Paulo Francis (1930-1997) está de volta, disse a “Ilustrada” outro dia. Será? Antes cêsse. Mas qual Francis? O jovem ator e crítico de teatro? O articulista, correspondente e colunista de jornais? Ou o personagem que ele fazia na TV? Um desses já seria ótimo. Na verdade, houve ainda outro Francis, menos conhecido, mas tão ou mais revelador de sua personalidade: o Francis editor.
Para quem sempre exigiu independência para escrever, como seria o Francis que lidava com colaboradores? Não o peguei editor da lendária Senhor (1959-1962), mas acompanhei-o por todo 1968, em que ele dirigia a revista Diner's, mensal; o “Segundo Caderno”, diário, e o “Quarto Caderno”, dominical, do Correio da Manhã; e os “Livros de Cabeceira” (do homem e da mulher), trimestrais, revistas em formato livro, da Civilização Brasileira.
Francis passava o dia na Diner's, na rua do Ouvidor. Às seis, ia para o Correio, na Lapa (às vezes, íamos juntos, de táxi), onde fechava o caderno do dia seguinte e adiantava o de domingo. Uma vez ou outra, ia à Civilização, na rua Sete de Setembro, tratar dos “Livros de Cabeceira”. Para esses veículos, tão diferentes, Francis bolava ideias para artigos e as propunha aos colaboradores (ou estes lhe levavam sugestões). Recebia e lia na hora os originais, dava-lhes títulos e subtítulos, e procurava (no arquivo do Correio) fotos para ilustrá-los ou recorria a um cartunista (Jaguar, Fortuna ou Vilmar). Era rápido, objetivo. Praticamente não havia equipes – havia ele.
Naquele ano, produzi mais de cem textos para Francis nessas publicações. Não me lembro de ele ter pedido a alteração de uma vírgula -mesmo quando não concordava com o que lia. Não censurava opinião. E com ele, qualquer colaboração, uma vez aceita, era logo paga – e muito bem. Foi o melhor editor que já tive.
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[Ruy Castro é jornalista e escritor]