Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Jornalismo na Nova Zelândia: entrevista com Caitlin Cherry

Foto: Arquivo pessoal

Caitlin Cherry é uma jornalista e radialista da Nova Zelândia. Com experiência em jornalismo investigativo e produção de programas, seu trabalho possui uma ênfase especial nas tecnologias e comunicação multimídia. Ela produz conteúdo digital e utiliza diferentes plataformas para criar e compartilhar conteúdo, como também para ampliar o público e melhorar seu engajamento.

Cherry possui diploma em jornalismo pela New Zealand Broadcasting School e bacharelado em estudos de cinema e teatro pela Victoria University of Wellington. Durante 19 anos, ela trabalhou na Rádio Nova Zelândia (RNZ National) e nos últimos dois anos foi diretora de conteúdo da emissora. Leia mais na entrevista a seguir.

Enio Moraes Júnior — As redes sociais mudaram o jornalismo na Nova Zelândia nos últimos 20 ou 30 anos? Se sim, como você avalia essa mudança?

Caitlin Cherry — Sim. Muitas histórias são compartilhadas nas mídias sociais, de modo que as pessoas podem se deparar com determinado conteúdo, mesmo que não o estejam procurando especificamente. No entanto, o surgimento de notícias falsas nessas redes é uma grande preocupação em todos os países do mundo.

EMJ — Nas estatísticas sobre qualidade de vida, a Nova Zelândia aparece sempre como um bom lugar para se viver. O que a imprensa nacional fala sobre o país? Quais são os problemas mais relevantes?

CC — Visitantes famosos da Nova Zelândia quase sempre são perguntados quanto gostam daqui. Como a NZ está bastante distante do resto do mundo, adoramos quando pessoas do outro lado do planeta elogiam nosso país. Mas nosso principal problema é habitação. Os preços das casas subiram 25% só no último ano. Os aluguéis também aumentaram e temos um sério problema de pessoas sem-teto. Na verdade, as instituições que trabalham com assistência social têm abrigado famílias em motéis por causa da escassez de casas. Também há diversas habitações frias e úmidas, o que contribui para problemas de saúde. Estas são questões difíceis de resolver e, embora muitas pessoas enalteçam o atual governo pela forma positiva como ele lidou com a pandemia de Covid, há muito ressentimento sobre a imobilidade em torno da habitação.

EMJ — Como você avalia a cobertura de direitos humanos e minorias na mídia neozelandesa?

CC — Está melhorando. Existem excelentes programas/podcasts na RNZ com foco nas comunidades étnicas na Nova Zelândia — por exemplo, Conversas com meus Pais Imigrantes e Vozes.

EMJ — Quando falamos de jornalismo regional e local, nos referimos a particularidades das comunidades locais. Como isso funciona na mídia da Nova Zelândia? Quais temas surgem com mais frequência?

CC — Eu avalio que precisamos de mais repórteres em todas as partes do país para compartilhar as histórias das pessoas nessas áreas. Além disso, algumas redações regionais têm enfrentado grandes cortes à medida que a mídia luta para se autofinanciar na era digital.

EMJ — Como o jornalismo cobre a pandemia de Covid-19 no país, especialmente no que diz respeito a questões científicas e de interesse público?

CC — De uma forma geral, a cobertura tem sido excelente — com relatórios baseados no rigor científico. A maior preocupação é a quantidade de notícias falsas e teorias conspiratórias que se espalharam nas redes sociais e terminam por chamar a atenção de algumas pessoas. Há um grupo de negacionistas da Covid-19 que protestou do lado de fora do nosso principal canal de notícias de televisão (RNZ), acreditando que a empresa tem espalhado mentiras sobre o assunto — o que é, naturalmente, uma acusação sem sentido.

EMJ — Como você avalia a formação de jornalistas na Nova Zelândia, considerando o que acompanhou na sua geração e o que vem acompanhando na atual geração de jornalistas?

CC — Algumas escolas de jornalismo fecharam e outras estão mesclando estudos de mídia, comunicação e relações públicas com jornalismo, o que é uma preocupação… Além disso, precisamos encontrar uma maneira de encorajar pessoas de diferentes origens a considerar o jornalismo como uma carreira — a exemplo dos Maori e Pasifika.

Esta entrevista faz parte da série “Jornalismo no Mundo”, uma iniciativa do pesquisador e jornalista Enio Moraes Júnior, juntamente com o Alterjor – Grupo de Estudos de Jornalismo Popular e Alternativo da Universidade de São Paulo. As entrevistas são originalmente publicadas em inglês no Medium.

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Enio Moraes Júnior é jornalista e professor brasileiro. Doutor em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (Brasil), vive em Berlim desde 2017. Acesse o portfólio do autor: EnioOnLine.