Será a guerra? Ou as partes negociarão e chegarão a um acordo? Os dois lados se preparam para o combate, mas receiam iniciar as hostilidades.
Há muita coisa em jogo: a disputa confronta, de um lado, o mecanismo de busca Google, baseado em Mountain View, Califórnia, e, de outro, as editoras de jornais europeus (franceses, italianos e alemães), que acabam de se reunir em Roma para chegar a uma posição comum em face da empresa de Larry Page.
O casus belli é simples. Os editores de imprensa desejam que uma lei obrigue os mecanismos de busca – e, em particular, o Google, que teve um faturamento de US$ 38 bilhões em 2011 e emprega 50 mil pessoas na Califórnia – a pagar um direito (uma espécie de direito autoral) toda vez que colocarem links remetendo a seus sites de informação.
Ante a revolta dos jornais europeus, o Google perdeu as estribeiras e contra-atacou: se essa retribuição for exigida, o Google deixará de remeter para os sites de mídias francesas, italianas ou alemãs. Ora, está claro que os dois contendores não pertencem à mesma categoria. O Google é um peso-pesado e até superpesado. Os jornais europeus, mesmo os maiores, são pesos-galo ou pesos- pluma.
A Alemanha saiu na frente. A questão já é estudada no país há quatro anos e desde setembro, o governo alemão adotou um projeto similar à proposta atual dos jornais europeus. Espera-se para fevereiro uma votação do Parlamento alemão. “Estamos otimistas”, dizem representantes do grupo editorial Axel Springer, “mas cautelosos. O Google fez de tudo para fazer nosso projeto gorar.” A ministra francesa da Cultura, Aurélie Fillipeti, também já se declarou favorável a uma lei. O Google replicou explicando que as trocas são feitas nos dois sentidos. Os americanos alegam que o Google redireciona a cada mês quatro bilhões de cliques para as páginas de internet da imprensa francesa.
Resmungos e ameaças
Já foram lançados ataques ao Google no passado. Sem sucesso: em 2006, os editores belgas recorreram à Justiça, argumentando que o Google se apropriava de conteúdo sem autorização. O processo não deu em nada. Em 2009, os italianos também atacaram a empresa americana por “abuso de posição dominante”. Fracasso. Eis porque os jornais, que se descrevem como “proletários”, se voltam agora para seus governos.
Estas escaramuças demonstram que a imprensa não consegue enfrentar os desafios da modernidade. Ela fez investimentos importantes, mas ainda não encontrou o modelo adequado na internet. Os editores franceses estimam que perderam 1 bilhão em receitas publicitárias entre 2010 e 2011, receitas que foram sugadas para os portais e mecanismos de busca, sobretudo para o Google. Ora, com essa formidável perda de faturamento, as receitas da imprensa online não decolam: elas estacionaram perto de 280 milhões.
Nos dois lados, Google e jornais, há gritos, resmungos, ameaças, mas no fundo, todos gostariam de evitar um conflito que causaria desgastes tanto para os mecanismos de busca como para os jornais. Mas ninguém sabe muito bem o que fazer. Navega-se à vista, ao sabor das ondas, em meio às brumas. Nem Júlio César, nem Clausewitz, nem Napoleão teorizaram sobre esses conflitos de novo tipo. É por isso que todos hesitam, avançam, recuam…
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[Gilles Lapouge é correspondente do Estado de S.Paulo em Paris]