Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Ciência, tecnologia e inovação

O II Seminário Internacional Empírika será realizado nos dias 26 e 27 de outubro na Universidade Estadual de Campinas-SP (Unicamp). Um dos pesquisadores responsáveis pela organização do evento, o linguista Carlos Alberto Vogt, concedeu entrevista ao blog Dissertação Sobre Divulgação Científica, na qual fala sobre o encontro, que integra a programação da feira “Empírika – Ibero-americana da Ciência, Tecnologia e Inovação”.

Vogt se mostra otimista em relação ao contexto do sistema de C&T e à comunicação com o público extra-acadêmico. Para ele, uma clássica barreira à divulgação, as tensões entre divulgadores e cientistas, já foi “bastante superada” – conquista alcançada, inclusive, com o esforço de muitos cursos de pós-graduação, entre eles, o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), da Unicamp, do qual é ele coordenador. 

Carlos Vogt também é diretor de redação das revistas ComCiência e Univesp, consultor do periódico Ciência e Cultura, coordenador e um dos idealizadores da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), instituição pública de ensino que está em fase de implementação. Ele também foi reitor da Unicamp (1990 e 1994), presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp, 2002 a 2007) e vice-presidente da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência (2001-2005).

O que é o Seminário Empirika e qual impacto o evento gera no campo da C&T e da divulgação científica e tecnológica (DCT)?

Carlos Vogt – O seminário é um rico espaço de debates, discussões e trocas de experiências. Possui sintonia com as propostas da feira Ibero-americana de C,T&I, cujo objetivo é incentivar a população para o amor à ciência, para a promoção da cultura científica e tecnológica, uma marca da sociedade contemporânea. A programação será composta por palestras, apresentações de trabalhos produzidos por estudantes de pós-graduação, com a participação de pesquisadores, entre uma série de atividades. Há, também, a realização do Café ComCiência, espaço onde o público tem a oportunidade de interagir, trocar opiniões e expor pontos de vista.

Para quem não tiver a oportunidade de comparecer à feira, o evento oferece a modalidade virtual Polis Empirika, a cidade do conhecimento que ficará disponível até, pelo menos, 2018, quando a Empírika retorna à Universidade de Salamanca (Espanha), em celebração aos 800 anos da instituição. Foi lá que ocorreu a primeira edição, em 2010, com a participação de 33 mil pessoas. Em 2014, o evento ocorre no México e em 2016, na Colômbia.

Por que a parceria com a Espanha?

C.V. – Bom, esses relacionamentos são frutos de contatos construídos ao longo do tempo pelas interações acadêmicas e pessoais entre pesquisadores e instituições. Um exemplo muito interessante é a criação da Agência de Notícias para a Difusão da Ciência e Tecnologia (DiCYT) da Universidade de Salamanca, que foi baseada na agência de notícias da Fapesp, surgida em 2003. A produção do LabJor, particularmente, possui esse viés de parceria e cooperação para a elaboração de pesquisas, artigos etc.

Embora a organização seja entre o Brasil e a Espanha, o evento abrange outros países identificados pelo espaço ibero-americano de conhecimento.

Quais são hoje os grandes temas da divulgação científica?

C.V. – Eu vejo e proponho a observação da cultura científica sob a ótica do que denomino de espiral da cultura científica, conforme apresentei em um artigo publicado ano passado na revista Public Understand of Science. Nesta perspectiva, apresento os seguintes quadrantes que envolvem o ambiente da C&T: a) a comunicação fechada entre cientistas para a produção de conhecimento; b) a comunicação promovida pelo ensino da ciência; c) o ensino para a ciência (em que estão inseridos prêmios, feiras, a Semana Nacional de C&T, entre outros); d) a efetiva relação entre ciência e sociedade, em um esforço para traduzir, colocar em metáforas sensíveis conceitos normalmente abstratos e que fogem ao alcance da linguagem cotidiana. 

A partir daí, entendo ser relevante todos os aspectos, cada qual dentro da própria lógica, seja da interação pela produção, para o ensino ou mesmo para a divulgação à sociedade.

Tomando como base o desenvolvimento da C&T, em que patamar podemos identificar a DCT no Brasil hoje?

C.V. – A DCT tem crescido bastante. Hoje, desfrutamos de uma evolução capaz de acompanhar o ritmo acelerado da própria C&T. São muitos os exemplos de atividades de qualidade: a Revista Ciência Hoje; o Jornal da Ciência e outras iniciativas da SBPC; a Revista Pesquisa Fapesp; a própria agência de notícias da Fundação; a retomada da Revista Ciência e Cultura, da qual tive a satisfação de atuar no desenvolvimento do projeto editorial; a revista ComCiência; além de ações diversas na internet, como o seu próprio blog. Também é importante salientar apoios institucionais da Capes e do CNPq, como a aba inserida na plataforma Lattes para a inserção de ações de comunicação pública.

