Não faz pouco tempo que a literatura de massa vem garantindo seu lugar ao sol. O clássico parece ter sido colocado de lado, e o amor (o mesmo que arde sem se ver e é dor que desatina sem doer) parece ter mudado de corpo. A saga Crepúsculo, como atestam os meios de comunicação e o sucesso de venda, desperta cada vez mais admiração em jovens, principalmente de adolescentes entre os 13 e 19 anos. O sucesso do filme tem intrigado pesquisadores da área da literatura e língua pelo tamanho sucesso que a autora obteve em pouquíssimo espaço de tempo entre a publicação do livro e a estreia cinematográfica. Tanto no livro como no filme, Crepúsculo põe em questão temas sociais atuais como sexo, amor, religião (percebido na maçã que a autora escolhe para a capa de um dos livros), relacionamentos entre pais e filhos, dentre outros aspectos relativos à vida privada. É inegável que as escolhas da autora desses temas atraíssem os leitores, uma vez que os adolescentes se encontram com seus indecifráveis conflitos sociais vividos e sentem a necessidade de buscarem respostas. O que não se esperaria é que um livro fizesse parte da vida desse adolescente atual que, por ser tão reconhecidamente ligado a tecnologias mais variadas (celulares, iPod, computadores), são considerados pouco concentrados e pouco afeitos a leituras de livros longos como os da série de livros que se seguiram à publicação do primeiro volume.
O que levaria adolescentes que vivem um momento de liberdade sexual a lerem um livro que tematiza e defende a virgindade antes do casamento? Difícil, senhoras e senhores. O provável até então é que o excesso de liberdade tenha produzido uma banalização da relação amorosa (quando se escuta das mais diversas bocas, por exemplo, quer “ficar” comigo?), o que provoca nelas a falta e, portanto, o desejo de um amor idealizado.
O sentimento que rege a falta
Ouvindo as opiniões alheias, observa-se nas falas dos sujeitos em geral, que, mais pós-modernos e líquidos impossível, a parte em que eles se referem com um tom preocupante à beleza de um amor “puro” que se faz pela afirmação da inexistência desse tipo de relacionamento entre seus colegas. O adolescente, hoje, e até mesmo o jovem, manifesta ressentir a falta de uma relação amorosa em que a jovem seja objeto de cuidado do namorado. Trata-se, portanto, de um ciclo vicioso no qual todos sofrem influência um dia de algo ou alguém. Outro fator de extrema relevância é o processo de horizontalização das famílias. Antes, no padrão vertical, encontrava-se pai, mãe, irmãos e irmãs distribuídos em ordem hierárquica, o que atualmente está meio fora de uso. Hoje, temos, na grande maioria, famílias horizontais, que podem ser compostas por pai, madrasta, meio-irmão, padrasto, etc, o que faz com que a sociedade cresça tentando suprir uma Falta que se tornou gritante.
Como segredos de liquidificador: busca-se a “falta” que cada vez é mais constante – não se ama alguém, mas sim o amor desse alguém por nós. Na verdade, o amor é o sentimento que rege a falta, pois só amamos quando sentimos medo de ficar sem esse amor, comprovando, novamente, que não amamos alguém e sim sua falta. Isso é uma perspectiva que a identidade do mundo pós-moderno vem generalizadamente desconsiderando. A resposta é que os leitores de Crepúsculo, sujeitos do desejo, estão, cada vez mais, buscando a falta desse amor do Outro.
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[Aline Finco é professora, Pindamonhangaba, SP]