Antes elas eram as abomináveis piranhas, cachorras e ratazanas, que devoravam os maridos e namorados alheios. Hoje são as adoráveis periguetes, queridas até entre as crianças, as famílias e o público mais conservador. Antes eram groupies de bandas de rock, ripongas calça-frouxa e marias-chuteira, que ganharam alforria com a pílula anticoncepcional, viraram grupo de risco depois da Aids e fizeram dos testes de paternidade por DNA um meio de vida.
Deborah Secco é a rainha das periguetes na televisão, temperando seu sex-appeal com um lado doce e vulnerável, como as putinhas românticas de Fellini, e ganhando sempre das moças de família na preferência do público. A Deborah discreta e tímida da vida real, com sua voz rouquinha e seu talento de atriz, vira um vulcão sexual sempre prestes a explodir, incendiando desejo e medo nos espectadores. Assim como Regina Duarte era a namoradinha, Deborah é a periguete do Brasil.
Mas não se iludam com a eventual doçura e os bons sentimentos da periguete. Como o próprio nome indica e o clássico das Frenéticas adverte, ela é bonita e gostosa, mas perigosa. No seu pacote está incluída a perspectiva de virar uma chave de cadeia. Mas, como tudo na vida, há periguetes do bem e do mal, as que têm amor à sua escolha e a exercem com alegria e sem culpa, e as sanguessugas vocacionais, as alpinistas sociais e as golpistas profissionais, que usam o corpo como arma. Como Mariana Ximenes em Passione.
“Página virada”
Um dos maiores sucessos do megassucesso Avenida Brasil é Isis Valverde como a periguete boliviana Suélen, boa de cama e de mesa, que faz gato e sapato dos corações masculinos do Divino com seu mix de malícia e ingenuidade, espontaneidade e malandragem, e sua capacidade infinita de seduzir e de enganar. As novelas não vivem mais sem elas, que inspiraram Chico Buarque no “Hino das Periguetes”:
“Se acaso me quiseres, sou dessas mulheres que só dizem sim, por uma coisa à toa, uma noitada boa, um cinema um botequim (…) mas na manhã seguinte, não conta até vinte, te afasta de mim, pois já não vales nada, és página virada, descartada do meu folhetim.”
***
[Nelson Motta é jornalista, escritor, compositor e produtor musical]