Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mudou a cor da grama

Pode parecer idiotice. Mas a verdade é que estou tão acostumado com a cultura da Rede Globo aberta que se a Olimpíada não passa lá, parece que não está acontecendo de verdade. Fica distante. A Globo e o Galvão Bueno estão cobrindo a Olimpíada via Globosat, mas não é a mesma coisa. Lá, com seus convidados, parece que ele está no quintal, no lavabo, não é como se estivesse na sala de visitas agitando, gritando, esperneando e fazendo o povo brasileiro virar uma torcida de verdade, com sentimento e sofrendo por seus atletas. Ele é chato? É. Mas não há locutor com maior empatia com a nação brasileira do que ele… Gostem ou não.

O brasileiro nunca foi muito entusiasta de esportes olímpicos, mas aos poucos essa tradição vem crescendo. Prova disso é que as últimas duas Olimpíadas tiveram as duas maiores delegações brasileiras enviadas aos jogos: em Londres são 259; na China eram 277. E, se tem alguma emissora com papel determinante no processo de “olimpização” brasileira, é a Globo. A Record, detentora dos direitos na TV aberta, está fazendo uma cobertura ok. Acho ótimo que eles melhorem cada vez mais e representem uma alternativa na TV aberta, empurrando a Globo na parede. Mas, ao mesmo tempo, fico feliz em saber que a Copa do Mundo de Futebol será transmitida pela Globo em 2014, 2018, 2022. Se não fosse pela qualidade profissional dessa emissora mundialmente reverenciada, diria que “globodependência” é quase psicológica.

Atmosfera olímpica

Uma questão de tradição. Enquanto telespectador, a informação pode ser conseguida do mesmo jeito, na internet, ou depois de achar a Record na TV (em casa, seria canal 519? Alguém sabe de cor?). Mas quando a informação está na Globo, parece que ela vem até você, e não o contrário. Por aí, a gente ouve alguém perguntando: “Você viu o brasileiro no judô?”, e a resposta é quase sempre “não”. Parece que ninguém está vendo nada mesmo! Mas, se fosse na Globo…

O que faz diferença nesse caso não é necessariamente ter o Galvão ou uma estrutura jornalística invejável, mas, sim, ser top of mind, líder absoluta em audiência em praticamente todos os horários do dia, principalmente quando passa suas novelas esterotipadas, piegas e apelativas. As televisões são ligadas e, em geral, o primeiro canal visitado é o da Globo. Ou seja, se ela quiser, faz o povo abraçar as Olimpíadas, o que é muito mais saudável para a diversidade de modalidades esportivas do que meter goela abaixo esses trogloditas do UFC e futebol acima de todos os esportes. (In)felizmente, as Olimpíadas 2012 estão nas mãos da Record, mas até que ela se torne páreo ou lidere as preferências, queria mesmo é curtir a atmosfera olímpica que a Globo teria maior sucesso em criar.

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[Ricardo de Barros Bonchristiani Ferreira é jornalista, São Paulo, SP]