Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Bernardo acusa Richa de politizar TV estatal

Um episódio que aconteceu no lançamento do projeto de metrô em Curitiba, em outubro, ampliou a tensão entre petistas e tucanos e deve ter desdobramentos futuros nas eleições municipais do próximo ano e a estadual de 2014, disputa que o PT reserva à ministra com gabinete mais próximo da presidente Dilma Rousseff, a titular da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.

Quem assumiu a dianteira da queda de braço com o governador paranaense, Beto Richa, foi o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, marido de Gleisi. O ministro solicitou uma análise da transmissão do anúncio de liberação de recursos federais para as obras pela estatal de televisão e-Paraná, no qual mais da metade do discurso de Dilma foi cortado. A análise ficará pronta apenas em dezembro mas Bernardo já classificou o fato como grave.

Depois de transmitir na íntegra os discursos do prefeito de Curitiba, Luciano Ducci (PSB), e de Richa, a e-Paraná colocou no ar o programa infantil Cocoricó antes de retornar para a fala de Dilma. A presidente do PT de Curitiba, Roseli Isidoro, classificou o ocorrido como “conduta desrespeitosa e antidemocrática” e acionou o Ministério das Comunicações.

Após nota da direção da e-Paraná, que disse não ter recebido “orientação superior” para cortar o discurso, que a decisão foi tomada “em função do tempo disponível na grade de programação” e que foram constatadas falhas técnicas na transmissão, o assunto era dado como encerrado pelo PSDB. Mas em visita a Curitiba na semana passada, na qual fez o recadastramento biométrico do título de eleitor, Paulo Bernardo, que estava acompanhado de Gleisi, voltou a falar no assunto.

O projeto de reeleição em 2014

“O que nós temos observado é que essas emissoras não são, na verdade, TVs educativas. Acabam sendo usadas para a veiculação de mensagens do governo”, disse, em entrevista à CBN. “Não é só no Paraná e não é de hoje. Todo mundo sabe disso”, completou. “A presidenta não merecia isso.” Gleisi não se expõe na briga. Procurada pelo Valor, não comentou o assunto.

Richa disse estar “com a consciência tranquila” e surpreso com a possibilidade de o ministro levar o caso adiante. “Eu elogio a presidente da República, reconheço a boa parceria e os investimentos que acontecem no meu Estado, publicamente, em emissoras que têm audiência infinitamente maior que a nossa [TV] Educativa”, comentou. “Não faz sentido, como alguns tentaram aventar, um boicote a ela na [TV] Educativa e eu de viva voz estar elogiando a presidente na Globo, no SBT, na Record, na Bandeirantes.”

O imbróglio acontece no mesmo momento em que surgem discussões sobre as eleições do próximo ano. No dia 17, o PT de Curitiba abriu oficialmente a agenda para 2012, com a definição de calendário. O partido vai apresentar até 30 de março sua proposta de aliança ou de candidatura própria. Há um grupo se movimentando para o lançamento de alguém do PT à prefeitura e três nomes estão na disputa – Ângelo Vanhoni, Doutor Rosinha e Tadeu Veneri. Mas não está descartada a possibilidade de união com partidos da base de apoio de Dilma, como o PDT, que cogita lançar o ex-tucano Gustavo Fruet, e o PSC, que tem Ratinho Júnior como nome mais forte. Unidos, esses partidos enfrentariam a reeleição de Ducci, que tem o apoio de Richa. A capital é um reduto importante para o projeto de reeleição do governador em 2014, quando pode vir a enfrentar Gleisi.

“Fizeram de tudo para apagar o brilho da festa”

Com o pedido do PT, a verificação de conteúdo da TV estatal do Paraná foi antecipada e ela será feita com base no que foi ao ar no dia 13 de outubro, “por economia de trabalho”, informou o secretário de comunicação eletrônica do Ministério das Comunicações, Genildo Lins. Segundo ele, há um plano para análise de transmissões de TVs públicas e privadas e o trabalho, “de rotina”, começou em junho por Brasília e São Paulo. “Prefiro esperar”, disse Lins, ao ser questionado sobre a denúncia, que tem dois meses para ser analisada. O trabalho está sendo feito por um técnico. Se for provada alguma irregularidade, a e-Paraná poderá ser punida com multa, suspensão ou cassação de licença.

Richa contesta as críticas à estatal. “O ministro pode fazer o que quiser”, diz, “mas deviam ter mexido na [TV] Educativa do governo anterior.” Ele refere-se ao período em que o Paraná foi governado por Roberto Requião (PMDB), que transmitia toda semana reunião da equipe de governo. “Daí, sim, era uso político, inclusive para agredir adversário.”

Em nota de repúdio distribuída pelo PT de Curitiba, Roseli diz que a “Prefeitura de Curitiba e o governo do Paraná fizeram de tudo ao seu alcance para apagar o brilho de uma festa que deveria celebrar a conquista popular”. Ela reclamou do espaço destinado ao evento, que limitou o acesso a convidados e que tinha goteiras de chuva. A prefeitura informou que o local foi escolhido pela Presidência da República.

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[Marli Lima é jornalista]