Criminoso, para Paulão, era “vagabundo” – e vagabundo, dizia ele, não tem coração nem vergonha na cara. Foi assim que se notabilizou em Porto Alegre, primeiro como repórter policial do Polícia em Ação, da TV Urbana, depois na versão local do Brasil Urgente (Band). Cobria as “coisas lindas da polícia”, que “ninguém quer mostrar”, disse à PUC-RS.
Irônico, debochava dos criminosos: um deles virou “traficante chorão”, com “Chora Coração” (Wando) de trilha. Até o preso ria, como um rapaz que tentou roubar usando um cabo de guarda-chuva; a vítima era um imitador de Silvio Santos. Grandalhão e falante, Paulão foi criado na periferia de Porto Alegre, filho de mãe analfabeta e em meio a violência. Estudou jornalismo e fez rádio até chegar à TV (em 1995), inspirado em Jacinto Figueira Jr., precursor do estilo “mundo cão”. O estilo, aliás, lhe rendeu a pecha de sensacionalista, que ele aceitava como elogio. Dizia, porém, checar a ficha do acusado antes de chamá-lo de bandido.
Tinha repertório eclético: no Polícia em Ação, anunciou o concurso de felinas da “Carmen's Club”, “grande templo do prazer do sul do país”. À dona, elogiou as garotas e, ao dar o endereço do clube, disse ser “difícil” que alguém não o conhecesse.
Na sexta-feira [27/4], ia para uma ação policial quando um caminhão bateu no carro da Band. Paulão, 59, e o câmera Ezequiel Barbosa, 27, morreram. O repórter foi enterrado anteontem (28/4) em Porto Alegre. Sirenes da polícia foram ligadas para homenageá-lo. Deixou mulher e três filhos.
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[Ricardo Gallo, da Folha de S.Paulo]