Sexta-feira, 16 de maio de 2025 ISSN 1519-7670 - Ano 2025 - nº 1338

Herdeiro toma as rédeas para levantar a Thomson Reuters

Quando a Thomson Corp. negociou a compra da Reuters Group PLC por US$ 17 bilhões, o presidente do seu conselho de administração, David Thomson, ficou nos bastidores durante os 18 meses de negociações e falou com os diretores da Reuters só no dia em que o negócio foi anunciado, em 2007. Para o descendente da família mais rica do Canadá, essa abordagem de não interferência, descrita por pessoas próximas da fusão, era natural. Afinal, a receita das duas últimas gerações da família para o império de mídia fundado pelo avô de Thomson foi “cercar-se de profissionais […] e deixá-los tocar o negócio”, diz Ron Barbaro, um ex-diretor.

Quatro anos após a compra ter sido concluída, a união com a Reuters tem decepcionado investidores, e Thomson, presidente do conselho da empresa resultante da fusão, vem agora desempenhando um papel mais vigoroso. Em 2011, ele comandou uma ampla reforma na direção. No mês passado, substituiu o líder da holding da família, dona de 55% da Thomson Reuters PLC. O executivo, Geoff Beattie, continua como vice-presidente do conselho da Thomson Reuters, onde ele irá focar na melhora do desempenho, segundo pessoas próximas do assunto. Algumas dessas pessoas disseram que a mudança ocorreu após meses de tensão entre Thomson e Beattie sobre a performance das ações da Thomson Reuters, uma fusão que Beattie defendeu.

A substituição também sinaliza uma mudança na forma com que a família que controla um dos maiores conglomerados de comunicações do mundo administra seu vasto negócio.

“Uma nova era”

Por meio século, os Thomson foram uma família agressiva nos negócios, que adquiria ativos em vários setores e com igual frequência os vendia, geralmente no pico do mercado. Hoje, essa tendência negociadora da família deve praticamente acabar, dizem várias pessoas a par do assunto, já que a tal holding familiar, a Woodbridge Co., que é sediada em Toronto, foi reorganizada para se tornar uma controladora mais tradicional, com foco no lucro em vez de novas aquisições. Isso foi uma das motivações para a saída de Beattie, um conhecido negociador, dizem essas pessoas.

Membros da família e executivos da Woodbridge, que tem numerosos investimentos além da participação na Thomson Reuters, também discutiram a possibilidade de reestruturar alguns desses outros negócios, segundo pessoas a par do assunto. Isso pode compreender a distribuição para membros da família de ações desses outros ativos ou a venda deles, com o valor arrecadado sendo passado para os membros, disse uma pessoa. Um porta-voz que representa a Woodbridge,Thomson e a Thomson Reuters não quis comentar sobre esse e muitos outros tópicos deste artigo.

A representação da família na Thomson Reuters vai crescer porque o novo diretor-superintendente e diretor-presidente da Woodbridge, David Binet, vai se tornar membro do conselho junto com Beattie. “Esperamos que o Geoff [Beattie] continue colaborando com a Thomson Reuters, que é o nosso maior investimento e de fundamental importância para nós”, disse Thomson, ao anunciar a troca de líderes no fim de novembro. Ele disse que a mudança marca a entrada da holding familiar “em uma nova e importante era”.

Desempenho pior que o do mercado

Thomson recusou diversos pedidos de entrevista feitos nos últimos meses. Através de um porta-voz da Thomson Reuters, ele recusou outras solicitações de comentários sobre as mudanças na Woodbridge. Em curtos e-mails respondendo a perguntas no início do ano, Thomson disse que estava satisfeito com a fusão Thomson Reuters. O negócio foi desenhado para criar uma potência de notícias e informações financeiras com a combinação de dois renomados grupos de jornalismo. Ele juntaria o domínio da Thomson em setores como banco de investimento e gestão de fortunas com a presença internacional da Reuters e sua força em áreas como câmbio, mercado de ações e notícias. Tal combinação ainda não gerou todos os benefícios esperados.

