Quando Eduardo Sirotsky Melzer assumir, hoje (3/7), o cargo de presidente-executivo da RBS, a terceira geração da família Sirotsky estará chegando ao comando de um dos maiores grupos de comunicação do país, com 18 emissoras de TV, oito jornais e 24 emissoras de rádio. Aos 40 anos de idade, Duda, como costuma ser chamado, é filho de Carlos Melzer, membro do conselho da RBS, e de Suzana Sirotsky, a primogênita do fundador do grupo, Maurício Sirotsky. Mais velho entre os 14 netos, ele substitui o tio, Nelson Sirotsky, que vai se dedicar ao posto de presidente do conselho de administração, que acumulava com a presidência da empresa.
A mudança, anunciada no fim de maio, encerra um processo de sucessão iniciado há dois anos, quando Eduardo foi nomeado para a vice-presidência executiva do grupo, no qual ingressou oito anos atrás. A indicação ao posto foi o ponto de partida para um plano de reformulação dos negócios do grupo. “Um dos objetivos era que eu desse o encaminhamento estratégico ao projeto”, disse o empresário ao Valor, na semana passada, em entrevista no escritório do grupo em São Paulo, localizado próximo ao parque do Ibirapuera, um cartão postal da cidade.
Parte dessas mudanças já é visível. Em quatro anos, a RBS adquiriu participações em oito empresas de internet, muitas delas nos últimos meses. Com o movimento, criou um braço de negócios praticamente do zero, com participações que vão da Predicta, uma consultoria de marketing digital, até a Wine, especializada no comércio eletrônico de vinhos. A receita com os negócios digitais já faz diferença – a unidade responde, hoje, por 10% da receita líquida, de R$ 1,3 bilhão no ano passado.
Dois egressos da Telefonica
Mas a maior parte das mudanças, das quais se espera emergir o novo desenho da RBS, ainda está por vir. E caberá a Eduardo efetivar as medidas para redesenhar os negócios, sem abrir mão da herança do grupo, maior afiliada da Rede Globo de televisão.
Eduardo é cuidadoso ao explicar as alterações no grupo. Em linhas gerais, a RBS vai estabelecer uma holding, sob a qual vão funcionar três companhias diferentes: uma de comunicação (TV, rádio e jornal), outra de internet e a terceira de educação empresarial. As companhias terão seus próprios CNPJ, o cadastro de pessoa jurídica, o que deixa claro o grau de independência entre elas. A primeira, que reúne os negócios mais tradicionais, continuará sediada em Porto Alegre, da mesma forma que a holding. A RBS não tem intenção de ingressar na mídia em outras regiões, além do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, onde está estabelecida. As demais empresas, cuja atuação não obedece a limites geográficos, terão sede em São Paulo.
Cada empresa terá seu próprio comando, um ponto que a direção da RBS vem acertando nos últimos meses. A unidade de mídia ficará a cargo de Eduardo Smith, um veterano do grupo; a de internet será responsabilidade de Fábio Bruggione, egresso da Telefonica; e a de educação será conduzida por Mariano de Beer, também ex-Telefonica. Todos se reportarão a Eduardo, que prevê um grau de envolvimento diferente em cada empresa, dependendo da maturidade do negócio e do desenvolvimento de cada um deles ao longo do tempo.
“Um sócio estratégico”
Até os nomes das empresas que funcionarão sob a holding poderão ser diferentes. O grupo estuda, inclusive, se vai ou não estender a marca RBS a todos eles. “Isso vai depender do valor que marca RBS agrega a cada empresa”, disse Eduardo ao Valor. A estimativa é que a conclusão do processo de formalização das três empresas e as definições que restam, como os nomes das companhias, sejam definidas nos próximos meses, antes do fim do ano. A nova estrutura da RBS reflete a tendência de diversificação dos grupos de mídia, que têm sido desafiados pela internet e a distribuição digital de conteúdo. “São negócios que interessam ao grupo e têm ligação entre si. Não estamos entrando em celulose ou salsicha”, disse Eduardo.
Na área da internet, as aquisições da RBS têm sido financiadas com recursos próprios e a expectativa é que essa seja a fonte para eventuais novos movimentos. Segundo o empresário, a empresa tem recursos para financiar os investimentos mapeados para os próximos dois ou três anos. Em julho do ano passado, a RBS reforçou o caixa com a captação de R$ 300 milhões em debêntures não conversíveis em ações. “Não somos especuladores, mas estamos sempre atentos às oportunidades de mercado”, disse Eduardo.
A RBS não tem interesse em uma oferta pública inicial de ações, mas não elimina eventuais sociedades. “Se entendermos que há um sócio estratégico no mercado capaz de acelerar nossos planos de negócios, estamos muito abertos a isso”, afirmou o empresário.
Mídia responde pela maior parte do faturamento
A unidade de educação também já conta com uma base: a HSM Educação, de cursos de MBA e programas para executivos, e a HSM, de realização de eventos. A participação nessa última coube à RBS depois que a companhia saiu da sociedade que mantinha com as Organizações Globo na Geo, de eventos e entretenimento.
Apesar da diversificação, a expectativa para os próximos cinco anos é que a composição de receita não mude radicalmente, com a área de mídia respondendo pela maior parte do faturamento, mesmo com o crescimento mais rápido das demais unidades. Segundo Eduardo, é que, ao contrário dos Estados Unidos e da Europa, onde a mídia tradicional tem apanhado da internet, no Brasil a expectativa é que essa área continue a crescer.
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[João Luiz Rosa, do Valor Econômico]