Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Wilson Tosta

‘Fundador do PT e símbolo da esquerda, Apolônio Pinto de Carvalho morreu ontem, às 18h30, aos 93 anos. Ele estava internado desde quarta-feira no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) da clínica Casa de Portugal, no Rio Comprido, zona norte. A causa da morte foi um quadro de insuficiência respiratória, pneumonia e descompensação cardíaca, que se agravou por volta de 17h30 de ontem.


Apolônio morreu ao lado da mulher, Renée, e dos filhos. De acordo com o diretor do hospital, dr. Silvio Provenzano, o velho militante manteve a lucidez até seus últimos momentos. O médico disse também que, apesar da profunda tristeza, o clima entre os parentes era de paz e tranqüilidade.


O corpo de Apolônio será cremado amanhã, às 11 horas, no Caju, zona portuária. O velório ocorre na Câmara Municipal, na Cinelândia, centro. Ontem à noite, o ministro Luiz Dulci, secretário-geral da presidência da República, telefonou para a viúva. A assessoria do Palácio Guanabara informou que o governo do Estado não se pronunciaria sobre a morte nem decretaria luto oficial.


Um dos protagonistas da história da esquerda brasileira e veterano de três conflitos armados – a Guerra Civil Espanhola, a Segunda Guerra Mundial e a guerrilha urbana brasileira –, Apolônio viveu o século 20 com intensidade ímpar. Militar e comunista, foi preso nos anos 30 pelo governo Vargas no Brasil e lutou contra o franquismo na Espanha. Depois combateu a invasão nazista da França, nos anos 40, e o regime militar brasileiro, nos 60, depois de romper com o PCB. Foi preso e torturado em 1969. Acabou expulso do País com mais 39 presos políticos. Depois da anistia, voltou e ajudou a criar o PT. Morreu acreditando no socialismo, ao qual aderira aos 25 anos.


‘A confusão entre desejo e realidade é uma das fontes de erro da esquerda em todas as fases de nossa vida, de nossa trajetória’, afirmou, em entrevista à revista Teoria e Debate, editada pelo PT, nos anos 80. Até o fim, defendeu o presidente Lula: dizia que ele foi traído por assessores no episódio do mensalão.


FALA MANSA


Conhecido pelo otimismo, a fala mansa e a polidez, Apolônio nasceu em 1912, em Corumbá (MS), de mãe gaúcha e pai sergipano e militar. Menino, sonhou ser médico, mas, ao partir para o Rio, ouviu um conselho da mãe, na despedida: ‘Se você for militar, como seu pai, vai poder ajudar a família’. Com cinco irmãos, seguiu o conselho materno e, em 1930, ingressou na Escola Militar de Realengo.


Encontrou um ambiente influenciado pelo tenentismo. Formado oficial de Artilharia em 1933, foi servir em Bagé, onde um amigo comunista, o capitão Rolim, o atraiu, em 1935, para a Aliança Nacional Libertadora (ANL), que reunia democratas, socialistas e comunistas contra os avanços da extrema-direita. Em junho de 1935 a ANL foi declarada ilegal, Apolônio foi preso pela primeira vez e perdeu a patente de tenente.


Foi transferido para o Rio,onde conheceu Graciliano Ramos na Casa de Correção. ‘Eu conheci a existência do PC na prisão’, contaria depois. Lá conheceria também Rodolfo Ghioldi, Olga Benário e Luiz Carlos Prestes. Foi solto em junho de 1937, se inscreveu no PCB e embarcou para a Espanha, onde entrou para as Brigadas Internacionais que combateriam o franquismo. Lá, voltou a ser tenente.


Os republicanos perderam a guerra e foram levados para campos de internamento em território francês, onde, na prática, eram prisioneiros. Em dezembro de 1940, com boa parte do território da França sob ocupação direta dos nazistas, Apolônio fugiu. Foi trabalhar no consulado brasileiro em Marselha, mas logo entrou em contato com a Resistência Francesa.


Foi na Resistência que conheceu a mulher, a então adolescente Renée, de família de comunistas, com quem viveu até o fim da vida. Da França, recebeu a Légion d’Honneur; pela luta na Espanha, recebeu a cidadania espanhola, nos anos 90.


Em dezembro de 1946, voltou ao Brasil e se incorporou a um PCB legal. Chegou a presidir a União da Juventude Comunista (UJC), que tinha como secretário-geral João Saldanha, que depois foi jornalista e técnico da Seleção Brasileira. Com Renée e os filhos foi ‘caseiro’ de dirigentes perseguidos do PCB, entre eles João Amazonas. O casal depois viveu na União Soviética, do fim de 1954 até 1957, para fazer um curso. Estava lá quando ocorreram as denúncias dos crimes de Stalin, mas o próprio Apolônio não se sentiu surpreso nem chocado, segundo diria depois, porque já tinha alguma informação. Viajava com a mulher pela URSS, observava a realidade e conversava com pessoas bem informadas, que lhe contavam de arbitrariedades e distorções do socialismo soviético. Renée, narrou, ajudou-o a superar a visão ‘ilusória e fantasiosa’ que dizia ter do socialismo.


