Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Conteúdo diversificado atrai mais leitores digitais

Em meio à transição do consumo das informações para os meios digitais, encontrar um novo modelo de negócios adequado é um tema que concentra a atenção de empresas de mídia em todo o mundo. Um dos principais desafios nessa nova realidade é definir uma estratégia que consiga equilibrar retorno financeiro com a preservação da qualidade na produção do conteúdo jornalístico. Nesse cenário, a cobrança pelo acesso ao conteúdo digital ganhou força nos últimos dois anos, na esteira de iniciativas de veículos como The New York Times e o pioneiro Financial Times.

Diante das barreiras em convencer os leitores a incorporar esse novo modelo – especialmente com a profusão de oferta de conteúdo gratuito na internet –, grande parte dos veículos concorda que a saída é produzir um conteúdo diferenciado, calcado em recursos como análises e o olhar de jornalistas experientes e especializados. “Por outro lado, manter uma equipe capaz de produzir esse tipo de conteúdo é caro e exige investimentos pesados em tecnologia”, afirmou Vera Brandimarte, diretora de redação do Valor, durante evento realizado na quinta-feira (21/2), na BM&F Bovespa, em São Paulo.

“Existe um interesse crescente do leitor pelo conteúdo digital, mas as receitas de publicidade nesse segmento ainda não acompanham essa procura na mesma proporção”, afirmou. Na mesma direção, Pedro Doria, editor-executivo de plataformas digitais do jornal O Globo, disse que a grande questão é descobrir alternativas para que os veículos consigam sustentar redações de grande porte, com uma necessária mescla entre novos profissionais e jornalistas mais experientes.

Jornal triplicou assinantes digitais

Para o editor, um caminho para que o conteúdo diferenciado se destaque nesse ambiente fragmentado de informações é a oferta de conteúdos multimídia que enriqueçam a experiência do usuário no consumo das informações. “O caminho para convencer o leitor não se resume à informação, mas também a essa experiência. Já temos indícios de que o bom jornalismo vai sobreviver. Tem gente disposta a pagar por esse tipo de conteúdo”, disse o executivo, ao citar exemplos bem-sucedidos como a revista britânica The Economist e o jornal The New York Times, que encerrou 2012 com 640 mil assinantes digitais. Reforçando essa visão, Doria citou o aplicativo Globo a Mais, revista verspertina criada pelo O Globo e que circula de segunda a sexta-feira, a partir das 18h, com conteúdos multimídia, além de colunas e matérias exclusivas. Segundo o executivo, a navegação diária dos leitores no aplicativo dura, em média, hora e meia, índice bem superior ao verificado no conteúdo impresso e no site do jornal. A base atual de assinantes digitais do jornal O Globo é de 30 mil usuários.

Mais do que oferecer conteúdos multimídia e análises que contextualizem os acontecimentos, os participantes do evento ressaltaram outro fator que pode diferenciar os jornais entre as diversas fontes de informação digital: “A função do jornal é tirar o leitor da zona de conforto que a internet propicia, na qual o leitor apenas reforça suas crenças e consome somente um tipo de informação. Com a nossa curadoria, temos que produzir e oferecer conteúdos de uma forma que esse leitor amplie seus interesses”, afirmou Sérgio Dávila, editor-executivo da Folha de S.Paulo.

Com uma visão otimista sobre o futuro do jornalismo digital, Dávila ressaltou alguns resultados obtidos pela Folha desde que implantou seu modelo de cobrança pelo conteúdo digital, em junho de 2012. “Na época, tínhamos receio de que a audiência do site cairia, assim como a receita de publicidade online, e de que as pessoas não pagariam pelo conteúdo. Fomos surpreendidos”, disse. Segundo Dávila, desde o início da cobrança, o jornal triplicou sua base de assinantes digitais, para 45 mil assinantes.

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[Moacir Drska, do Valor Econômico]