Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

A utopia da imparcialidade jornalística

Há os que superestimam a profissão de jornalista, talvez iludidos pela mídia de fofocas que deu um upgrade na imagem de alguns coleguinhas, fazendo com que o leitor – na maioria das vezes apenas telespectador superficial de telejornais – passasse a ver e crer na função como algo glamoroso.

Inspirados muitas vezes em personagens de telenovelas, veem o jornalista como um herói acima do bem e do mal. Na outra ponta da corda estão os que – incluso jornalistas – consideram-nos como prostitutas, afinal escrevemos para quem nos paga. Salvo o exagero, o certo é que jornalismo é uma profissão como outra qualquer e, como em qualquer profissão, trabalhamos para comprar pão e leite, pagar conta de luz e água, coisas comuns de pessoas comuns.

Se grandes jornalistas como o veterano Gay Talese decretam a morte do chamado “repórter herói” – aquele que antes da TV cobria as guerras e passava informações que muitas vezes contrariavam as dos governos –, não se pode confundir em nenhum momento com tal jornalismo “bom mocismo” que é bem comum na imprensa de interior, onde o “ficar em cima do muro” é vendido com a intenção de fazer a população crer que isso seja a tal imparcialidade jornalística.

O apresentador e o repórter

É fato e é regra que uma reportagem ou notícia ouça todos os lados envolvidos, isso é o que dará um considerável grau de “imparcialidade” a essa produção – é minha humilde opinião, mas é parecida com a de alguns acadêmicos de nosso oficio, como Nilson Lage e Fernanda Schneider. O jornalista é antes de tudo um ser humano, tem suas convicções e seus signos pessoais que sempre irão influenciar sua visão do fato, é também funcionário ou autor de um veiculo – se freelancer produz já pensando a que veículo enviará sua produção – e cada veículo tem sua “linha editorial” ou sua orientação bem definida do que quer “vender”.

Apurar um fato já conta como um ato de parcialidade. Escolhemos a fonte que acreditamos ser a melhor, os ângulos que pensamos serem os mais próprios, a pauta que imaginamos interessar o leitor ou – quem tem coragem de assumir, que assuma – o editor. Quando escrevemos colocamos em colunas encabeçadas por leads o que achamos mais importante ou interessante. A decisão é do jornalista e não do fato. Assumir-se neutro já consta como um ato não parcial, visto que declarar-se assim já é uma posição que se toma diante de alguma coisa.

O certo é que devamos buscar a tal “imparcialidade” como uma utopia a ser perseguida de forma a sermos o mais justos possível, sem nos perdermos em ilusões. Quando me perguntam sobre ética jornalística, respondo o que li ou ouvi – e não me recordo de quem – que se como jornalista tiver de prejudicar alguém importante pense duas vezes e se for prejudicar alguém que não terá condições de se defender depois, não o faça.

Aos amigos que estão e estiveram na tarimba, concordamos, acredito, que essa é uma profissão maravilhosa, porém espinhosa, que não paga toda nossa dedicação e trabalho, bem diferente do que alguns pensam ser ao ver e confundir o apresentador de reality show com o repórter, quando ali o mesmo interpreta papéis bem distintos.

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Victor Vianaé repórter policial em O Noticiário dos Lagos, Cabo Frio, RJ