Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Filmes chegam à web antes dos cinemas

O filme Bachelorette, estrelado por Kirsten Dunst e produzido por Will Ferrell, só chegará aos cinemas no dia 7 de setembro, nos Estados Unidos. Mas já dá para alugar a picante comédia no iTunes, da Apple, nos EUA, por US$ 10.

Bachelorette(que significa “solteira” e ainda não tem data de estreia no Brasil) é o primeiro filme da Radius-TWC, uma nova divisão da Weinstein Co. cuja missão é distribuir filmes de orçamento baixo como esse de novas maneiras, subvertendo o sistema de lançamento que Hollywood vem usando há décadas. O modelo tradicional consiste em estrear os filmes sucessivamente no cinema, no vídeo e na televisão para maximizar a lucratividade de cada meio.

Mas, na era da internet, tal sistema está começando a apresentar rachaduras, já que os consumidores ficaram acostumados a decidir por conta própria quando, onde e como procurar diversão, em vez de seguir regras enferrujadas que são essencialmente arbitrárias.

Bacheloretteestreou em 10 de agosto on-line e em serviços de vídeo sob demanda, quase um mês antes que nos cinemas. Depois de passar na telona, ele será lançado em DVD depois do Natal. Aí, em mais uma mudança, o filme será oferecido exclusivamente pelo serviço on-line de assinaturas da Netflix, segundo um novo acordo que põe o serviço de transmissão de vídeos em uma posição na cadeia alimentar normalmente ocupada pelos canais pagos de TV a cabo HBO, Showtime ou Starz. Os termos do acordo não foram revelados, mas os canais “premium” de TV a cabo geralmente pagam generosas quantias por essa exclusividade de longo prazo.

Até agora, o experimento parece promissor. Bachelorette tornou-se o filme mais alugado no iTunes em 36 horas depois de lançado – a primeira vez que isso acontece com um filme que ainda não apareceu nos cinemas, segundo um porta-voz da Apple.

Tentativa e erro

Os executivos da Radius disseram que o filme faturou cerca de US$ 500 mil nos seus três primeiros dias on-line, receita semelhante à que um filme comparável poderia obter durante o mesmo período nos cinemas. Por exemplo, “Moonrise Kingdom”, a mais recente comédia do diretor Wes Anderson, amealhou em torno de US$ 523 mil neste ano nos seus três primeiros dias no cinema, segundo a provedora de dados Box Office Mojo.

A abordagem da Radius não é inteiramente nova. Tom Quinn e Jason Janego, presidentes da empresa, vieram da Magnolia Pictures, uma distribuidora independente que pertence ao bilionário dos esportes e da internet Mark Cuban. Desde 2008, a Magnolia faz experiências lançando filmes em vídeo sob demanda antes que nos cinemas. A IFC Entertainment também já estreou filmes dela primeiro em vídeo sob demanda.

Mas Bachelorette, cujo elenco inclui Isla Fisher, Lizzy Caplan e James Marsden, está entre os filmes de maior calibre a serem lançados dessa forma. E, através da sua divisão Radius, a Weinstein está entre os maiores estúdios a realizarem um experimento dessa amplitude.

Quinn diz que a Radius planeja lançar filmes e documentários B: que têm orçamento baixo e são geralmente lançados diretamente em vídeo. Mas a companhia também está estudando distribuir on-line mais filmes atraentes para o grande público e com potencial de ganhar prêmios, como o futuro drama “Only God Forgives” (“Só Deus Perdoa”, em tradução livre), que junta o diretor de “Drive”, Nicolas Winding Refn, e o ator Ryan Gosling.

Os novos métodos de distribuição representam uma fatia em rápido crescimento de uma torta que está encolhendo. As vendas digitais, incluindo vídeo sob demanda e filmes baixados legalmente da internet, aumentaram 51% em 2011 contra o ano anterior, para US$ 3,4 bilhões, segundo a Digital Entertainment, uma organização do setor. Ao mesmo tempo, o total de gastos domésticos com diversão nos EUA, incluindo vendas e aluguéis de DVD e discos Blu-ray, caiu 2%, para US$ 18 bilhões, informou a organização.

Enquanto isso, o faturamento de bilheteria caiu 4% em 2011, para US$ 10,2 bilhões, já que ingressos mais caros não compensaram o declínio do número de pessoas que vão ao cinema.

Quinn diz que ele e Janego não estão preconizando o abandono total do antigo sistema de lançamento. Eles só acreditam que alguns filmes se beneficiarão de abordagens diferentes, as quais, eles reconhecem, vão exigir ajustes na base de tentativas e erros. “Ainda estamos aprendendo”, diz Quinn.

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[Michelle Kung, do Wall Street Journal]