Publicado regionalmente em EUA, Europa, Ásia e Oriente Médio, o jornal britânico Financial Times passa a ser impresso no Brasil no próximo dia 3, em inglês.
Rodado em São Paulo, vai testar um novo sistema digital, “combinando imprensa e o futuro”, na descrição de um porta-voz do jornal. Será distribuído pela manhã na cidade e no mesmo dia no Rio de Janeiro e em Brasília.
O FT vem ampliando o quadro de jornalistas voltados ao país nos últimos dois anos, para suprir a maior demanda por noticiário, cadernos especiais sobre economia brasileira e a publicação quinzenal “premium” Brazil Confidential, lançada em 2011 com assinatura à parte.
Mas eram todos produtos “para investidores e empresários de fora do Brasil, atentos a esse forte mercado”, diz Andrew Sollinger, diretor executivo de operações comerciais do FT.
“Agora, com essa impressão e com o futuro lançamento de uma homepage e de um aplicativo para a América Latina, forneceremos cobertura para o mercado brasileiro sobre o resto do mundo.”
A primeira edição, seguindo a versão americana, será apresentada pelo presidente do FT, John Ridding, em seminário no dia 3, na Bovespa, com a presença dos presidentes da Bolsa, Edemir Pinto, e dos bancos BTG Pactual, André Esteves, e Itaú BBA, Jean-Marc Etlin.
Mídia impressa
Sollinger diz não esperar “assinantes em massa”, mas que o jornal atraia empresários que operam globalmente. É um público cujas proporções só serão descobertas com a implantação, diz.
“Nossa expectativa, pelo que é impresso nos EUA e enviado, e pelo crescimento nos registros e assinaturas digitais, é de grande demanda.”
O projeto testa uma nova tecnologia para jornais. “Ela poderá se tornar o futuro da mídia impressa, se formos capazes de fazê-la funcionar.”
Desenvolvido pela HP, o novo sistema digital seria a saída para imprimir “globalmente, em lugares distantes e em pequena quantidade”, crucial para uma publicação que se pretende “fonte global de informação”.
Questionado sobre a eventual entrada do New York Times no Brasil, com um site em português (ver abaixo), o executivo diz não ver o jornal americano como concorrente. Lembra que o FT ajudou o NYT a criar seu paywall (muro de pagamento) poroso em 2011, baseado em sua experiência anterior, um modelo que completa agora cinco anos.
“Na verdade, é uma confirmação da oportunidade que o Brasil apresenta, não importando o que acontece com as mudanças econômicas.”
“Fala-se muito sobre desaceleração do crescimento do Brasil, mas isso acontece ao redor do mundo. Sabemos que a tendência de longo prazo no Brasil é de crescimento e é de globalização, ambas importantes para o FT e para o NYT”, afirma.
A busca do FT por publicidade brasileira já começou. Sollinger relata que apresentou o projeto ao Grupo de Mídia de São Paulo, na semana passada, em Nova York.
Diz que tem apoio local, mas o jornal deve “representar a si mesmo”, por ter uma marca forte e mirar um grupo definido de empresas globalizadas, embora esteja “aberto à discussão”.
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New York Timesestuda lançar página na internet em português
O New York Times indicou publicamente seus planos para o Brasil durante o 9º Congresso Brasileiro de Jornais, há três semanas.
Na ocasião, o gerente geral do serviço de notícias do jornal, Michael Greenspon, membro da família que controla o NYT, relatou bons resultados com o site em mandarim, lançado em junho, e destacou que o português é a quinta língua mais usada na internet.
Heidi Giovine, gerente administrativa do serviço noticioso, acrescenta, no entanto, que os “planos para o Brasil ainda estão em desenvolvimento”.
Segundo a assessoria de imprensa do jornal, “o Brasil, com sua crescente economia, é um país em que estamos interessados, mas não há nenhum detalhe a divulgar, neste momento”.
A empresa italiana de representação comercial Cesanamedia, que trabalha para o NYT na inserção de publicidade no site em mandarim, na China, chegou ao Brasil em junho. Foram abertos dois escritórios, um em São Paulo, outro no Rio.
Procurado, o gerente da Cesanamedia para o país, Paolo Mongeri, afirmou que fará o mesmo serviço, se o jornal confirmar a abertura de um site semelhante, mas em português.
Mongeri, que representa outros jornais, diz que produziu um estudo para o “Le Figaro”, para um guia de viagem de Paris em português, voltado aos brasileiros.
O interesse pelos consumidores do país é crescente, agora que a classe média europeia e americana “está sofrendo” e a brasileira ganhou poder de compra, afirma o executivo.
Cita ainda a perspectiva de negócios em torno da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016.
Ouvido pelo semanário Meio & Mensagem, Todd Haskell, vice-presidente de publicidade do NYT, declarou que o jornal está “em processo de pesquisa sobre o mercado” brasileiro. (NS)
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[Nelson de Sá, da Folha de S.Paulo]