Em mais um retorno ao Brasil, Apolônio passou a escrever na revista do partido, Novos Rumos, e participou da comissão de Educação do PCB, dando cursos de formação. Um de seus alunos foi Marco Aurélio Garcia, atual assessor para Assuntos Internacionais de Lula.


Mesmo crítico do PCB, Apolônio ficou no partido, mas, após o golpe de 64, formou, com Carlos Marighella, Mário Alves e outros antigos dirigentes do partido, a Corrente Revolucionária – integrada, por exemplo, pelo estudante de engenharia Cesar Maia, hoje prefeito do Rio. O grupo rachou: a maioria criou a Ação Libertadora Nacional (ALN) e outra ala, o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). A organização política e de guerrilha urbana foi duramente golpeada em 1969, quando Apolônio e outros militantes foram presos.


Alves morreu sob tortura. Apolônio reagiu à prisão. Com quase 60 anos, saltou sobre o motorista do carro que o levava para o quartel, na tentativa de jogar o veículo sobre um muro. Foi contido a coronhadas.


A prisão durou até 1970, quando deixou o Brasil no grupo de 40 presos políticos trocado pelo embaixador alemão, Enrenfied Von Holleben, seqüestrado pela Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e pela Ação Libertadora Nacional (ALN). Foi para a Argélia e só voltou ao Brasil após a anistia de 1979, após afastar-se do PCBR em 1978, integrando-se ao grupo que formou o PT.


Inicialmente, foi anistiado como tenente da reserva, depois, no fim dos anos 80, foi promovido a coronel e, no governo Lula, ganhou o direito a soldo de general de brigada. Até o fim da vida, manifestou sua paixão pelo PT e por Lula, que conheceu na volta. Mesmo assim, mantinha o espírito crítico.


LULA


Lula divulgou ontem uma nota expressando a ‘enorme tristeza’ com que recebeu a notícia da morte de Apolônio, a quem se referiu como ‘amigo, companheiro e um dos maiores exemplos de bravura, coragem e coerência’. O Planalto não informou quem representará o governo no sepultamento. Na manhã de hoje, Lula estará em Salvador, mas ainda não está completamente descartada a possibilidade de comparecer ao velório. Colaborou: Tânia Monteiro’




PAULO AUTRAN
Antonio Gonçalves Filho


‘Auto-retrato de Paulo Autran’, copyright O Estado de S. Paulo, 26/9/05


‘A Inglaterra pode se orgulhar dos atores que tem. Quando se pensa em Shakespeare, por exemplo, o nome de Paul Scofield vem automaticamente à lembrança. Deus, que é justo, pensou estar cometendo uma pequena injustiça com o Brasil e resolveu, no mesmo ano do nascimento de Scofield, criar um homem para ser Coriolano, Lear, Otelo, Próspero e Macbeth abaixo do Equador. Desde 7 de setembro de 1922, portanto, o Brasil conhece Paulo Autran, que, aos 83 anos, lança hoje sua fotobiografia ‘Paulo Autran sem Comentários’ pela editora Cosac Naify. Autran, atualmente em cartaz com a peça ‘Adivinhe Quem Vem para Rezar’, de Dib Carneiro Neto, garante que não se trata de ensaio para uma futura autobiografia. ‘Desisti dela há anos.’


Convidado para escrever pequenos textos comentando as 127 fotos selecionadas de seu livro, Paulo Autran, que já foi rei e miserável, burguês e aristocrata, canalha e herói no palco, revela-se um ótimo escritor e crítico severo (com ele e os outros). Assume que foi vaidoso e intrigante quando jovem. Mas o tempo sempre tem razão. Prova disso é o próprio livro, em que o ator se diverte ao lembrar a arrogância juvenil, traços apagados com o passar dos anos. Certa vez, conta Paulo ao telefone, deu um soco num crítico que escreveu um comentário deselegante sobre sua interpretação em ‘As Sabichonas’, de Molière. ‘Como o jornal não quis publicar minha resposta, por ser muito forte, cuspi na cara dele e trocamos sangue’, ri.


Os textos do livro são engraçados como a descrição da luta com o tal crítico. Ao falar do polonês Ziembinski, que o dirigiu em várias peças no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), define-o como um ‘diretor ditatorial’ que reservava para si os melhores papéis (e os mais fortes refletores), obrigando seus atores a interpretar ‘pontinhas’ irritantes como a do padre de ‘E o Noroeste Soprou’, em que Autran ficava pouco mais de dois minutos em cena. A peça, montada pelo TBC em 1954, não agradou e saiu de cartaz.


