A era da informação significa, entre muitas coisas, que seremos cada vez mais transparentes, mais verdadeiros. Cada vez mais publicamos dados pessoais, profissionais e empresariais para quem quiser ver ou para quem queremos que veja. Os perfis nas redes são cada vez mais ricos e detalhados. As redes são cada vez mais ricas e detalhadas.
Se só o começo das novas tecnologias disparou esse big bang social, imaginem as redes sociais daqui a três, cinco, dez anos. Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, fala numa “lei do compartilhamento” (law of sharing), segundo a qual a quantidade de informações compartilhadas digitalmente dobrará a cada ano. É muita informação.
Claro que é possível fazer circular informações falsas nas redes – elas são ótimas para isso também. Mas parece haver em nós uma vontade mais forte de comunicar o que somos, o que pensamos e o que sentimos. Essa eterna busca da verdade, tão velha quanto o ser humano, agora tem ao seu serviço a tecnologia perfeita. O que não é casual nem subproduto de outras buscas. Criamos toda essa tecnologia de comunicação e informação justamente porque ansiamos por nos comunicar e informar. O conhecimento é a mãe do valor. Conhecer é valorizar.
As empresas abertas há muito tempo têm o saudável hábito de abrir seus dados ao público, o que revolucionou a economia. Quando mais pessoas souberam mais sobre as empresas, mais pessoas se sentiram seguras e estimuladas a investir nelas. A verdade constrói. Constrói valor, constrói confiança, constrói prosperidade. Estamos cada vez mais perto dela.
O estudo dos hábitos
Outro dia, o Google abriu para o público seu Project Glass. Um protótipo de óculos que coloca no campo de visão todas as informações e conexões que a web pode oferecer. E ainda obedece ao seu comando de voz. É difícil explicar, de tão futurista. Sugiro dar uma olhada no vídeo que o Google subiu no YouTube para explicar. Basta digitar Project Glass e acompanhar o dia de um usuário dos óculos. Já outro cientista quer criar um software que irá analisar automaticamente as coisas que você lê ou escreve num computador para dizer se aquilo é verdade ou não.
São (r)evoluções como essas que colocarão cada vez mais em xeque o antigo regime no qual vivemos tão confortavelmente, inclusive na propaganda. É o fim da marca fantasia e o começo da marca verdade. Não existe mais empresa e marca. Elas são uma coisa só, uma experiência só, uma verdade só. As marcas agora precisam ter personalidade, integridade e opinião. E, se devemos mais informação aos consumidores, temos muito mais informação para atendê-los.
O turbilhão de dados que deixamos disponíveis nos softwares que nos cercam e nos servem 24 horas por dia começa a ser estudado e estruturado por estatísticos e outros cientistas e terão, em muitas áreas, o mesmo efeito que o sol rompendo a madrugada. É uma luz que torna nossos hábitos transparentes para os bons pesquisadores. O estudo dos hábitos, inclusive, tornou-se área expoente da ciência, muito bem financiado por corporações, por institutos e por universidades.
Transparência total é inviável
Já sabemos que os hábitos muitas vezes são mais importantes do que o raciocínio na hora de tomarmos decisões e que, ao transformamos uma sequência de ações num hábito, como pegar o sabão durante o banho, a nossa atividade mental é muito menor. É muito difícil quebrar um hábito de compra – os publicitários sabem disso.
Em outra coluna que escrevi aqui, disse que a pesquisa estava sufocando a criatividade e a ousadia na propaganda, nos levando a uma acomodação em nome da acomodação do consumidor pesquisado. Uma acomodação hoje fatal. Defendo esse outro tipo de pesquisa, não sobre o que o cliente/consumidor/cidadão quer, mas sobre o que ele é.
Note bem: a transparência total é inviável, até porque o direito à privacidade é fundamental e inviolável. Mas a tendência é clara, e precisamos nos adaptar. A nova realidade, ou a nova verdade, exigirá muito de nós.
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[Nizan Guanaes é publicitário e presidente do Grupo ABC]