Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Por que acabou? 

1. O Cine Joia foi interditado pela prefeitura do Rio – fechado “até que garantam a segurança do público”. Como no “caso dos teatros chapa-branca”, que prefeitura e governo do estado fecharam para inspeção das instalações, depois de despertarem com a tragédia da boate Kiss. (Ou, mais exatamente, depois da comoção da opinião pública face à tragédia de Santa Maria.) No caso do Cine Joia a municipalidade não se preocupou em informar, em distribuir um comunicado, porque é uma sala de subsolo, sem marquises… sem ibope.

2. Foi construído no subsolo de um centro comercial, sem uma porta para saída de emergência. Ora, isso é sabido há décadas!

3. O Joia tem um passado como cinema de arte. Já contou até com programação da Cinemateca do MAM. Se a prefeitura quisesse salvar o Joia poderia negociar com o proprietário da sala, com o condomínio do centro comercial e investir na abertura de um segundo acesso.

Para o Carnaval (a festa merece) as autoridades investiram na criação do Sambódromo; e há sempre farta movimentação de verbas. Os investimentos no “super-Maracanã” parecem novela de mistério e sem último capítulo. Mas os gestores da cidade ignoraram desde sempre o drama do fechamento dos cinemas de rua.

Com raríssimas exceções (o circuito do Estação Botafogo, o conjunto Arteplex), sobraram – e se multiplicam – as salas de shopping. Não foi entre salsichas e boutiques que o cinema se tornou o grande fenômeno cultural do século 20.

Crime abafado

Os gênios da arte teriam morrido de tristeza nesse panorama. [A preocupação de Stanley Kubrick com a exibição levou-o a mobilizar um time de experts que percorreu mercados importantes, como o Brasil, examinando as condições dos cinemas onde seria lançado o seu Laranja Mecânica.] Abel Gance, para quem o cinema era “a música da luz”, teve a glória de pré-lançar seu Napoleão na Ópera de Paris – com espaço suficiente para instalar seu sistema Polyvision, antecessor (mais inventivo) dos “scopes”.

O Cine Joia poderia sediar um Museu de Cera dos valores destruídos da cidade, como o Palácio Monroe (que pulverizaram para alargar a saída da Avenida Rio Branco em direção ao Aterro do Flamento) e o Museu do Cinema – criação pessoal do cineasta-pesquisador Jurandyr Noronha – que, boicotado por sucessivos governos federais, teve seu acervo depositado na Cinemateca do Museu de Arte Moderna; e ali surripiado – peça por peça. Diga-se, de passagem, que o MAM deixou cair uma cortina de silêncio sobre o saque das preciosas peças do Museu do Cinema – um delito nunca apurado. 

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[Ely Azeredo é jornalista e crítico de cinema]