Ainda que a onda de recriminação e a campanha de contrainformação protagonizada por diversos órgãos de mídia e pelo governo Dilma Rousseff tenham um peso brutal, conseguimos ultrapassar 104 dias de greve. De fato, estamos todos muito cansados. Porém, neste momento é preciso que tenhamos calma e tenacidade para que possamos renovar o fôlego e perseverar. Obviamente não é fácil dizer isto para trabalhadoras e trabalhadores que vêm sendo sistematicamente cobrados para que voltem aos seus postos de trabalho.
O viés mais utilizado da campanha recriminatória que sofremos é o de que estamos prejudicando centenas de milhares de jovens em todo país. Quase nunca vemos na construção discursiva dos veículos de comunicação uma ênfase real às nossas pautas de reivindicações. Realmente, os estudantes são as maiores vítimas, mas não do movimento paredista docente, e sim, do descaso histórico com o qual a educação brasileira é tratada.
Resistimos aos mais diversos ataques, ameaças e intimidações por parte do governo Dilma Rousseff que, após tentativas inócuas de dissuadir o movimento grevista dos docentes, aposta no silêncio e na ruptura de canais de negociação (os quais nunca existiram, efetivamente) como forma de cansar a categoria. Porém, mesmo com toda virulência desferida, nos mantivemos firmes. Agora, mais do que nunca, é preciso refletir sobre um pouco do legado intelectual do pensador italiano Antonio Gramsci que dizia: “Pessimismo da razão, otimismo da ação”. Outros conceitos importantes que foram trabalhados por Gramsci são os de hegemonia e o de guerra de posições. Isso mesmo, estamos numa guerra de posições disputando hegemonia com o governo Dilma Rousseff. Talvez me chamem de ingênuo ou de utópico por pretender tarefa de tal envergadura, mas não esqueçamos do nosso papel enquanto agentes históricos. Nosso ofício é dedicado ao educar. Será este um poder pequeno?
O poder simbólico
Recentemente vários “intelectuais” de fachada, os quais muitas vezes recebem gordos financiamentos para legitimar discursos oficiais, apareceram para proferir insultos contra nossas reivindicações, mas destes não podemos esperar nada, pois se constituíram em “intelectuais” justamente por serem adesistas de plantão. Um deles nos disse que tínhamos o comportamento de crianças e até um belo texto foi escrito para rebater o dito senhor. Este texto, a meu ver, apesar de bem escrito, nem seria necessário. Bastaria dizer a este senhor o que Gonzaguinha diria: “Eu fico é com a pureza das respostas das crianças”.
E nada melhor para um docente, na acepção plena da palavra, do que falar sobre (e para) a juventude. Isso anima o perseverar e recarrega as baterias da motivação. Ela, a juventude, é nosso maior patrimônio e fonte de inspiração. Sim, digamos em alto e bom som, sem vergonha, com altivez e olhando nos olhos de quem quer que seja: a nossa luta é em nome da juventude brasileira. Lutamos em nome de algo muito maior que está para além das malhas salariais frias e ilógicas apresentadas pelo governo Dilma Rousseff.
Resistir é fundamental, sobretudo com a proximidade das eleições municipais. Digo isto porque a classe política de nosso país só consegue entender um tipo de linguagem, a do voto. E mesmo que a docência em nosso país esteja sendo historicamente dilacerada, não conseguiram tirar de nós o poder simbólico de formadores de opinião. Acredito que temos um papel central neste momento eleitoral. Talvez, com a exposição das contradições de suas posturas, os políticos optem por ações concretas na educação. Para isto a greve docente deve continuar e se intensificar.
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[Antônio Arapiraca é físico e professor, Belo Horizonte, MG]