Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Um jornalismo positivo, que mude a sociedade

“Fazer jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que seja publicado.” Não quero aqui contrapor a tese expressa na oração que tão bem define a chave de um jornalismo atuante e combativo. Nem defender a adoção de um jornalismo chapa branca, que seria ainda mais pernicioso do que o “jornalismo da depressão” que é vastamente praticado hoje no país. Mas é diferente propor um jornalismo que valorize as boas práticas na sociedade, aquelas que são capazes de transformá-la, indo além da pintura de um cenário de erro absoluto.

Tenho realmente hoje a tendência a achar que e preciso alterar a lógica presente no jornalismo contemporâneo brasileiro, que é algo que me preocupa, sobretudo nas editorias de Política do jornalismo impresso, sob a pena de contribuir com a visão corrente de que tudo está caminhando só para pior, que não há mesmo saída e que estamos todos condenados a viver em uma sociedade injusta e cada vez mais distante das que queremos. Volto à frase que abre o texto para lembrar que se “fazer jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer se seja publicado”, também o é apresentar as boas práticas, os bons exemplos, que mudam a sociedade e que, certamente, os que defendem a inércia social não querem que sejam veiculados.

Dia desses, debatia com dois colegas o lugar-comum de dizer que “o mundo está perdido” e “cada vez pior”. Tentava prová-los do contrário, usando os piores momentos da história humana, tais como guerras e violações de direitos civis, para dizer que estamos evoluindo, embora muito mais lentamente do que gostaríamos. Isso alimentou o desejo de tratar do tema aqui, no âmbito do jornalismo.

Apontar caminhos

Dia após dia, nas redes sociais, percebo o quanto as pessoas se mostram revoltadas com os desmandos e injustiças reveladas pela sociedade para, ao fim das lamentações, completar com algo do tipo: “Não tem jeito”. Aliás, nas redes sociais, num ambiente evidentemente limitado pelo meu círculo social, comecei a adotar a prática que defendo agora para o jornalismo. De tanto postar e comentar notícias negativas, questionar práticas e apontar equívocos, sobretudo na prática política e na conduta ética em nosso país e, a cada tópico, receber um comentário na linha do “não tem jeito”, comecei a sentir a necessidade de refrescar aqueles que me liam com enfoques positivos, com elogios a boas práticas e análises que permitissem reavivar a esperança de que “tem jeito, sim”.

E é aí, essencialmente, que quero chegar. É ou não é recorrente que um leitor, ouvinte, telespectador, ao fim do jornal, encerre sua experiência comunicacional com um “esse país não tem jeito” ou “o mundo está perdido”? Agora, convenhamos: isso não o desestimula a mudar as coisas? Não o desmotiva a tentar sair do estado de inércia e fazer a sua parte para mudar a sociedade? Afinal, se tudo é tão ruim, se tudo está tão errado e se há sempre um porém, se todos são iguais, adianta se preocupar com isso? Estamos condenados a isso, não é? Os que comandam as injustiças de dentro dos governos e dos empreendimentos que sugam a sociedade querem uma imprensa chapa branca, que tentam promover gastando fortunas em verbas de comunicação. Mas, na impossibilidade dela, contentam-se com uma imprensa que iguala tudo no pior. Se é tudo ruim e não há saída, assim como se está tudo bom, não há motivos para mudar.

A imprensa combativa, então, acaba se deixando levar por uma armadilha que é criticar sem propor soluções e, assim, fazer um jogo duplo. Por um lado, critica o que está aí, por outro passa a sensação de que não há o que fazer. Um jornalismo verdadeiramente combativo tem, também, que ser positivo. Tem que reconhecer as boas práticas, premiar os bons exemplos com espaços tão pomposos quanto aqueles reservados às importantes denúncias. O papel do jornalismo não é apenas mostrar o que está errado, mas ajudar a sociedade na discussão dos caminhos certos e de como percorrê-los.

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Ricardo Corrêa é jornalista e editor-adjunto de Política do jornal Hoje em Dia(Belo Horizonte, MG). Foi coordenador de Comunicação da Fecomércio Minas e chefe de reportagem dos jornais O Tempo (Contagem, MG) e Panorama(Juiz de Fora, MG)