Não admira que a Vivendi tenha ficado em silêncio na segunda-feira, sobre o resultado de uma reunião de cúpula para discutir as opções estratégias do grupo francês de mídia e telecomunicações – entre as quais, um desmembramento das unidades de negócios.
De fato, uma divisão ocorreu dias depois, mas foi entre Jean-Bernard Lévy, seu presidente-executivo, e o resto do grupo. Lévy – visto como contrário a um desmembramento – decidiu sair ontem (28/6), aparentemente deixando no controle Jean-René Fourtou, o presidente do conselho de administração, tido como mais favorável à venda de ativos. “Isso significa que Fourtou é quem realmente dá as cartas e está no comando”, disse um banqueiro familiarizado com o grupo. “Mas não quer dizer que vai ocorrer um desmembramento total.”
A partida súbita de Lévy agora levanta uma série de dúvidas sobre o futuro do grupo. Elas incluem a possibilidade ou não de vendas de ativos ou desmembramentos – conforme vêm exigindo alguns acionistas – dos ativos da Vivendi, que incluem a Universal Music, a unidade de videogames Activision Blizzard, o Canal Plus e as operações de TV por assinatura e telecomunicações na França, no Marrocos e no Brasil (a GVT). Ontem, a Vivendi disse que Lévy deixou o cargo “após divergências sobre o desenvolvimento estratégico do grupo”.
Alienações e concessões
Uma pessoa familiarizada com a companhia disse: “Não há um executivo-chefe e nenhum plano de sucessão e, portanto, provavelmente também não há um plano de desmembramento. Está tudo uma bagunça.”
Jean-François Dubos, o secretário administrativo da companhia, vai substituir Lévy até que um sucessor seja encontrado. Mas Michel Combes, o homem que vinha sendo apontado por alguns analistas como o possível sucessor, não vai mais se juntar à Vivendi, uma decisão tomada dias depois da reunião do fim de semana. Combes, ex-presidente da Vodafone para a Europa, havia concordado em entrar para a Vivendi como presidente da SFR, a operadora de telecomunicações francesa que foi abalada por uma guerra de preços na França desencadeada pelo lançamento da Free, uma aposta da Iliad na área de telefonia móvel.
Qualquer desmembramento envolvendo uma saída da Universal seria difícil de ser concretizado enquanto as incertezas sobre a proposta de 1,2 bilhão de libras feita pela Universal pelas operações de gravação de música da EMI não forem resolvidas. O negócio foi organizado originalmente por Lévy e agora está sendo investigado atentamente pelas autoridades reguladoras de Bruxelas e Washington. O acordo poderia dar à Universal, que já é a maior gravadora do mundo em receitas, uma participação de 40% a 50% em certos mercados. Analistas e especialistas do setor disseram acreditar que a Universal terá de oferecer alienações significativas e concessões comportamentais para conseguir uma aprovação reguladora para o negócio.
Os níveis de endividamento
Entretanto, eventuais vendas de ativos poderão afetar os ganhos da Vivendi resultantes do negócio, uma vez que ela prometeu pagar ao Citigroup, a controladora da EMI, 1,1 bilhão de libras do preço de aquisição de 1,2 bilhão de libras até setembro, independentemente da aprovação ou não da compra pelas autoridades reguladoras. A saída de Lévy parece ter sido acelerada pela decisão tomada esta semana por um júri em Nova York, ordenando que a Vivendi pague € 765 milhões a título de perdas e danos para a Liberty.
O caso está relacionado a um acordo de transmissão de TV de US$ 10,3 bilhões que as duas companhias firmaram quando o grupo francês era comandado por Jean-Marie Messier, uma década atrás, e envolve cerca de mil demissões voluntárias no próximo mês. Claudio Aspesi, analista da Bernstein Research, disse que o fato de a Vivendi ter feito um depósito em garantia de US$ 1 bilhão após o julgamento envolvendo a Liberty nos Estados Unidos, “vai despertar mais atenção para os níveis de endividamento do grupo”.