Dizer obviedades não é privilégio de ninguém, ou, melhor dizendo, ninguém escapa de dizê-las durante a vida, mesmo os mais sábios e originais pensadores. Mas não posso concordar, em absoluto, que coisas óbvias sejam apresentadas como notícias, mormente na chamada grande imprensa. Refiro-me ao artigo dos jornalistas Demétrio Weber e Luiza Damé, de O Globo, postado na madrugada de domingo (8/7) no Blog do Noblat e intitulado “Muito ‘Brasil’ e pouco ‘PT’ nas palavras de Dilma”.
A dupla de jornalistas, parece brincadeira, se dispôs a analisar todos os discursos da presidenta Dilma para provar, vejam bem, provar, por A mais B, que a Dilma não é o Lula. Informam os jornalistas que “O Globo analisou as falas públicas de Dilma classificadas como discursos na página oficial da Presidência da República na internet, no período que vai da posse, em 1º de janeiro de 2011, até 29 de junho de 2012”. Eu nada teria contra esta pesquisa não fosse a pífia, e mesmo inconsequente, conclusão a que ela chegou: que em seus discursos oficiais, a presidenta poucas ou, se quiserem, muito poucas vezes citou a sigla PT ou nominou o Partido dos Trabalhadores tendo, no entanto, falado, muitas vezes, a palavra “Brasil” (sic), que é a denominação da nação que ela preside.
Pergunto ao leitor: em que acrescenta esta notícia, tão trabalhosamente construída? Será que existe nela alguma vontade de dizer que há um divórcio entre o criador e a criatura? Será que, ao realizar a tal “pesquisa”, já não havia a intenção deliberada de “provar” que a Dilma é mais Brasil e o Lula é “mais PT”? No entanto, não há como escapar: Os jornalistas conseguiram provar o que ninguém põe em dúvida: Lula é o Lula e a Dilma é a Dilma. Foi uma grande descoberta!
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[Joca Oeiras é jornalista]