Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O que será da memória da humanidade?

Basta dar uma rápida pesquisada de títulos contendo o termo “cartas”, “cartas reunidas” ou “correspondência” numa biblioteca, ou então numa livraria física ou online, que a pesquisa resultará em inúmeros e interessantíssimos títulos: Cartas a minha mãe – Saint-Exupéry (autor de O pequeno príncipe); Cartas a Theo (de Vincent Van Gogh ao irmão Theo); Cartas de Freud; Cartas de Hemingway; Cartas Seletas de Charles Darwin; Correspondência entre Goethe e Schiller; Correspondência Machado de Assis/Joaquim Nabuco; Correspondência Mario de Andrade e Manuel Bandeira; Correspondência Mario de Andrade e Tarsila do Amaral; Correspondência Guimarães Rosa; Correspondência com Fernando Pessoa; e por aí vai… – são dezenas de títulos, todos eles relevantes e atraentes para algum tipo de leitor.

Mas, o que será da correspondência na era da eletrônica, da internet? Para onde irão as trocas de cartas literárias e outras trocas de correspondência entre pessoas notáveis no atual mundo online? Tendo a carta sido praticamente substituída pela mensagem eletrônica, o e-mail, ou mesmo pela comunicação por vídeo, como o Skype, será que haverá registro das trocas de impressões entre escritores ou entre outras pessoas notáveis do mundo da ciência, da filosofia, da sociologia ou da política? Estarão essas mensagens relegadas ao anonimato dos registros dos meios eletrônicos – e ao esquecimento?

E o que faremos para resgatar e registrar essa correspondência? Haverá meios para isso? Provavelmente, não – a não ser que correspondentes específicos procurem registrar sua correspondência de forma específica – o que parece ser algo cada vez mais difícil.

Assim sendo, o que será do nosso futuro? Do futuro da memória da humanidade no que se refere ao pensamento de suas mais importantes e relevantes figuras? E o que será do futuro da filatelia? Os Correios parecem cada vez mais pobres no que se refere aos selos – cada vez menos usados. O que será da memória da humanidade no pós-era da tecnologia de informação?

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Lenke Peres é tradutora, poeta e escritora, Cotia, SP