Há meio século, a vaidade deixava Autran cego. O ator conta que, em 1950, saiu da casa do dramaturgo Guilherme Figueiredo irritado por ele ter reservado as melhores falas de sua peça ‘Don Juan’ para Armando Couto, intérprete de Leporello na montagem (que a revisão do livro, por equívoco, trocou para Leparela, nota Autran). Foi Tônia Carrero, segundo ele, quem o fez entender como sua vaidade era ‘ridícula’, uma vez que Don Juan era o ‘protagonista absoluto’ da peça. Desde então, diz ele, passou a vigiar mais seus atos. Autran, que foi tudo no palco, até mesmo um médico mercenário como o Doutor Knock de Jules Romain, hoje olha para trás e não se arrepende. Seus quase 60 anos de teatro são marcados por uma atuação digna dentro e fora do palco. Autran foi um dos primeiros atores a desafiar a ditadura militar ao participar do espetáculo ‘Liberdade, Liberdade’, isso um ano após o golpe. Dirigido por Flávio Rangel com texto do mesmo e de Millôr Fernandes, o show era anunciado como se o ator fosse uma espécie de Fred Astaire marxista. ‘O núcleo de show era político e fazia a apologia da democracia em pleno golpe. Na publicidade, dizia-se que eu interpretava, cantava, dançava e sapateava.’ Bem, pelo menos ele se esforçava, ao cantar ‘Guantanamera’ – ‘muito mal, é claro’.


O ator, até por conta dessa limitação, só fez dois musicais, ‘My Fair Lady’ e ‘O Homem de La Mancha’. Foi esse o único motivo, e não preconceito, que o fez desistir do gênero. ‘Não existe gênero menor em teatro’, observa. ‘Fiz desde comédias de boulevard até tragédias.’ Tudo é válido, conclui, ‘desde que não seja uma peça de propaganda nazista ou algo do gênero’. Democrata convicto, ele quase foi Mussolini no cinema (num filme antifascista, claro). Convidado para interpretar o papel do ditador nesse filme irrealizado do italiano Dino Risi, o roteiro nunca chegou às suas mãos. Fábio Carpi, diretor do sensível ‘Quarteto Amadeus’, escreveu para ele o papel de juiz de futebol do filme ‘O Árbitro’, na época áurea da Vera Cruz. Mais uma vez, não deu certo. ‘Quando estava tudo pronto para filmar, a Vera Cruz fechou’, lembra.


Sua primeira experiência na tela foi no minúsculo papel de um advogado (primeira profissão do ator, aliás) no filme ‘Appassionata’ (1952), ao lado de Tônia Carrero. O ator reviu o filme há alguns dias. ‘Achei péssimo.’ Os seguintes não foram melhores. Autran atuou no primeiro filme colorido brasileiro, fotografado por um profissional da Metro e dirigido pelo austríaco Ernesto Remani, ‘O Destino em Apuros’ (1952). Ele fazia o papel do ‘Destino’ nessa alegórica e esquecível produção. Seu personagem era risível. ‘Para o diretor, o Destino só andava de chapéu-coco, colete e luvas, mesmo no calor tropical de São Paulo’, comenta Autran, classificando o filme de ‘uma coleção de obviedades’. O ator gosta muito de filmar, mas fez poucos filmes e não fala com entusiasmo da carreira no cinema. Se há um motivo para se orgulhar dela, diz ele, ‘é o de ter trabalhado com Glauber Rocha’, diretor de ‘Terra em Transe’ (1967), um dos grandes momentos do cinema brasileiro. Na época, o ator, que fazia no filme um senador corrupto com ambição de dirigir o império imaginário de Eldorado, pensou até em filiar-se ao Partido Comunista, mas logo desistiu a idéia. Sorte. Um pouco antes do filme de Glauber, quando fazia ‘Liberdade, Liberdade’, agentes da CIA disfarçados de repórteres rondavam sua casa e os censores passaram a manter o ator na mira.


Isso não o fez desistir. Se era preciso recorrer a metáforas, tanto melhor. O teatro era o lugar certo para elas. No mesmo ano de ‘Terra em Transe’, 1967, ele e Flávio Rangel decidiram montar o texto clássico de Sófocles, ‘Édipo Rei’. Como se sabe, nas tragédias gregas os filhos sempre acabam pagando pela culpa dos pais – e o Brasil da ditadura parecia mesmo estar expurgando uma infindável culpa pelas arbitrariedades de seus governantes, cegos como Édipo às profecias de Tirésias. Autran fez várias tragédias, mas foi com o personagem Willy Loman, de ‘A Morte do Caixeiro Viajante’, de Arthur Miller, que aprendeu a não caçoar dos colegas que se diziam ‘tomados’ pelos personagens . Autran sentia uma tristeza imensa durante a temporada da peça, em 1976. Quando se flagrou arrastando os pés como o velho caixeiro, achou que já estava na hora de montar uma comédia. E foram várias nos anos 1980 e 90, intercaladas com textos pesados de Ibsen, Brecht e outros gigantes. Menos Nelson Rodrigues. ‘Pois é, foi um dos poucos que ainda não fiz.’ Para quem acumula 91 peças no currículo, é perdoável.’




