Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Bandidos, drogas e mídia

O que se vê hoje no Brasil, em todos os cenários PM versus bandidos surpreende a grande maioria da população. As pessoas nas ruas se mostram estarrecidas com a quantidade de assassinatos de pessoas e de PMs em São Paulo e, mais recentemente, em Santa Catarina: os próprios meios de comunicação já estão dando a impressão que fazem suas transmissões do front de uma guerra. O governador de São Paulo, Geraldo Alkmin, se queixou: vocês estão deixando a população em pânico.

Vejamos: nem as drogas começaram a entrar ontem no país nem foi iniciada ontem a conivência de policiais militares ou funcionários públicos com criminosos. O descuido de sucessivos governos federal e estadual com as fronteiras é um tema recorrente já bem antes do golpe militar de 1964. A prisão do tesoureiro da máfia siciliana no Rio, Tomazo Buscetta, em meados de 1972, numa viagem que selou em definitivo a inclusão do Brasil no roteiro mundial do tráfico de drogas, transformou-se em referência para o que viria a seguir. Durante o tempo em que permaneceu aprisionado no DEA, o departamento antidrogas dos EUA (nas dependências do qual morreu, aliás) Buscetta inspirou a maior investigação que a Itália já produziu em toda sua história policial: a Operação Mãos Limpas, entre 1975-1979, onde os julgamentos pela justiça foram feitos dentro das prisões durante mais de quatro anos e abasteceram a primeira página nos principais jornais do mundo.

Na historia mundial da cobertura de temas policiais pela mídia, a realidade convincente é de que o planejamento e execução do crime sempre estão na dianteira da vigilância policial. O único momento em que os bandidos ficam à mercê das investigações e ações da segurança policial é nos relatos ficcionais de Sherlock Holmes.

Pena de morte

Por isso, é prematuro dizer que as ações governamentais vão acabar com a violência em São Paulo e em Santa Catarina. Os recursos disponíveis poderão ser até ilimitados, principalmente quando se aproximarem as eleições.

Na área de segurança, especialistas estão convencidos que o máximo que se consegue com essas ações é controlar o nível dos índices de criminalidade, nunca acabar com ela.

Dentro dos parâmetros democráticos, em pouco tempo não vai faltar quem, no Congresso Nacional, ouça as vozes da rua e comece a pregar a necessidade da adoção da pena de morte em cadeira elétrica para presos que comandam o crime organizado de dentro das cadeias com a conivência de parentes – sem cuja conivência seria praticamente impossível a entrada de telefones celulares para seu uso.

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[Reinaldo Cabral é jornalista e escritor]