Em 14 de março de 1988, a recém-formada agrônoma Ana Estela de Sousa Pinto chegou ao nono andar da Folha com um gravador e uma missão espinhosa para uma aspirante a jornalista. Com sete colegas, entrevistaria o presidente da República.
Não importava que o presidente não fosse tão presidente, já que em vez do titular do Planalto, José Sarney, sabatinariam Boris Casoy, então jornalista da Folha, no papel de Sarney.
Com a entrevista coletiva simulada, o grupo de jovens iniciava um capítulo significativo da história do jornal.
Começava ali o Programa de Treinamento da Folha, projeto que celebra esta noite, em evento fechado no Museu de Arte de São Paulo, o seu aniversário de 25 anos.
Neste quarto de século, a iniciativa formou cerca de 600 profissionais, dos quais uma centena trabalha atualmente na Folha.
Como afirma um deles, Vinicius Mota, 39, secretário de Redação da Folha, o programa se tornou “um dos pilares” do jornal. Formado na turma de 1999, o ex-editor de “Opinião” e de “Mundo” chama a atenção para o caráter plural e aberto do projeto.
“É um concurso público, à luz do dia, e a Folha não faz distinção se o concorrente tem diploma jornalístico ou não. É um ativo do jornal trabalhar com pessoas de formações diferentes”, diz Mota.
Um censo recente feito com ex-trainees indica que, além dos que cursaram jornalismo, entre os que passaram pelo programa havia profissionais com 22 graduações distintas.
A composição da atual turma, a 55ª, é ilustrativa disso.
Dos 12 trainees, selecionados entre mais de 3.600 inscritos (a relação candidato/vaga é quase três vezes à do vestibular para medicina na USP), há profissionais vindos de cinco graduações.
Seleção
Responsável por coordenar o programa de treinamento por quase 15 anos, de 1997 a 2012, Ana Estela, 48 (a mesma que cursou a primeira turma), diz que a seleção dos trainees é o processo-chave.
“Buscamos pessoas diferentes, de várias regiões e em distintas etapas de maturidade. Não é difícil que o programa tenha um doutor em direito de 35 anos e um aluno de segundo ano de economia, filho de feirantes”, afirma a hoje editora de “Mercado”.
Um dos responsáveis pelo modelo atual de seleção dos trainees, o editor de “Opinião” da Folha, Marcelo Leite, 55, diz que o grande desafio na escolha é ampliar o leque para “não deixar escapar o sujeito qualificado que não tenha o currículo tão forte”.
“Descobrimos muita gente bacana devido aos testes pesados”, diz a consultora de comunicação Sandra Muraki, 51, que coordenou o programa por cinco anos.
Além da centena de profissionais hoje na Folha, entre os egressos do programa há dezenas de jornalistas em outras publicações relevantes, além de diversos professores universitários, diplomatas, juízes e procuradores.
“O programa é um lugar para poder crescer. Ninguém vira jornalista impecável em quatro meses, mas o treinamento firma conceitos fundamentais”, diz Ana Estela.
Ex-trainee, a coordenadora interina do programa, Alessandra Balles, 38, crê que o grande desafio hoje é como lidar com a internet. “O importante é passar os fundamentos do bom jornalismo, que às vezes parecem perdidos quando tudo está ao alcance de um clique”, afirma.
“O curso de treinamento é a face mais visível de um amplo programa de formação e reciclagem profissionais, que compreende financiamento para cursos, bolsas de trabalho e períodos sabáticos. Com o respaldo das empresas patrocinadoras, a Folha investe quase 2% de seu orçamento editorial na formação de jornalistas. Os resultados animadores nos estimulam a fortalecer essa diretriz”, afirma Otavio Frias Filho, diretor de Redação.
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Site – www.folha.com/treinamento
Blog Novo em Folha – novoemfolha.blogfolha.uol.com.br