Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A economia e a finança detêm a hegemonia sobre a política

O que já estava bom sempre pode melhorar. Foi o pensamento que me ocorreu ao ler a CartaCapital de 18 de julho de 2012. Não bastasse a contratação recente de Vladimir Safatle, que representa um novo tipo de pensador plural que foge dos clichês e também dos guetos especialistas que veem o mundo sob um único prisma, fui surpreendido pelo artigo “Classe Média, que significa?” da coluna “Fronteiras”, de Claudio Bernabucci, novo colunista da revista. Eis um colunista capaz de tocar, de um modo original, sem as fórmulas e conceitos da esquerda já gastos e que mais servem, como bem diz Norberto Bobbio, acerca da ideologia ortodoxa, “mais como obstáculo do que como instrumento para apreender a realidade”.

Em um primeiro momento, Claudio Bernabucci é capaz de perceber a situação singular do Brasil quando diz que “é verdade que no Brasil também a economia e a finança detêm a hegemonia sobre a política, mas – diferentemente do resto dos países democráticos – as escolhas iluminadas dos últimos tempos construíram uma solidez financeira pública que permitiria à política espaço de manobra mais amplo do que em outras latitudes”. Neste particular, deve- se registrar que esta condição só existe graças ao fato do projeto tucano ter sido em parte abortado com a quebra de continuidade ocorrida graças à vitória de Lula. Embora FHC e os tucanos busquem negar, existem vários registros de declarações na imprensa de que o passo seguinte do seu grupo de poder seria aprofundar o fim da Era Vargas com a venda da Petrobras, Banco do Brasil, Eletrobrás, Caixa Econômica Federal. Retirado estes entraves, a mão invisível do mercado se encarregaria de instaurar “uma nova renascença”.

Eleitores conservadores

Ao mesmo tempo em que reconhece esta condição virtuosa, o novo colunista da CartaCapital alerta sobre os perigos que pairam devido a despolitização desta nova classe média, que, paradoxalmente, está imobilizada em função do próprio deslumbramento com o novo patamar de consumo e de classe alcançado, somado a apatia das forças progressistas e democráticas devido a parceria com o governo. Diz ele, com muita propriedade que, diferentemente das forças neoliberais, as forças progressistas e democráticas não podem se “dar ao luxo” de se acomodar com vitórias ocasionais. Existem mundo a fora, em especial na Europa, muitos exemplos de como um refluxo na participação popular redunda em um ceticismo ideológico que ao fim e ao cabo trabalha a favor da direita. Quando todos são iguais na politica, prevalecem, na cabeça do cidadão, os originais, conclui Claudio Bernabucci.

Estamos, pois, segundo Claudio Bernabucci, em um momento histórico que requer que as forças democráticas e progressistas – aqui entendido um leque que amplo que engloba os republicanos sinceros, os verdadeiramente liberais e a esquerda democrática – não deixem de aproveitar a oportunidade histórica que se oferece e faça a sua lição de casa que compreende “forjar a prática de cidadania, valorizar o papel irrenunciável dos sindicatos independentes e das organizações da sociedade civil e investir pesadamente em educação.”

Acredito que se não fizermos nada no sentido proposto pelo competente articulista, corremos o risco de ver esta “nova classe média” se transformar, no curto ou médio prazo, em eleitores conservadores. A imprensa tradicional, aliada e parte da elite branca e perversa, como disse o conservador Claudio Lembo, trabalha diuturnamente neste sentido.

***

[Jorge Alberto Benitz é engenheiro e consultor, Porto Alegre, RS]