de satélite com as imagens dos jogos. Isso quer dizer que todos os telespectadores que vêem TV aberta via antena parabólica poderão ficar sem o Mundial da Alemanha.
Estima-se que hoje existam cerca de 14 milhões de domicílios no Brasil que só recebem TV por antenas parabólicas, o equivalente a quase um terço do total de residências com TV no país. Só na cidade de São Paulo, a Universidade Presbiteriana Mackenzie calcula em 400 mil as residências com parabólicas -7,5% do total.
Se a Globo codificar seu sinal no satélite, esses domicílios não receberão os jogos da Copa. A Fifa impôs a cláusula no contrato com a Globo porque o sinal de satélite da emissora é captado também em outros países da América do Sul, podendo, assim, ser pirateado.
No entanto, há uma saída. Basta um decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva obrigando a Globo a não codificar seu sinal no satélite. A norma da Fifa não pode se impor à legislação do país.
O imbróglio é um ‘replay’ da Copa de 2002. Naquele ano, foi necessário um decreto de Fernando Henrique Cardoso para que a Globo abrisse o Mundial para as parabólicas. O decreto só valia para 2002. Neste ano, é preciso um novo decreto. E a Globo já se movimenta nos bastidores para que ele seja editado até o final de maio.
OUTRO CANAL
Janela 1 A TV Cultura confirma para o final de abril a estréia de sua ‘Faixa Jovem’, série de programas diários baseados em conteúdos de revistas do Grupo Abril (‘Capricho’, ‘Superinteressante’, ‘Bizz’, ‘Flashback’ e ‘Mundo Estranho’). Cada revista terá um programa semanal, apresentado às 18h30.
Janela 2 A previsão inicial era de que a ‘Faixa Jovem’ estreasse em janeiro. Tanto a Cultura como a Abril foram ao mercado publicitário vender cotas de patrocínio. Mas só agora o departamento comercial da Cultura conseguiu tornar o projeto viável. Vendeu uma cota para a Alpargatas.
Cabeça A Globo deve exibir ainda neste semestre um novo programa, ‘Central da Periferia’, que terá apenas cinco edições. O programa, com apresentação de Regina Casé, pretende fazer uma radiografia da produção cultural em periferias de grandes cidades. Um piloto já foi gravado no Recife.
Agora vai O SBT finalmente deve exibir neste ano o já prometido para 2005 ‘O Senhor dos Anéis – As Duas Torres’. Na semana passada, a emissora conseguiu no Ministério da Justiça reclassificar o filme como adequado para exibição às 20h. Antes, o filme era inadequado para antes das 21h.’
Painel do Leitor
Globo na Copa
‘‘No momento em que se discute qual deve ser o padrão da televisão digital a ser adotado no Brasil, a carta da leitora Márcia Meireles (‘Painel do Leitor’, 24/2), na qual defende que a TV Globo libere para outros meios de comunicação os direitos que adquiriu para a próxima Copa do Mundo de futebol, é uma ótima oportunidade para registrar que toda a população brasileira poderá ter acesso a esse acontecimento de forma gratuita através do único veículo com essas características: a televisão aberta. As restrições que estabelecemos, em cumprimento às determinações dos detentores dos direitos, é apenas para impedir que outras empresas lucrem com uma atração que já estará democraticamente disponível, sem custo, para o torcedor brasileiro.’ Luis Erlanger, Central Globo de Comunicação (Rio de Janeiro, RJ) ‘
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O Globo
Segunda-feira, 27 de fevereiro de 2006
INTERNET
Europa retém informações da rede
‘De acordo com o EUObserver, de Bruxelas, na Bélgica, os Ministérios da Justiça e do Interior da União Européia (EU) estabeleceram no dia 21 de fevereiro uma nova legislação referente à retenção de dados, forçando operadoras telefônicas e provedores internet a manter guardadas informações, reforçando as ações preventivas contra terrorismo, pedofilia e o crime organizado. Com prazo de 18 meses para ser posta em prática, a nova lei põe fim a um debate que se estendeu por mais de um ano e meio, em que os ativistas em prol dos direitos civis espernearam o quanto puderam, alegando danos à liberdade do cidadão e desrespeito à Convenção Européia sobre Direitos Humanos.
