Recentemente o Esporte Interativo esteve presente nos noticiários dos portais de internet do país e infelizmente foi por um motivo que envergonha a comunicação esportiva. No dia 7 de fevereiro o Twitter da emissora utilizou a imagem de um veado para informar o início do jogo entre São Paulo e Bragantino, pelo Campeonato Paulista. A atitude ridícula da emissora obviamente causou muita revolta entre os torcedores são-paulinos e diretoria do clube.
Infelizmente esse foi mais um dos vários comportamentos questionáveis da imprensa esportiva atual. Não é novidade nenhuma que boa parte da mídia esportiva vem se perdendo com o excesso de gracinhas devido a busca por audiência, likes, retweets e compartilhamentos.
É comum vermos matérias e debates sensacionalistas ou posts sem senso crítico com o objetivo de conseguir audiência a qualquer custo, mesmo que coloque em risco a credibilidade de algum veículo. O que isso significa? Boa parte da imprensa esportiva precisa reconhecer seus erros e cobrar uma seriedade de si mesma, antes de ficar com moralismos ou de cobrar seriedade no esporte.
Com a popularização da internet e das redes sociais, as mídias alternativas trouxeram um aumento das páginas e sites de temática esportiva, o que significou maior opção para o público, ou seja, a quantidade veio acompanhada de pluralidade. Já na TV há muitas opções de canais e programas de esportes , mas isso não significou um aumento da pluralidade e da qualidade. As emissoras exploram polêmicas a todo momento, além dos sensacionalismos e invencionices, o que leva a uma perda de qualidade e credibilidade quando alguém da mídia esportiva for fazer cobranças por um esporte mais limpo.
Muitos profissionais da mídia esportiva criticam a corrupção do esporte brasileiro e realmente vários jornalistas buscam assuntos relacionados ao tema, investigando de maneira aprofundada esse tipo de problema, mas nem sempre essa é a realidade. Na programação esportiva não é novidade ver empresas cobrando moralidade e honestidade no esporte, mas o próprio veículo oferece pouco espaço para pautas relacionadas à corrupção e desonestidade dos dirigentes .Trocam pautas que mostram a falta de transparência nas organizações esportivas, pelo excesso de assuntos que levam ao riso ou matérias que mais parecem reportagens de revistas de celebridades.
Quando algum atleta brasileiro fracassa nas olimpíadas cansamos de ouvir a grande imprensa esportiva falar sobre os a falta de apoio e investimento no esporte olímpico. Também ouvimos lamentações quando equipes tradicionais do futebol entram em decadência devido a desigualdade financeira. Se observarmos a programação de canais de esportes na TV fechada há inúmeros programas de debates que tratam repetidamente dos mesmos assuntos. Será que não seria interessante utilizar alguns horários para dar visibilidade aos outros esportes ou as equipes que não fazem parte da elite do futebol brasileiro ao invés de ficarem o dia inteiro falando dos mesmos assuntos? Quantos debates tratam sobre a péssima gestão do esporte brasileiro e das dificuldades dos times menores? Quantos atletas olímpicos ficam sem visibilidade, já que só há espaço para os mesmos e repetidos assuntos? A mídia esportiva tradicional trata pouco desses temas. O futebol é a preferência do brasileiro, isso é indiscutível. Mas qual o motivo de várias emissoras com 24 horas de programação esportiva exibirem programas tão padronizados que abordam as mesmas narrativas e assuntos?
Acompanhamos jornalistas exigindo seriedade dos dirigentes do futebol, ética dos jogadores, transparência e união dos clubes. E a realidade da grande imprensa esportiva atualmente é essa que eles exigem no futebol? Não. O que vemos são especulações de contratações, tentativas frustradas por um furo, gritaria sendo mais importante do que o senso crítico, jornalistas clubistas que são personagens caricatos com suas opiniões de torcedores, busca incessante por piadinhas e memes para causar polêmicas. Se a mídia esportiva alternativa deu a oportunidade para acompanharmos discussões e temas mais plurais com senso crítico, na TV aberta e fechada a opção é escolher entre o circo e as discussões que mais parecem um papo de pessoas em um bar após várias rodadas de cerveja.
A arbitragem do campeonato está ruim ou cometeu um erro? Opa!Oportunidade de audiência!Nesses momentos ao invés de discutirem melhorias ou analisarem os lances sem clubismos, alguns “jornalistas”da grande mídia esportiva preferem ficar no conforto das acusações de favorecimento a determinado time para inflar ainda mais a paixão dos torcedores.
Treinador é demitido? Reclamam da falta de tempo para o treinador fazer seu trabalho, mas adoram criar dúvidas sobre a atuação de determinado técnico, mesmo que ele esteja pouco tempo em uma equipe. Questionam o comando de um treinador em relação a seu grupo, mesmo que não estejam no cotidiano da equipe. Insinuam que o time quer derrubar o técnico ou que o grupo está desunido – que pode até ser verdade – mas também pode ser falta de assunto e necessidade de criar polêmicas para ter assunto no programa.
Tem entrevista de jogador ou técnico? É ridícula a atitude de alguns repórteres que tentam encontrar uma frase polêmica ou distorcer alguma fala, devido a necessidade de criar algum assunto por causa da exigência de informações, além do desespero em ocupar o tempo dos vários programas de debate em um mesmo dia com os “mais variados assuntos”.
Como a imprensa esportiva pode exigir ética dos clubes desse jeito?
As críticas não são para ofender todos os profissionais da comunicação esportiva, mas sim para questionar algumas atitudes de certos jornalistas e empresas . É hora de as empresas e jornalistas da imprensa esportiva reconhecerem seus erros para que não fiquem cobrando dos outros a seriedade e credibilidade que ela mesmo vem esquecendo de ter.
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Lucas Dorta é jornalista formado pelas Faculdades Integradas de Jaú