Em meio à pior recessão econômica na Grécia em décadas, a revelação de uma lista de 2 mil políticos, ministros, empresários e poderosos de Atenas com contas secretas na Suíça faz eclodir mais uma crise no já frágil país do sul da Europa. No sábado, a revista 'Hot Doc' publicou a lista de 2 mil gregos que mantêm contas no banco HSBC de Genebra. Ontem, a polícia grega decidiu agir: prendeu o jornalista responsável pela reportagem, sob a acusação de invasão de privacidade.
Desde a eclosão da crise, em 2009, gregos tem levado bilhões de euros para fora do país. Além disso, vários deles vêm mantendo contas no exterior há anos, fugindo dos impostos no país, que hoje sofre para arrecadar recursos e vê um buraco bilionário crescente em suas contas. Para tentar solucionar a crise, o governo cortou salários em 20%, promove uma ampla demissão e o fim de dezenas de benefícios sociais.
Há dois anos, uma lista roubada por um ex-funcionário do HSBC acabou nas mãos da então ministra de Finanças da França, Christine Lagarde, hoje diretora-geral do FMI. Lagarde, na época, repassou a lista às autoridades gregas para que pudessem processar os envolvidos na evasão, algo que nunca ocorreu. Os parlamentares da oposição agora questionam o governo por ter “sentado” sobre a lista.
Frustração
A publicação dos nomes do envolvidos, no fim de semana, exacerbou a frustração da população em relação a sua classe política. Segundo a revista, funcionários do Ministério das Finanças, empresários ligados à classe política e outros membros do governo estavam entre os que têm contas secretas na Suíça.
A crise vem justamente no momento que o Parlamento se prepara para votar um novo pacote de austeridade que representa o corte de despesas, salários e investimentos em 13 bilhões.
Prisão
Horas depois da publicação da lista, a Justiça de Atenas entrou em ação. Mas não para prender ou abrir processos contra os envolvidos por suposta evasão fiscal, e sim contra Kostas Vaxevanis, editor da revista.
“No lugar de prender aqueles que deixaram de pagar impostos e os ministros que tinham a lista em suas mãos e nunca fizeram nada, estão tentando prender a verdade e a liberdade de expressão”, declarou Vaxavanis, numa declaração transmitida pela internet. “Só fiz o que qualquer jornalista faria”, disse.
O vazamento da lista promete colocar pressão sobre o Partido Socialista, parte fundamental do atual governo de coalizão e do grupo político que estava no poder em 2010 quando a lista chegou a Atenas.
Segundo a reportagem, algumas das contas tinham mais de 500 milhões registrados. Uma das pessoas seria Giorgos Voulgarakis, ex-ministro da Cultura e também responsável pela marinha mercante.
O ex-primeiro-ministro socialista George Papandreou negou que tivesse conhecimento da lista, depois que um membro do partido de extrema esquerda, o Syriza, acusou Papandreou de ter ajudado a promover reuniões com o chefe do escritório do HSBC de Genebra.
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[Jamil Chade é correspondente em Genebra do Estado de S.Paulo]