Para chamadas telefônicas e registros de acessos à internet, os dados que antes eram mantidos por um mês deverão ser guardados por no mínimo 24 meses, mas conterão apenas data, hora e os números de quem ligou e de quem recebeu a ligação. A conversa telefônica em si não será gravada. Com relação a registros de acessos à internet, os prazos são semelhantes e serão guardados os endereços IP.
Foram os ataques terroristas a Madri em março de 2004 que motivaram a elaboração desta lei. Sua promulgação foi acelerada em função dos ataques a Londres em julho passado. Utilizar de forma mais eficiente os recursos da tecnologia moderna visando a capturar terroristas foi uma necessidade defendida ferrenhamente por países como França, Grã-Bretanha e Suécia.
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Segundo pesquisa conduzida pelo site W3Schools, o Internet Explorer 6 ainda é o browser dominante no mercado, o Windows XP ainda é o sistema operacional mais usado, e a maioria dos internautas está usando display de 800×600 pixels ou maior. Em fevereiro de 2006, os percentuais de utilização de browsers são: Internet Explorer 6 (60,5%), Internet Explorer 5 (5,8%), Firefox (25,4%), Mozilla (2,9%), Netscape 7 (0,4%), Opera 8 (1,4%) e Opera 7 (0,1%). O site vem colhendo estatísticas de uso durante os últimos cinco anos entre seus alunos. Com relação aos browsers, seus números pesam mais para o Firefox e menos para o IE6 porque a amostragem pesquisada é composta de gente interessada em tecnologia web, ou seja, internautas curiosos por browsers alternativos. O usuário médio tende a usar mesmo o IE6, que é o pré-instalado no Windows. Assim sendo, o percentual de gente usando IE6, que é de 60,5%, pula para pelo menos 80% quando a amostragem é composta de internautas comuns. De qualquer maneira, analisando as tabelas estatísticas oferecidas pelo W3Schools, dá para se ter uma clara idéia das curvas de tendência do mercado.
Com relação aos sistemas operacionais, o W3Schools aponta: Windows XP (72,3%), Windows 2000 (13,1%), Windows 98 (2,4%), Windows NT (0,3%), Windows 2003 (1,7%), Linux (3,3%) e Mac OS (3,5%).
Em tempo, já que mencionei o site W3Schools, para quem se vira bem em inglês é um prato cheio de tutoriais, cobrindo um vasto leque de tópicos em tecnologia web.
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Cuidado com um email muito bem feitinho que anda circulando por aí supostamente enviado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) simulando ser uma citação digital de processo supostamente em trâmite no Tribunal contra você. Não caia nessa. Lembre-se de que o STJ não envia mensagens com esse teor. Um usuário macaco velho saca imediatamente que é phishing, mas um novato pode se confundir. A página traz um link que joga a vítima para um site na Coréia que aponta para ‘relatórios’ que na verdade são programas malignos hospedados num site na Rússia e que podem roubar dados pessoais como senhas, usernames, etc. Olho vivo quando receber emails desse tipo, incluindo mensagens aparentemente verdadeiras do Banco Central do Brasil (Bacen), Banco do Brasil (BB), Caixa Econômica Federal (CEF), IBGE, Receita Federal, Serasa/SPC, Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e de empresas de informática, serviços eletrônicos e de telefonia, instituições financeiras, cartões virtuais e sobretudo avisos de traição amorosa e propagandas de produtos para aumento do pênis, coisa que certamente não interessaria à leitora.
