Euforia. Muita euforia. Esta foi a tônica da cobertura da imprensa britânica nestas pouco mais de duas semanas olímpicas, motivada pela vitoriosa sequência de pódios da equipe do Reino Unido. Até houve apreensão no início, quando as medalhas vinham em menor número e não chegava um ouro, mas com o andamento da competição o otimismo tomou conta e foi muito comemorado o incontestável terceiro lugar no quadro de medalhas (29 de ouro, 17 de prata e 19 de bronze, total de 65).
Números para festejar mesmo, mas isso produz na cobertura um efeito curioso, mas inevitável, pois os fatos é que motivam a pauta. É que, em um universo tão rico como os Jogos Olímpicos, são várias as histórias a contar. Com mais de 200 países reunidos, há muita oportunidade de mostrar outras realidades ao público consumidor de notícias. E isso a imprensa britânica ficou devendo, embora tenha trazido alguns temas de interesse. Um deles a questão da participação feminina, cada vez mais importante e efetiva, e reportagens e colunas de opinião discutiram o assunto, sempre encarando a participação feminina de forma muito positiva – como naturalmente não poderia deixar de ser.
Outro tema que frequentou o noticiário foi a procedência das medalhas segundo a formação de educação básica do atleta. Mais da metade dos britânicos que frequentaram o pódio vieram de escolas privadas, que só atendem 7% da população. Com o fim dos Jogos, sem mais pódios a comemorar, a pauta tende a voltar.
Também deve retornar a questão do legado. O esportivo se faz presente todos os dias na cobertura, pois a pergunta é como fazer para manter este excelente desempenho também no Rio de Janeiro, em 2016, quando a disputa não é em casa. No entanto, um exame dos números recentes do Reino Unido mostra que o número de pódios de Londres está longe de ser circunstancial. Em 2000, em Sydney, foram 28 medalhas, sendo 11 de ouro. Em 2004, em Atenas, números parecidos, com 30 medalhas, sendo nove de ouro. Em Pequim, crescimento significativo: 47 medalhas, com 19 de ouro. Em Londres, 65 medalhas, sendo que o aumento de ouros é muito significativo, de pouco mais de 50% (foram 29 vitórias).
Presença da TV
E pela primeira vez toda esta emoção pôde ser acompanhada em sua totalidade pelo telespectador. A BBC abriu 24 canais em HD e outros em 3D e levou ao ar toda a programação gerada pelo Olympic Broadcasting Services, o que significa tudo de tudo que é disputado e também as cerimônias de medalhas. O torcedor de poltrona nunca viu nada igual. De manhã cedo até o início da madrugada, algo sempre estava disponível. Era tanta coisa que nem mesmo a poderosa BBC tinha gente para acompanhar tudo. Alguns poucos eventos iam ao ar com imagem e apenas o som ambiente (poucos, é preciso reforçar). O que dá uma sensação de estranhamento para quem assiste.
Em uma competição que valoriza tanto o conceito do legado, a imprensa não percebeu – ou não percebeu na sua grandeza – que a TV em Londres também fez a sua parte.
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[Roberto Falcão é jornalista]