As tecnologias emergentes instiga reflexão e ação, uma vez que a produção de informação evidencia o encontro de diversidade, consumo e subjetividade. Para articular o inseparável binômio mercado-mídia, os diferentes meios de comunicação, inclusive com a cultura digital, precisam estar atentos às tendências (atualizações e/ou inovações) que circulam na internet. Com as mudanças constantes no nosso jeito de pensar e teclar, verifica-se a mudança no consumo.
Então, faço uma pergunta: O que tem surgido no contexto atual do consumo brasileiro? O objetivo é destacar a utilização da diversidade como fator priorizante na comunicação que impacta direto o consumo. Por exemplo, é lamentável, mas vários artistas da música brasileira têm utilizado expressões alegóricas da diversidade para ilustrar seus videoclipes.
A diversidade
A diversidade na atualidade cria situações complexas que colocam em debate a natureza e a sociedade — diluídas por ações de inclusão e exclusão econômica, identitária, social e/ou cultural. Ainda que, o capitalismo enfoque especificamente o ganho, a rentabilidade e o lucro.
Porém, a diversidade desafia a ordem do sistema hegemônico, porque traz a novidade, o inesperado, e desestabiliza o senso comum. Assim, aparecem alternativas como alteridade e diferença. Mais que enfrentar, a força da diversificação se traduz em ousadia. Ousadia que provoca inquietações com o que não se adequa e almeja a desnaturalização — entre corpos, desejos e afetos. São desafios que pretendem, sim, quebrar o padrão normativo, ao abrir lacunas no sistema capitalista. De forma paradoxal com suas singularidades, esses intervalos solicitam a completude do diversus.
As comunidades nas redes sociais ressaltam informações a respeito da diversidade cultural/sexual atrelada à identidade sexual, de gênero, etnia/raça, religião etc. Essa diversidade no universo capitalista é tema urgente a ser tratado, longe de uma mera denúncia, ainda mais no Brasil. Ou seja, torna-se plausível agenciar/negociar a representação da diversidade no sistema capital (ZIZEK, 2017).
O consumo
Se, por um lado, o consumo equivale-se da pluralidade de oferta e demanda, diversificam-se conceitos, técnicas, produtos, marcas e serviços etc. Por outro, o mercado-mídia (re)configura-se na artimanha de garantir sua manutenção do interesse capital.
Sem dúvida, o consumo gera enormes desigualdades econômica, identitária, social e/ou cultural (BAUMAN, 2015), pois prioriza quem consegue atender ao chamado (high level) do mercado-mídia. Prioridade implica ser primeiro (Prime), singular, particular, especial e extraordinário: o que legitima o título de VIP – Very Important Person.
O ideal capitalista visa retorno em qualquer investimento e a sociedade sempre foi separada por ambientes de exclusividade. Logo, tenta-se eliminar, de modo irônico e cruel, o desconforto da presença de incapazes de consumir. São determinadas minorias: do periférico ao marginal (e vice-versa).
No entanto, a diversidade impede de caracterização de um perfil específico a ser explorado pelo mercado-mídia para o consumo – entre divulgar para um perfil ou assumir a lógica de divulgar com tal perfil. Por isso, cabe repensar o fenômeno da diversidade nessas circunstâncias.
A subjetividade
A dinâmica da diversidade dilui o foco do capital, de maneira contundente, quando (re)formula as alternativas contraditórias da dimensão humana. Multiplicam-se as alternativas que compreendem as preferências do sujeito com as possibilidades de seleção, opção e escolha na decisão do/a consumidor/a.
A cultura vincula-se à experiência humana e acompanha as vozes plurais da diversidade. São vozes dissonantes que promovem o dissenso. Experimentar implica subjetivar a ordem do dia.
A discussão de tensões sociais, fenômenos, valores e manifestações culturais utiliza estratégias discursivas sobre a diversidade na expectativa de atingir o consumo (PELBART, 2013). Disso, a produção de subjetividade assinala presença, frequência e pertença de determinada classe econômico-social entre ricos e pobres (BAUMAN, 2015). O empoderamento do sujeito (consumidor/as), então, inscreve-se para além de fragilidade, insegurança, vulnerabilidade ou vitimização.
O mercado-mídia propõe novidades nas redes sociais diariamente como o protagonismo hipermidiático (RENDUELES, 2016). E tais situações ocorrem em diferentes expressões do sujeito a sujeição (inter)subjetiva.
Desfecho
Lidar com questões que tangem o campo contemporâneo da comunicação e da cultura no Brasil, como área de conhecimento acadêmico, auxilia na leitura crítica acerca de conflitos contemporâneos. Isso provoca “novos/outros” saberes para produção de conhecimento, produção de subjetividade e produção de informação, mediante aos estudos contemporâneos (ZIZEK, 2017; RENDUELES, 2016).
Atual fenômeno digital, a rede mundial de computadores promove a virtualidade de anotações, impressões, memórias e registros que documentam a interatividade do/a usuário/a-interator/a. A partir da confecção e publicação de comentários e postagens (KEEN, 2012), uma relação de mediação entre o fato e a notícia examina o que ocorre na sociedade e o que é divulgado pelos meios de comunicação (internet, jornal, publicidade, rádio, TV, entre outros).
E a diversidade passa a ser reconhecida como moeda forte ao interesse comercial. Se, agora, essa diversidade tem valor capital, ela deve ser examinada com cuidado.
Portanto, trata-se aqui de um posicionamento crítico-reflexivo contra qualquer tipo de abuso e inadequação inapropriada do mercado-mídia. Tal leitura proposta visa a discutir as prioridades das coisas no mundo. Portanto, onde está a relevância de qualquer manifestação na internet?
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Wilton Garcia é artista visual, doutor em Comunicação pela USP, pós-doutor em Multimeios pela Unicamp, professor da Fatec Itaquaquecetuba/SP e do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura da Uniso.
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Referências
BAUMAN, Z. A riqueza de poucos beneficia todos nós? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2015.
ZIZEK, S. Acontecimento: uma viagem filosófica através de um conceito. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.
KEEN, A. Vertigem digital: por que as redes sociais estão nos dividindo, diminuindo e desorientando. São Paulo: Zahar. 2012.
PELBART, P. P. O avesso do niilismo: cartografias do esgotamento. São Paulo: n-1, 2013.
RENDUELES, C. Sociofobia: mudança política na era da utopia digital. São Paulo: Sesc, 2016.