Tais atividades incentivam a criação de outras medidas, e considero importante comentar sobre o Programa José Reis de Incentivo ao Jornalismo Científico (Mídia Ciência), criado em 1999 pela Fapesp para contribuir na formação de profissionais que trabalham com o fluxo informacional da DCT.

Qual tem sido a contribuição do LabJor neste contexto?

C.V. – O Laboratório faz parte de um importante movimento educacional em benefício da qualidade da divulgação. O papel do Labjor tem sido fundamental na pesquisa e formação de profissionais que atuam no campo.

Em 1999, foi criado o curso de Pós-Graduação lato sensu em Jornalismo Científico, através do qual já capacitamos 281 profissionais, tanto jornalistas quanto cientistas, numa média de 50% cada. Há cinco anos, surgiu o Mestrado em Divulgação Científica e Cultural, que já soma cerca de 20 dissertações defendidas. Agora, estamos na fase de implementar o programa de doutorado.

Uma preocupação do Labjor é constituir turmas compostas por jornalistas e cientistas, o que facilita bastante a interação entre ambos os meios. Nesta mistura, também procuramos aproximar pessoas de diferentes faixas etárias e experiências profissionais, permitindo o enriquecimento através do entusiasmo da juventude e amadurecimento dos mais experientes. A dinâmica é multidisciplinar, mas com cautela o suficiente para evitar o aprisionamento por determinada área e o generalismo vago, improdutivo.

Qual é o perfil adequado para um profissional da DCT?

C.V. – É muito importante o interesse pelo conhecimento, seja em relação aos fatos espetaculares (promessa de longevidade, cura, domínio de pragas na agroindústria etc.) e à relevância social e econômica das pesquisas, seja sobre a própria concepção do campo – teorias, formas e conceitos a respeito da transposição consistente e fiel da linguagem fechada para a comunicação inteligível. No caso de um cientista, ele precisa exercer a habilidade para dialogar com os meios externos à academia. Ele deve deixar-se envolver.

Como o senhor observa a relação entre arte e ciência, cenários que fazem parte da sua carreira?

C.V. – Ao construir a metáfora da espiral da cultura científica, tive a satisfação de entender a minha atração pelo conhecimento de C&T e, ao mesmo tempo, pela beleza poética da literatura, poesia etc. É uma relação que envolve conhecimentos de diferentes formas, metodologias e teorias, mas do ponto de vista humano e interacional, há traços em comum produzidos pelo fenômeno da busca pelo saber, o que mostra o constante estado de ignorância cultural do ser. 

A nossa permanente procura os remete à limitação da capacidade de formularmos o conhecimento, mas também expõe a falta de limite no que tange às condições de atividades críticas que nos movem para novas revelações. A relação literatura e ciência é visceral, cujos pontos comuns e de diferenças estão na linguagem e nas formas de comunicação.

Há nos estudos da DCT uma questão clássica que é a relação entre divulgador e pesquisador. Essa é uma tensão que ainda persiste no dia a dia?

C.V. – Acredito, por experiência própria, que este tópico já esteja superado. A multidisciplinaridade dos cursos oferecidos pelo Labjor é um exemplo disso, inclusive no que diz respeito à interação entre os profissionais seniores e os principiantes. Observo que as tecnologias da informação e comunicação também têm contribuído bastante para o novo quadro de aproximação, cujas consequências se manifestam também nos veículos impressos e na radiodifusão. Essa evolução permite à divulgação estar mais consolidada e valorizar-se ainda mais.

Há algum tópico sobre o qual o senhor gostaria de comentar na entrevista, mas deixamos de abordar?

C.V. – Acho que não, conversamos sobre diversas questões interessantes.

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Serviço

Seminário Internacional Empírika

Data: 26 e 27 de outubro

Local: Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Realização: Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) e Programa de pós-graduação Mestrado em Divulgação Científica e Cultural (MDCC-Labjor-IEL-Unicamp)

Mais informações: clique aqui

Empírika – Feira Ibero-americana da Ciência, Tecnologia e Inovação

Data: 23 a 25 de outubro

Local: Expo Barra Funda em São Paulo-SP

Realização: Labjor e Feira Tecnológica do Centro Paula Souza (Feteps)

Mais informações: clique aqui

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[Bruno Lara é jornalista e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação do convênio entre o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)]