A empresa que edita o New York Times encerrou quase oito meses de busca ao anunciar, ontem, seu novo presidente-executivo, o ex-diretor-geral da BBC Mark Thompson.
Em comunicado à Redação, o presidente da Times Co., Arthur Sulzberger Jr., destacou que Thompson transformou a BBC num “local de inovação constante” e que, no jornal, vai priorizar a ampliação de sua “cultura própria de inovação e transformação”.
Em comunicado à imprensa, Sulzberger, também publisher do jornal, acrescentou que a escolha foi tomada, pelo conselho da empresa, levando em conta as “fortes credenciais” de Thompson no trabalho de “levar a marca confiável da BBC a novos serviços e produtos digitais”.
Ele agora terá como tarefa estender o alcance do NYT a “novas e emergentes plataformas digitais”, mas também “ao redor do mundo”. A gestão de Thompson na BBC, a rede pública do Reino Unido, foi caracterizada por esforços nas duas frentes.
Também em comunicado à imprensa, Thompson afirmou que o NYT “é um dos grandes provedores de notícias do mundo e uma marca de mídia com imenso potencial de futuro”. Descreveu como “um privilégio” se juntar ao jornal no momento em que ele “embarca no novo capítulo de sua história”.
A eventual escolha de Thompson havia sido adiantada há pouco mais de um mês pelo Guardian, sublinhando que o NYT buscava um executivo com experiência em tecnologia.
Também chegaram a ser sondados, segundo a agência Bloomberg, Paul Sagan, da Akamai Technologies, e L. Gordon Crovitz, ex-publisher do Wall Street Journal e um dos criadores da start-up Press+, voltada à digitalização de jornais.
Novo contexto
Na BBC desde 1979, quando começou como trainee, o inglês Thompson comandou a cobertura da rede, on-line inclusive, durante os Jogos de Londres, encerrados no fim de semana.
Aos 55 anos, ele vai ocupar o lugar de Janet Robinson, demitida em dezembro depois de negócios malsucedidos como a compra do site “About.com” – que o jornal, na semana passada, teria vendido para o site concorrente “Answers.com”, em acordo ainda a ser finalizado.
O analista de mídia Ken Doctor ressaltou que a escolha de Thompson pode ser creditada, em parte, aos oito anos em que ele conseguiu resistir à violenta concorrência da News Corp., de Rupert Murdoch, no Reino Unido. E também às similaridades entre duas marcas símbolos de seus respectivos países, NYT e BBC.
Já o analista Dan Gillmor, professor de mídia digital na Universidade do Arizona, questiona se “o ex-chefe de uma organização jornalística financiada por impostos”, a BBC, “pode se ajustar ao capitalismo” do NYT.
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Jornal aposta em receita de conteúdo digital
O modelo de cobrança do site do jornal The New York Times, que em março do ano passado inaugurou um modelo “poroso” de cobrança (paywall), com acesso gratuito para um número limitado de artigos, tem ajudado a reduzir os prejuízos do jornal.
Desde o início deste ano, a receita com assinaturas do grupo New York Times Company supera as receitas obtidas com anunciantes.
No segundo trimestre, a receita de circulação alcançou US$ 233 milhões, alta de 8,3%, impulsionada tanto pela versão impressa quanto pela digital do New York Times.
Já a receita com publicidade nos três principais jornais da companhia (o Times, o International Herald Tribune e o Boston Globe) caiu 6,6%, para US$ 220 milhões.
O reequilíbrio das contas por meio das assinaturas é visto como o início de uma nova era em um setor que, nos EUA, há tempos confia na publicidade para se manter.
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[Nelson de Sá, da Folha de S.Paulo]