Uma das razões é que o negócio foi fechado em 2008, apenas meses antes da crise financeira e econômica global corroer a receita de uma das maiores divisões das duas empresas: a unidade de produtos financeiros, que vende notícias, dados e outras ferramentas para investidores e demais atores do mercado. Enquanto isso, a empresa enfrentava uma pressão crescente de concorrentes como a Bloomberg LP.

Em meio a uma claudicante recuperação mundial, a unidade de produtos financeiros da Thomson Reuters continua com um desempenho irregular, com as vendas caindo 2% nos primeiros nove meses deste ano. O lucro operacional caiu 18% no período, segundo o balancete mais recente divulgado pela companhia. Já a receita total da Thomson Reuters diminuiu 3% nos primeiros nove meses deste ano, para US$ 9,88 bilhões, fragilizada pelos cortes além do esperado promovidos pelas instituições financeiras na Europa. As ações da Thomson Reuters caíram cerca de 20% desde que a aquisição foi fechada, um desempenho bem pior que o do mercado em geral.

Salões de cabeleireiro, petróleo e jornais

A fortuna da família Thomson sentiu o efeito. A fatia dela na Thomson Reuters agora vale perto de US$ 12,6 bilhões, contra os US$ 16 bilhões de antes. Apontada no ranking da revista Forbes como a 10ª família mais rica do mundo em 2007, com ativos avaliados em US$ 22 bilhões, no último mês de março os Thomson estavam em 35º lugar na lista, com bens estimados em US$ 17,5 bilhões.

Em suas respostas via e-mail no começo deste ano, Thomson disse que tanto “a aquisição fechada em 2008 quanto a economia mundial têm tido dificuldades desde então. Um dos nossos mercados-chave é o de serviços financeiros e ele tem sido particularmente afetado. A aquisição e a integração foram muito complexas e foram bem executadas pela direção”.

O império da família teve início em 1931, quando o avô de Thomson, Roy, filho de um barbeiro, o fundou com a compra de uma estação de rádio canadense. Em épocas diferentes, os ativos da Thomson incluíram salões de cabeleireiro, uma companhia aérea, ativos de petróleo no Mar do Norte e um portfólio de jornais que se estendia dos Estados Unidos até a Grã-Bretanha, onde a família chegou a ser dona do jornal Times of London.

Espalhados pelo Canadá

Essa família avessa à publicidade tem exercido uma grande influência, especialmente no Canadá, não apenas devido ao seu tamanho, à sua riqueza e à sua filantropia, mas também devido ao seu astuto histórico de negócios. Sob o comando de Ken, filho de Roy Thomson, ela vendeu alguns dos seus maiores ativos, incluindo jornais impressos, antes do declínio desses setores.

Embora a sua parcela na Thomson Reuters seja de longe o maior ativo da família, contribuindo com US$ 600 milhões em dividendos em 2011, ela também é dona de ativos como um investimento de US$ 3 bilhões em fundos geridos pela firma de private-equity General Atlantic LLC, do estado americano de Connecticut, 13,2% do grupo americano de hotéis Strategic Hotels & Resorts Inc. e 85% do jornal canadense The Globe and Mail.

Thomson divide o controle da Woodbridge com seu irmão, Peter, piloto campeão de corridas de rally, a irmã deles, Taylor, e quatro primos. Peter é membro do conselho da Thomson Reuters, mas não tem nenhum papel formal na empresa. Os membros da família se espalharam pelo Canadá, com diferentes grupos atuando em diferentes tipos de negócios. Essa dispersão foi uma motivação para mudar a Woodbridge, segundo pessoas a par do assunto.

