Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Sobre narcotráfico e violência nos estádios

É extremamente rigorosa, talvez até mesmo justa, a “atitude legalista” dos nossos vizinhos bolivianos contra os torcedores brasileiros (corintianos) que lá permanecem presos por supostamente terem participado do episódio acidental que deu causa ao falecimento de um adolescente daquele país. É isso que dá conta a notícia “Jovem é atingido por fogos e morre no estádio na Bolívia” (21/02/2013 – Gazeta do Povo.com/Folhapres). A mesma notícia acrescenta: “Um adolescente de 14 anos, identificado como Kevin Beltrán, morreu depois de ser atingido por fogos de artifício durante a partida entre Corinthianse San José pela Libertadores, na Bolívia” (ver aqui).

Outros vizinhos nossos, já agora os paraguaios, parecendo igualmente “ciosos das questões de lei e ordem”, foram rápidos em acautelar-se de episódios semelhantes ao da Bolívia. Torcedores brasileiros (palmeirenses) foram rigorosamente triados, isolados e detidos por alcoolismo na entrada do estádio Nicolas Leoz, de Assunção. Foi notícia: “Bafômetro impede entrada de palmeirenses em estádio paraguaio” (28/02/2013 – Globoesporte, ver aqui).

Nossas torcidas (sejam elas dos times que forem…) realmente devem ser contidas e submetidas aos mecanismos de segurança pública do Brasil e de todos os outros países onde quer que elas estejam.

Exame químico

Mas que dizer dos nacionais dos países vizinhos, “parceiros no futebol”, que “exportam” para o Brasil drogas ilícitas (incluindo cocaína e crack) e armas de fogo e, por outro lado, “importam” do Brasil veículos furtados e roubados? Isso não é “incentivar deliberadamente o crime e a violência”? O que fazem seus respectivos governos para combater proativamente tal situação?

Recentemente, o governo da Bolívia chegou a considerar a legalização de veículos furtados e roubados no Brasil. A notícia: “Governo bandido – Evo Morales vai legalizar todos os carros roubados que circulam na Bolívia e ainda espera arrecadar US$ 200 milhões” (09/06/2012, Veja, ver aqui).

E de onde vem a cocaína e crack que matam e incapacitam milhões de jovens brasileiros, tão sedentos e merecedores de vida como o adolescente Kevin Beltrán, falecido no estádio boliviano? A maioria dessa droga ilícita vem da “legalista Bolívia nos estádios”… A esse respeito, vide a manchete: “Mais da metade da cocaína no Brasil tem ‘DNA’ boliviano” (01/07/2012 – Folha de S.Paulo, ver aqui). A mesma notícia aponta ainda: “Segundo análise de projeto da PF, 54,3% da droga tem origem na Bolívia – Exame químico permite identificar de onde parte a cocaína e traçar estratégias de defesa nas fronteiras”.

Condenados a morrer

Algumas informações sobre a cocaína e crack cuja “quantidade boliviana” é mais do que a metade do total consumido por brasileiros:

1. “O motivo da rápida proliferação do crack continua difícil de ser determinado, mas os agentes da lei falam que o Brasil está se tornando cada vez mais atraente para a venda de drogas, por causa de suas longas e porosas fronteiras com os três maiores produtores de cocaína do mundo” (28/12/2012 – Estado de S.Paulo, ver aqui).

2. “A epidemia de uso de crack que se apresenta no país preocupa a todos os brasileiros. A estimativa da OMS para o Brasil é que existam 3% de usuários, o que implicaria em 6 milhões de brasileiros. O Ministério da Saúde trabalha com 2 milhões de usuários e estudo da Unifesp patrocinado pela Senad demonstra que um terço dos usuários encontra a cura, outro terço mantém o uso e outro terço morre, sendo que em 85% dos casos relacionados à violência” (“Diretrizes Gerais Médicas para Assistência Integral ao Dependente do Uso Crack”, ver aqui).

3. “O deputado [Eduardo da Fonte (PP-PE)] também cobrou o reforço no controle das fronteiras. “O Brasil não produz cocaína, óxi ou fuzil AR-15, isso tudo chega ao país pelas nossas fronteiras” (“Parlamentares Cobram do Governo Novo Modelo de Política Anti-Drogas” – Conselho Regional de Medicina de Pernambuco, ver aqui).

Ora, repetindo, é extremamente rigorosa, talvez até mesmo justa, a “atitude legalista” dos nossos vizinhos bolivianos contra os torcedores brasileiros (Corintianos) que lá permanecem presos por supostamente terem participado do episódio acidental que deu causa ao falecimento de um adolescente daquele país. Mas que dizer dos milhares, talvez milhões de adolescentes e adultos brasileiros que já foram, estão sendo e ainda serão mortos ou incapacitados pela cocaína, seja ela em pasta, pó ou cristais, com origem na Bolívia – algo que as autoridades daquele “país amigo” consentem e/ou não impedem de chegar ao Brasil? Vale lembrar que a tragédia da morte acidental de Kevin Beltrán no estádio boliviano, foi algo imprevisível, ao contrário das mortes dos milhares de jovens brasileiros que, diferente de Kevin, estão, intencional e previamente condenados a morrer pelo uso do reconhecido veneno físico e psicossocial que é a cocaína boliviana…

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George Felipe de Lima Dantas é professor (Brasília, DF)