A mídia, em geral, não costuma ousar muito durante a cobertura dos processos eleitorais. Vez ou outra surge uma manchete para esquentar o tom das campanhas – o que não significa uma adoção de conduta em favor da população. A polêmica em torno da bolinha de papel (ou rolo de fita adesiva) que teria machucado um então candidato à Presidência da República em 2010 foi um exemplo marcante. Porém, recentemente, uma matéria de capa voltou a desafiar o talento dos veículos de comunicação em pautar as eleições de forma mais colaborativa e elucidativa.
Em meio a pesquisas de intenção de votos e divulgação da agenda diária dos candidatos à prefeitura da maior cidade do país, uma revista local, pouco conhecida e gratuita até no nome (Free São Paulo) publicou “10 motivos para não votar neles”. Já no editorial da primeira página, a matéria se justifica como “uma eficiente lista de argumentos para os eleitores debaterem com seus amigos, parentes, colegas de serviço”. Por outro lado, ao iniciarmos a leitura dos primeiros parágrafos da matéria fica fácil identificar a sua inspiração em fontes tradicionais nos veículos de comunicação. A revista inverteu o ponto de vista sobre a periódica consulta de possíveis votos junto a eleitores para expor o índice de rejeição dos candidatos e elaborar um guia de motivos para evitá-los nas urnas.
Como se políticos já não gozassem de uma má fama e o critério de exclusão não fosse a melhor saída para escolher em quem confiar seu voto, mais um clichê se apresentou no texto, que até chama atenção pela mudança de foco: somente os seis mais bem colocados nas pesquisas dos institutos especializados foram “beneficiados” com um espaço na lista de defeitos. É comum partidos “nanicos”, de pouca representatividade, serem ignorados pela indústria da comunicação, em pleno evento democrático.
Comprometimentos político-ideológicos
Entre os motivos negativos levantados, a própria revista alerta que eles podem, na visão de alguns, “soar como positivos” para outros (e o que soa, não é, exatamente). Assim, o texto de Gil Campos equipara, por exemplo, a defesa dos direitos de homossexuais à acusações de agressão; a defesa da legalização da maconha à acusação de pagamentos para empresas estrangeiras por obras sem licitação. Uma manifestação bastante reveladora quanto à falta de tato dos veículos de comunicação em tratar de assuntos delicados, aos quais se exige uma discussão social ampla. Em 2010, assuntos de igual importância à questão gay e da maconha foram destacados pelos meios de informação de forma a desqualificar o candidato que se mostrasse favorável a algum tipo de regulamentação.
Apesar de tudo, nem só de deslizes vivem as reportagens sobre eleições. Além dos debates, os principais portais de internet se destacam pela organização de sabatinas e entrevistas. Dessa forma, delimitam bem o público a ser atingido. Por isso, suas repercussões ainda são restritas, em um espaço ocupado pela falta de análise de especialistas, pela evasiva dos políticos e por possíveis comprometimentos político-ideológicos das organizações.
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[Ricardo Borges é estudante de Jornalismo, São Paulo, SP]