Esta frase normalmente está na camisa de funcionários de algumas empresas, mas nunca soa como verdadeira, e sim, como mero marketing. No entanto, ouvir isso de uma jovem adolescente oriunda de uma escola pública e moradora de um ambiente normalmente rotulado como violento, de marginalização e de pessoas sem comportamento adequado, prova que a educação sempre pode mais e que pequenas atitudes dos educadores que ousam, que desafiam e que amam o que fazem, mesmo que governos não queiram nada com educação, assim como pode ser instrumento de uma mágica firme e forte que somente o processo educativo pode traduzir.
A cena é a seguinte: uma aula de geografia (sempre a geografia); os alunos são levados a conhecer a paisagem do espaço circundante e de forma ordeira e alegre caminham pelas ruas do Bairro Pio XII para entender características, contradições e diferenças da paisagem. A atividade é repleta de descobertas, partilha e brincadeira (sim, por que não aprender brincando?). Em um dado momento, uma idosa vem saindo do Posto de Saúde acompanhada por uma funcionária do posto que a conduz pela mão. Ciente da necessidade de pensar a solidariedade pergunto aos alunos: “Que cena bonita estou vendo?” Uma aluna :responde: “A solidariedade da funcionária do Posto ao conduzir a senhora…” Pergunto novamente: “Quem poderia fazer isso?” A aluna responde novamente: “Nós.” E chega para a senhora e pergunta: “Posso ajudar?” Enchi meus olhos de lágrimas ao ver dois alunos ajudando a senhora a caminhar pelas ruas do bairro num ato contínuo que tem a ver com educação e com a solidariedade que às vezes nada tem a ver com classe social ou nível de educação baixa com que são tachados os alunos de Escola Pública no caso Escola Antonieta Cals da Prefeitura de Fortaleza.
Mais que salário
A lição que tive desta aula é que há bons professores na escola pública , pois as professoras anteriores destes alunos (eram alunos do sexto ano) em seus primeiros anos fizeram um trabalho fascinante, desenvolveram valores que a educação pode dar no momento em que a orientação dos alunos é feita com amor, compromisso profissional e responsabilidade mostrando que a educação tem seu lado bom, tem belezas escondidas e sufocadas pela burocracia e desprezo dos políticos, mas podem garantir momentos inesquecíveis e cenas tão belas como essa. A alegria que senti ao ver esta cena faz a gente compreender que a educação pode mais e que todo desprezo aos professores por parte dos gestores e por parte da sociedade ainda é a solução para um futuro melhor. Senti alegria ao ver que há professores e professoras maravilhosos que estão lapidando jovens para serem tão maravilhosos quanto eles.
Professores merecerem muito mais do que salário, devem ser premiados pela sua competência e pelo especial fato de transformarem vida. Mas quem quer mesmo educação de verdade?
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[Francisco Djacyr Silva de Souza é professor, Fortaleza, CE]