Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Artigo não explica ascensão de Russomanno

Li o artigo “Russomanno e Erundina”, de Rogério Gentile, (Folha de S.Paulo, 20/9) e entendo que é superficial, pois não consegue explicar de modo satisfatório a vantagem de Russomanno sobre os outros candidatos, bem como o paralelo que estabelece com a candidata Luiza Erundina, em 1988, é frágil em seus argumentos.

Explico. Celso Russomanno é repórter e conta com a simpatia do eleitor. Isso vem desde o extinto Aqui Agora, do SBT. Foi eleito deputado federal quatro vezes. Foi do PP, de Maluf e PSDB, de Serra. No momento, lidera com 35% dos votos e é apoiado pelos evangélicos. Os números são do Datafolha (20/9). Por sua vez, Serra, o segundo colocado, tem21% de intençãode voto. Pesquisas revelam que sofre rejeição de boa parte dos eleitores. Serra abandonou aPrefeitura de São Paulo (2004) e o governo de São Paulo (2010). O eleitor vê sua candidatura com certa desconfiança. Outra coisa: seu discursoéantiquado enão atraio eleitorado jovem. Aliás, tentou se aliar a Maluf, mas não deu certo.

Quanto a Fernando Haddad, do PT, conta com 15% das intenções de voto e é o terceiro na pesquisa do Datafolha. É ex-ministro da educação – Lula e Dilma – e aliado de Paulo Maluf. Vale lembrar que PT e PP foram inimigos históricos. A aliança é mal vista pelo baixo clero petista. Com o acordo, o partido ganhou a mais 1m30s de inserção na TV. De outro lado, é evidente e inegável que o julgamento mensalão, pelo Superior Tribunal Federal (STF), respinga em Haddad.

Enfim, Russomanno pode ser eleito o prefeito da capital. Conta com a ampla preferência do eleitorado. Seu partido, o PRB, é ligado a Igreja Universal, cujo líder espiritual é o bispo Edir Macedo. Quanto ao paralelo com Erundina, vale lembrar que a conjuntura histórica daquele momento era outra. Diferente da atual. Os paulistanos não queriam Maluf. Erundina foi eleita prefeita. Portanto, o texto de Gentile deixou de abordar estes aspectos fundamentais que nos ajudam a compreender melhor porque o candidato do PRB lidera todas as pesquisas de opinião.

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[Ricardo Santos é professor de História]