Tarefa complexa

Alguns membros da família começaram a reclamar do desempenho da Thomson Reuters, segundo pessoas com conhecimento do assunto. Perguntado se alguns estavam insatisfeitos, Thomson disse num e-mail: “Estamos confiantes na empresa e no seu potencial de longo prazo. Toda a família apoia muito a Thomson Reuters.” Beattie, enquanto estava no comando da holding familiar, era o centro de referência num pequeno grupo de conselheiros que agia como um intermediário entre a família, seus investimentos e os banqueiros e advogados sugerindo novos negócios. Como proponente do negócio com a Reuters, ele teve um papel ativo nas negociações de aquisição.

Logo após a conclusão do negócio, alguns executivos da Thomson começaram a se ressentir com o que começaram a considerar uma “aquisição reversa”, dizem pessoas a par do assunto. O líder da Reuters na época, Tom Glocer, se tornou diretor-presidente da empresa resultante da fusão. Ele colocou um executivo seu na chefia da divisão que incluía as informações financeiras.

Tanto a Reuters como a Bloomberg concorrem com a Dow Jones & Co., da News Corp., que publica o Wall Street Journal e as notícias da agência Dow Jones Newswires. Fazer os centros de dados e as redes de distribuição da Thomson e da Reuters “conversarem entre si” se mostrou um empreendimento “incrivelmente complexo”, diz Douglas B. Taylor, ex-executivo da Thomson e fundador da consultoria Burton-Taylor.

Desempenho superado

No ano passado, a Bloomberg ultrapassou a Thomson Reuters em participação de mercado para dados financeiros e está aumentando a concorrência em outras frentes. Ela lançou a Bloomberg Law, uma ferramenta de pesquisa para advogados que compete diretamente com o serviço Westlaw, da Thomson Reuters, que é líder de mercado. Inicialmente, Thomson deu carta branca aos executivos da Thomson Reuters, no estilo não intervencionista de costume na família. Grandes acionistas também dizem que raramente Thomson chega até eles. Mas, na reunião anual de maio, ele ficou lanchando e conversando demoradamente com pequenos investidores muito tempo depois de outros diretores já terem ido embora.

Thomson é considerado reservado por amigos e pela unida comunidade de negócios de Toronto, quase ao ponto de ser recluso e um pouco excêntrico. Ele às vezes aparece nas reuniões de negócios vestindo roupas de corrida ou calças cargo ou usando terno com tênis. Gasta grandes somas em arte, mas, a exemplo do pai, Ken, mostra frugalidade em outras coisas. Ele faz sapatos e roupas durarem anos, disse uma pessoa.

Quando David Thomson ainda era jovem, seu avô, Roy, o designou para que um dia assumisse os negócios da família, missão que foi registrada na autobiografia do patriarca. Alguns que conhecem David Thomson o descrevem como um herdeiro relutante. Ele “sentiu o peso da responsabilidade de assumir esta posição”, disse Jeff Laidlaw, que estudou com Thomson quando tinha uns 20 anos. À medida que a Thomson Reuters lutava para colher todos os frutos prometidos pela fusão, porém, Thomson começou a pressionar Beattie por uma virada na holding da família, segundo pessoas a par da situação. Beattie então passou a pressão para Glocer, o diretor-presidente na época, segundo essas pessoas.

Em julho de 2011, Glocer forçou o diretor da unidade de informações financeiras a sair. Logo depois, o próprio Glocer se demitiu, sendo substituído pelo veterano da Thomson Corp. James Smith.

Apesar da evidente preferência de Thomson por ficar no banco de trás na gestão, ele tem um enorme desejo de conduzir bem o negócio iniciado pelo seu avô, a quem ele com frequência se refere com admiração, segundo amigos. “Ele é profundamente competitivo”, disse Wesley Wark, amigo que conheceu Thomson na Universidade de Cambridge, em 1975. “Ele não fica satisfeito se a companhia não está indo bem; ele não gosta de ver seu desempenho superado” (colaborou Keach Hagey).

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[Alistair MacDonald, Anupreeta Das e Russell Adams, do Wall Street Journal, de Toronto]