SARTRE
Manuel da Costa Pinto


‘O acossado’, copyright Folha de S. Paulo, 24/9/05


‘Sartre sobreviverá à injúria das homenagens por seu centenário de nascimento. Com raras exceções, as matérias que apareceram na imprensa brasileira compensam o constrangimento da efeméride com comentários recorrendo aos engajamentos políticos do filósofo para explicar que o existencialismo foi apenas um modismo (que, entretanto, não se perde a oportunidade de industrializar).


Há nisso muito de má-fé e ressentimento contra a figura do ‘intelectual’. Com relação a seu alinhamento aos comunistas, trata-se de um anacronismo julgá-lo hoje, quando a União Soviética nem existe mais, e não no contexto dos anos 50, em que no outro lado do espectro ideológico estavam os atuais criadores da ‘guerra cirúrgica’ e legisladores da energia atômica -que pouco antes tinham dizimado sem necessidade militar a população civil da cidade de Dresden, na Alemanha, e promovido o holocausto nuclear de Hiroshima e Nagasaki, no Japão.


De resto, o tipo de intelectual ‘em situação’ criado por Jean-Paul Sartre é aquele que jamais silencia diante das contingências -e o que se pode talvez censurar não é o fato de ele ter dado respostas definitivas (pois soube expor publicamente suas contradições após a invasão soviética da Hungria ocorrida em 1956), mas de não ter modificado suas perguntas, preservando uma noção de consciência que paira, soberana, sobre a substância dos fatos históricos.


Mas questões ‘fenomenológicas’ soam como palavrão para quem segue o catecismo do senso comum e só consegue admirar Roquentin (protagonista de ‘A Náusea’) porque purgou a literatura de todo compromisso e simbiose com o mundo.


Felizmente, para contrabalançar, existem os livros de Jean-Paul Sartre, em especial aqueles entre a ficção e a filosofia, em que percebemos a passagem de uma fala ‘sobre’ o mundo para a invenção de um horizonte pessoal de referências que, ao conservar a memória daquilo que desencadeou a escrita, oferece a possibilidade de transtornar a realidade pela palavra.


É o caso de ‘O Seqüestrado de Veneza’, que traz dois ensaios publicados em revistas e incluídos posteriormente em ‘Situações 4’. Um ensaio prepara e dá sentido ao outro. O primeiro, ‘Veneza de Minha Janela’ (1953), é uma antidescrição que potencializa o irrealismo da cidade italiana, ‘sempre um finisterra diante mim’.


Essa navegação de sonho pelos canais lança o viajante numa contemplação em que seres e entes deixaram de ser familiares. Em Veneza, ‘a espécie humana -ou, quem sabe, o processo histórico- se retrai, pequeno pulular limitado no espaço e no tempo’; ‘os palácios (…) já perderam essa brutalidade ingênua da presença, essa tola e peremptória suficiência da coisa que está aí e que ‘não se pode negar’.


Nas entrelinhas, percebem-se as correspondências com o trabalho do filósofo: Veneza é o emblema da opacidade da coisa ‘em si’ com a qual só nesse plano ensaístico-poético a consciência (‘para si’) consegue se comunicar.


E, no ensaio que dá título ao livro, de 1957, Sartre faz viver no pintor Tintoretto (1519-1594) a personagem ideal dessa cidade ausente. Como observa Luiz Marques (autor de notas que corrigem imprecisões dos estudos disponíveis à época de Sartre), o escritor ‘renuncia à tradição da écfrase, isto é, à descrição da obra de arte visual’.


Trata-se, portanto, de um esboço biográfico-ficcional em que Jacopo Robusti, o habilidoso filho de tintureiro (daí a alcunha ‘Tintoretto’), faz de sua condição de artesão uma arma, produzindo em escala industrial, vendendo suas telas a preço de liqüidação, ocupando todos os espaços públicos e sendo acusado de pirataria.


‘Arrivista corroído pelo medo’, Tintoretto conquista sua liberdade a partir das forças que o esmagam. ‘Essa violência diligente e quase sádica que chamarei de o pleno emprego de si mesmo’ corresponde, assim, à visão sartreana do artista como consciência torturada de seu tempo -consciência que ele mesmo, Sartre, foi e continua sendo.’