O atacante do Botafogo Loco Abreu foi o convidado do programa Redação Sportvnesta segunda-feira (9/4). Conhecido por não ter papas na língua, o uruguaio disparou contra a imprensa esportiva. Perguntado pelo apresentador André Rizek sobre a declaração de um jogador do Cruzeiro, de que ainda perderia muitos gols além dos que já perdeu, Loco respondeu “na lata”. “Eu acho o seguinte: O garoto fez dois gols na partida e o repórter vai lá pra falar justamente do gol que ele perdeu. […] Mas é isso que acontece aqui no Brasil. Já aprendi que aqui não se faz um jornalismo sério, mas um jornalismo de confusão. Ficam explorando a negatividade pra ver se vai render. […]Por exemplo, tem três jornalistas do Globo Esporte com quem não falo mais; eles vão ao treino do Botafogo e eu não falo mais com eles, pois já sei no que vai dar.”
E deu um exemplo: “O jogo acaba o repórter vem perguntar o que eu achei; eu falo que o time jogou num 4-3-2-1 mais avançado e tal […] e aí o cara vai lá e escreve depois que eu tô querendo questionar o treinador. […] Aí agora, sabe o que eu faço? Não falo mais nada.”
Se no gramado Loco não tem rendido o que a torcida alvinegra espera, à frente de um microfone só tenho elogios a ele. O uruguaio, até por sua experiência profissional, foge do lugar comum da maioria dos jogadores que, por morrerem de medo da repercussão de suas declarações, preferem seguir a cartilha do bla-bla-blá. O problema é que os jornalistas se contentam com tais respostas. Ou seja, um finge que falou algo relevante e o outro finge que acredita. Sobra para os leitores/ouvintes/telespectadores/internautas que têm que se contentar com o “teatrinho”.
O jornalismo esportivo, como já afirmei outras vezes, a meu ver está cada vez mais burocrático e igual. É só pegar os jornais ou sites de notícias para ver que as matérias são praticamente as mesmas. A televisão ainda consegue variar um pouco mais, mas no hard news dos clubes, tudo é igual. Em relação à rotulação dos jogadores, como o Abreu falou, a situação fica bem clara. Quando a imprensa decide marcar alguém sob pressão, o ataque é coletivo. Há aquele que perde gols, o gordo, o baladeiro, o bad boy, o fanfarrão, o contestador… E os treinadores: o supersticioso, o retranqueiro, o professoral, o prepotente, o “filósofo”…
Puxões de orelha
Quantos jovens jogadores já não foram queimados por não corresponderem às expectativas propaladas pela mídia? Brincadeiras à parte, o que se fez com o Deivid depois dele perder aquele gol incrível, beirou o massacre. Entende-se que nas mídias sociais a gozação corra solta, mas parte da mídia entrou na pilha. E, nesses casos, se o cara não estiver com sua cota de amor próprio muito em dia, pira.
O “Inacreditável futebol clube” é um exemplo. É engraçado para quem assiste, mas e para quem perde o gol? Uma vez, questionado se merecia o título depois de perder um gol feito, o próprio Loco Abreu teve coragem de dar sua opinião sobre o quadro, que rotulou de palhaçada. A desculpa é de que o futebol não precisa ser levado tão a sério, mas se o deslize parte de dentro das quatro linhas, o discurso é outro, o da cobrança de profissionalismo.
Acho que nosso jornalismo esportivo tem muito a melhorar. É preciso mais ousadia para se livrar de velhos modelos e de soturnas velhas práticas, como a do chamado “jabá” (publicação de material jornalístico favorável em troca de benefícios financeiros ou vantagens pessoais). Por isso mesmo, puxões de orelha como o do uruguaio são bem-vindos e necessários.
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[Rafael Casé é editor do Observatório da Imprensa na TV]