A renúncia do papa Bento 16 causou e ainda vai causar imensa repercussão por vários motivos. Um fato realmente marcante, que havia acontecido pela última vez há 598 anos e que vai dar um lugar muito mais amplo na história ao pouco carismático Joseph Ratzinger, do que ele teria se cumprisse seu papado até o último dia de vida. Porém, o que me chamou a atenção foi que o anúncio da renúncia deu destaque a um personagem que é muitas vezes esquecido: o Latim!
A língua teve seu grande momento durante o Império Romano, quando foi enormemente difundida pela Europa, dando origem tempos depois ao italiano, francês, espanhol, português, romeno, catalão, romanche e outros idiomas e dialetos regionais, conhecidos como idiomas neolatinos. Durante muito tempo, o ensino de Latim fez parte da grade curricular das escolas. Porém, com o tempo, a língua, que chegou ao Brasil em 1549 com a Companhia de Jesus, perdeu prestígio e foi substituída por matérias mais “modernas”. Esse processo começou em 1962, quando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional tornou o ensino de Latim facultativo no curso secundário.
O conhecimento em Latim contribui para um entendimento mais profundo da morfologia e da sintaxe do Português e sua exclusão da grade curricular só enfatiza o caráter diletante, generalista e superficial que vem pautando o ensino no Brasil e que coloca nossos alunos na rabeira dos testes internacionais de leitura e faz com que quatro em cada dez universitários sejam considerados analfabetos funcionais, segundo o Indicador de Analfabetismo Funcional (IAF), divulgado pelo Instituto Paulo Montenegro e pela ONG Ação Educativa.
Por fim, para quem acha que o conhecimento em Latim é inútil atualmente, vale destacar o caso da jornalista Giovanna Chirri, da agência de notícias italiana Ansa, que foi a primeira a publicar a notícia da renúncia do papa exatamente porque sabe Latim.
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[Pedro Valadares é jornalista e revisor, Brasília, DF]