Os membros do conselho editorial da Revista de História da Biblioteca Nacional fizeram ontem um pedido de demissão conjunto por discordarem da interferência da Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional (Sabin) em suas decisões, conforme antecipou o blog do colunista Ancelmo Gois, do Globo.
Gestora da revista, a Sabin, presidida por Jean-Louis de Lacerda Soares, demitira em março o editor da publicação, Luciano Figueiredo, em decisão contrária ao conselho. Três meses depois, sem conseguirem garantir a independência, seus integrantes decidiram pela demissão em bloco. “De administradora, a Sabin tornou-se a proprietária e controladora da revista. O Conselho não aceita esta subordinação que lhe tira a autonomia necessária para dirigir uma revista séria e de qualidade”, afirma um dos trechos da carta de demissão, enviada ao presidente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), Galeno Amorim, e assinada por todos os integrantes do conselho, como os historiadores Alberto da Costa e Silva, José Murilo de Carvalho e Lilia Moritz Schwarcz.
A gota d’água foi o pedido feito ao conselho pela Sabin, na semana passada, de sugestões para o nome do novo editor da revista. “A Sabin mostrou persistência em iniciar o processo de escolha de um novo editor. Foram três meses de tentativas infrutíferas de chegar a um entendimento. Por sete anos o conselho, sem qualquer remuneração, dedicou-se com afinco a uma revista de História da mais alta qualidade. Isso só foi possível porque tínhamos liberdade total no plano editorial”, disse Alberto da Costa e Silva, presidente do conselho.
“A Sabin foi intransigente”
Procurada pelo Globo, a Sabin não se pronunciou. Como órgão da sociedade civil, ela tem administração independente da FBN, que, em nota, lamentou a decisão do conselho e disse que a Sabin “foi notificada sobre a necessidade de, caso manifeste interesse pela continuidade da parceria, apresentar sua proposta técnica de edição e gestão, que será devidamente avaliada”. A fundação informou ainda que, segundo recente edital para parcerias na edição de livros e revistas, novas publicações deverão ter conselho editorial escolhido pela própria FBN.
Criada em 2005 sob a gestão de Pedro Corrêa do Lago, então presidente da FBN, a Revista de História manteve o mesmo conselho até este ano. Na época, especulou-se que Figueiredo fora demitido após a polêmica publicação de uma resenha favorável ao livro Privataria tucana, de Amaury Ribeiro Jr. O texto foi retirado do site e seu autor, o jornalista Celso de Castro Barbosa, dispensado por Figueiredo – que foi demitido dias depois.
José Murilo de Carvalho negou que essa tenha sido a causa da demissão de Figueiredo, mas não quis comentar o caso: “Cedemos em alguns pontos, mas a Sabin foi intransigente, não aceitando a presença do editor nem no conselho da revista.”
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[Suzana Velasco, do Globo.com]
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Conselho de revista da Biblioteca Nacional pede desligamento
Reproduzido da Folha de S.Paulo, 12/6/2012
O conselho editorial da Revista de História da Biblioteca Nacional, presidido pelo imortal Alberto da Costa e Silva e integrado por acadêmicos como José Murilo de Carvalho e Lilia Moritz Schwarcz, anunciou ontem sua demissão coletiva, após sete anos na função.
Em carta enviada ao presidente da FBN (Fundação Biblioteca Nacional), Galeno Amorim, os conselheiros atribuem a decisão à “intransigência” do presidente da Sabin (Sociedade dos Amigos da Biblioteca Nacional), Jean-Louis Soares, na condução da crise que atinge a revista desde o início do ano. Os atritos começaram após a Sabin demitir, em março, o editor e conselheiro Luciano Figueiredo, “por razões administrativas internas”, sem consultar o conselho. A partir daí, iniciou-se uma briga para definir a quem caberia apontar o editor. O conselho afirmou ser sua a prerrogativa; a sociedade disse que “quem decide sobre a contratação de um funcionário é a empresa que o paga”.
Galeno Amorim, presidente da FBN, tentou resolver o impasse com um edital formalizando as funções de cada parte: a sociedade iria gerir a revista, e os conselheiros cuidariam do conteúdo e da indicação do editor, sem vetos. A solução não foi bem aceita pela Sabin. Segundo conselheiros ouvidos pela Folha, o estopim para a demissão foi uma carta enviada na semana passada por Soares ao conselho, na qual pedia sugestões para o cargo de editor da revista, indicando que a decisão caberia à Sabin. O conselho tomou a carta como uma ofensa. “De administradora, a Sabin tornou-se a proprietária e controladora da revista”, escreveram os membros.
“Só me resta lamentar a decisão de conselho de tão alto nível. Não tenho alternativa a não ser continuar a buscar um novo editor e montar um novo conselho”, disse Soares. Segundo ele, a Sabin irá contatar instituições como a Academia Brasileira de Letras, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a Casa de Rui Barbosa e a própria BN para indicar membros.
“Para nós, que fizemos essa revista desde o início, é uma situação penosa”, disse o conselheiro José Murilo de Carvalho. Em comunicado, a FBN afirma que “lamenta a decisão do conselho”.
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