Sete milhões de habitantes [dados do Censo 2010 do IBGE] comemoraram no último dia 1º de março os 447 anos da cidade do Rio de Janeiro. Deveria ser motivo suficiente para inúmeros festejos, como se faz em todo aniversário digno de celebrações. O Carnaval, estrategicamente posicionado, surge como uma válvula de escape, o subterfúgio do povo, às vicissitudes quase intoleráveis no âmbito da saúde, educação, política e transportes. É deste último item a abordagem deste modesto autor.
Em tempos tecnocráticos, as sociedades carioca e fluminense clamam, via redes sociais e veículos de comunicação diversos, pela adequação à dignidade de serviços como transportes ferroviários, viários, terrestres e aquaviários. As tarifas vêm sofrendo reajustes a esmo da administração pública. E o pior: a qualidade da prestação só ganha manchetes de jornais e noticiários televisivos, uma vez que a demanda incorre sempre maior que a oferta. Segundo um Estudo da Universidade Federal de Santa Catarina para a Agência Reguladora de Transportes do Rio, a passagem das barcas deveria ser menor do que os R$ 4,50 cobrados a partir de 3/2. Pelo trabalho, a passagem deveria custar R$ 3,18 entre fevereiro de 2012 e janeiro de 2013.
Através de uma reportagem veiculada pela Rádio Tupi, a assessoria da Agetransp informou que os valores fazem apenas parte de uma projeção. Questionado sobre o reajuste pela equipe de reportagem da Tupi, o secretário estadual de Transportes, Júlio Lopes, argumentou que, se a tarifa não subir para R$ 4,50, a concessionária pode acumular um prejuízo de R$ 350 milhões, adquiridos entre 1998 e 2008. O estudo da universidade mostra ainda que, comparando valores entre 2002 e 2007, a empresa Barcas S.A. quase triplicou de tamanho no período.
Trens vêm sendo alvo de críticas
De acordo com informações da Rádio Tupi, ontem, cerca de quinhentas pessoas fizeram protesto na Estação Araribóia, em Niterói. Um oficial de Justiça notificou os organizadores de que o ato não poderia causar danos ao patrimônio, passageiros ou funcionários. O documento estabelecia multa de R$ 5 milhões, em caso de depredação e violência. Indago, pois: qual seria a medida a ser tomada para que os reajustes não tangenciem o abuso do poder dos administradores e acentuem mais as desigualdades de renda nas grandes cidades? Há previsão de 60,00% de aumento salarial na folha da classe média/ baixa da população (para, simplesmente, cobrir os vilipêndios provocados pelos governantes)?
Recentemente, a SuperVia, concessionária que administra os trens, vem sendo alvo de duras críticas pela imprensa local, por conta da circulação irregular das composições nos diversos ramais que ligam bairros periféricos distantes dos centros comerciais. As Comissões de Defesa do Consumidor e de Transporte da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), presididas pelos deputados Cidinha Campos (PDT-RJ) e Marcelo Simão (PSB-RJ), respectivamente, realizaram, em dezembro passado, uma vistoria na oficina da SuperVia, em Deodoro, na Zona Oeste da capital fluminense, para acompanhar a montagem de novos trens, recém-chegados da China.
Maquiagem no “passeio público”
“E agora, José?”. Terá sido suficiente a rédea de uma vistoria da Câmara dos Deputados, no fim de 2011, para dirimir todas as dificuldades enfrentadas pelas concessionárias? O maior empecilho instalado nos serviços de massa no Rio de Janeiro é a absurda demanda demográfica que, em contrapartida, percebe pouca melhoria e quantificação nos módulos de trens, ônibus e metrôs, proporcionando desconforto e impaciência à luz do lucro empresarial.
A beleza natural da cidade conhecida como “maravilhosa” é inenarrável; contudo, os pensamentos habitacionais devem sempre passar pela relação custo x benefício imposta pelos administradores que celebram mais do que fiscalizam, oneram tanto, ao cúmulo de imprimir uma maquiagem vexatória ao chamado “passeio público”, deixando a querida e decisiva condição sin et quae non de sobrevivência a ver navios.
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[Filipe Barbosa é jornalista, Rio de Janeiro, RJ]