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Sábado que vem é dia 4 de março, data em que o nosso caderninho completa 15 anos de existência. Parabéns à nossa equipe e congratulações especiais à leitora, que vem nos acompanhando há tanto tempo e a todas as outras que começaram a ler o InfoEtc mais recentemente. Quanta evolução presenciamos nesses tempão, quanta coisa mudou. O que nos espera para os próximos 15 anos? Bem, continue aqui conosco e descubra.
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Os links de hoje estão em < http://catalisando.com/in foetc/20060227.htm >.’
CARNAVAL & IMPRENSA
A folia suburbana que a mídia não vê
‘No papel, ‘Carnaval, bexiga, funk e sombrinha’, documentário do diretor teatral Marcus Vinícius Faustini, 34 anos, lançado sexta-feira no Unibanco Arteplex, nasceu como uma análise crítica sobre os clóvis e os bate-bolas do Rio. Faustini rastreou os mascarados que promovem a folia nas zonas Norte e Oeste. Mas, na reflexão do filme sobre a estrutura quase tribal daquele rito carnavalesco que a mídia, ocupada com os desfiles do Sambódromo, costuma ignorar, quem mais chama atenção é Minnie Mouse, a namorada do rato mais famoso do mundo.
– Quem diria que a Disney serviria como símbolo dos pecados capitais? – pergunta Faustini, que, por cinco meses, percorreu um Rio suburbano que se estende de Deodoro a Santa Cruz, atrás dos quase cem grupos de clóvis da região.
Diretor se prepara para filmar a peça ‘Capitu’
Quando acompanhava a preparação dos adereços de uma dessas turmas, Faustini descobriu que os clóvis adotam um enredo antes de saírem por ai de sombrinha na mão. E todos mesclam referências da cultura pop. Em 2005, quando o documentário foi filmado, os personagens da Disney simbolizaram os sete pecados capitais. Minnie, com seu jeitão sonso por baixo dos vestidinhos cor-de-rosa, virou a síntese da luxúria no imaginário do subúrbio.
– Existe dramaturgia no carnaval dos clóvis. Uma dramaturgia do descontrole, que, em relação a uma cidade que os ignora, substitui a noção de inclusão pela de ‘intrusão social’. Os clóvis estão aí, desconstruindo símbolos da cultura de massa, como os heróis da Disney. E a Zona Sul não sabe deles. Eu entendo porque, quando falo de Santa Cruz, alguém de Ipanema faz uma cara de desconhecimento e me pergunta: ‘Onde fica? É no Rio?’ – lamenta Faustini, que nasceu no conjunto habitacional do Cesarão, na Zona Oeste.
Consagrado no meio teatral com a peça ‘Capitu’, que ainda este ano ele pretende transformar em filme, Faustini hoje dirige na Cidade das Crianças, em Santa Cruz, o projeto Reperiferia. Nele, adolescentes da região aprendem e pesquisam teatro e cinema. ‘Carnaval, bexiga, funk e sombrinha’ é fruto dessas pesquisas.
– É um absurdo que uma cidade não conheça suas manifestações. Ainda mais na era do cinema digital, em que as câmeras entram em qualquer lugar. Fiz este filme para mostrar que aquele subúrbio que a classe média inventou, onde as pessoas vivem como se estivessem em um idílico Rio antigo, não passa de uma caricatura – diz Faustini, que produziu seu longa com R$ 50 mil, quantia módica até para padrões documentais.
Por se tratar de um tema popular, Faustini, durante a captação, foi bater na porta de empresas que adoram falar em ‘povão’. Entre elas as Casas Bahia. A rede de lojas, que habitualmente não costuma figurar entre os patrocinadores mais ativos do cinema nacional, deu R$ 8 mil para o filme.
– As grandes patrocinadoras do cinema privilegiam quem tem projeção na mídia. E este é um filme barato para mostrar a esta mesma mídia e à academia que a periferia tá na área. Sem ligar para o que se passa da Zona Sul. Ninguém em Santa Cruz deixou de ir nos bailes funk ou à concentração dos clóvis para ver o Mick Jagger em Copacabana.’
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