O New York Times lançou ontem (2/10) um aplicativo para tablets baseado na web, no padrão HTML5. Descrito como “experimental” e com serviços restritos, o app vai na contramão da estratégia do jornal até então, de desenvolver versões específicas para iPhone e iPad, da Apple, Android, do Google, e Windows Phone, da Microsoft. O aplicativo está disponível diretamente no endereço app.nytimes.com, desde ontem, só para assinantes.
O jornal nega, mas a decisão foi recebida como primeiro passo para seu afastamento das grandes empresas de tecnologia, que cobram até 30% para vender os apps em suas lojas online. Mais precisamente, poderia levar ao rompimento com a Apple. “O NYT não tem planos de remover” seu aplicativo da App Store, prometeu o jornal, em nota.
No ano passado, o Financial Times também lançou um web app e, logo em seguida, retirou da App Store seu aplicativo em iOS, o sistema da Apple. O jornal financeiro britânico vem servindo de modelo para o NYT em ações no ambiente online, como a adoção de um paywall (muro de pagamento) poroso, para as assinaturas online. Além do FT, o Boston Globe, que é do próprio NYT, apostou num web app no ano passado. Também a Folha desenvolveu seu aplicativo no padrão HTML5, lançado no final de 2011. De início limitado ao browser para tablets da própria Apple, o Safari, o web app do NYT vai ganhar uma versão para o Chrome, do Google, “brevemente”, segundo a editora de plataformas emergentes, Fiona Spruill.
Preferência pela web
O analista de mídia Joshua Benton, diretor do Nieman Journalism Lab, da Universidade Harvard, anota que o anúncio vem no rastro de um distanciamento entre a Apple e o jornal – devido a uma série de reportagens sobre as más condições de trabalho nas fábricas dos aparelhos da empresa na China. Benton também relaciona o lançamento do aplicativo baseado na web, que o próprio NYT admite ter corrido para lançar, com um estudo do instituto Pew que mostrou anteontem que os consumidores de notícias em aparelhos móveis usam mais o acesso direto pela internet do que os aplicativos, na proporção de dois para um.
E o movimento é crescente, segundo o levantamento, realizado junto com a revista The Economist. No caso de tablets, 60% dos 9.500 adultos americanos ouvidos pela pesquisa disseram usar browser para acessar notícias, ante 40% no ano passado.
O estudo também identificou uma mudança no perfil dos tablets no país. O iPad, da Apple, que respondia por 81% dos aparelhos um ano atrás, caiu para 52%. Os tablets no sistema Android atingem agora 48%, sendo que o Kindle Fire, da Amazon, responde por quase metade – e 21% do total.
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Nos EUA, internet é ameaça a TV aberta
Outro estudo recém-divulgado pelo instituto Pew, intitulado “Tendências no Consumo de Notícias: 1992 a 2012”, levantou que a transformação do ambiente noticioso nos EUA, que já vinha afetando “particularmente os jornais”, ameaça agora também a televisão, “cada vez mais vulnerável”. No principal resultado da pesquisa relativa a 2012, feita com 3.000 adultos americanos, 39% afirmam obter informações por meio de sites e aparelhos móveis, contra 55% que respondem ser a televisão – em 1991, o percentual de TV chegava a 68%.
A mudança “mais dramática”, no grupo que se informa pela internet, se deu entre os que o fazem por redes sociais, com um salto de 9% em 2010 para 19% em 2012.
Por outro lado, 23% se informavam por jornais impressos em 2012, contra 26% em 2010 e 47% em 2000. Mas o dado de maior repercussão da pesquisa acabou sendo outro: apenas 1 em 10 americanos leem notícias no Twitter, o que contraria a visão de que a rede social concentra a divulgação de informações hoje no país.
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[Nelson de Sá é colunista daFolhade S.Paulo]