Há uma enorme diferença entre o jornalismo ideal (aquele que se preza pela imparcialidade da informação, buscando a integridade dos fatos e ouvindo as partes envolvidas) e o jornalismo real, que em muitos casos é influenciado por fatores externos à redação e pode variar de acordo com a linha ideológica ou partidária de seu chefe.
Esse confronto onde se expõem as facetas da rotina jornalística é o plano de fundo do filme Boa noite e boa sorte, do diretor George Clooney. O longa narra a história do famoso apresentador Edward Morrow e sua luta contra a manipulação de informações e a ocultação da verdade. Ao expor em seu programa, vestígios de que o senador Joseph McCarthy utiliza de métodos radicais e irresponsáveis na sua busca por americanos alinhados à doutrina comunista, Morrow enfrenta uma verdadeira batalha pública, que passa por ameaças de demissão até acusações inverídicas sobre suas reais preferências políticas.
Nessa época, o mundo vivia à sombra da Guerra Fria, confronto ideológico entre os Estados Unidos e a União Soviética. Nessa perspectiva, o governo americano buscava minar qualquer foco comunista, seja em seu país ou na Europa. Nesse mesmo período, a CBS buscava consolidar-se como uma fonte de credibilidade perante o público estadunidense, em um momento de tensão mundial.
O objetivo do jornalismo
Não é fácil enfrentar um sistema político, pois isso acarreta em ameaças de corte de concessão televisiva e também possíveis perdas de publicidade. Morrow resistiu durante muito tempo a essas pressões e conseguiu o apoio da opinião pública.
O filme também apresenta os desafios de uma redação e suas consequências. Um grupo de repórteres representa de forma evidente a necessidade que a imprensa tem de obter exclusividades e transmitir acontecimentos importantes, que chamem a atenção da audiência. Em uma das cenas, um dos repórteres pede que os demais colegas assaltem um banco ou matem alguém para virar notícia. Nesse sentido, há uma interessante discussão: para o jornalismo, quanto pior melhor?
Assim, não se pode negar a influência externa na construção da notícia, tão pouco não ouvi-la. Mas, ficar refém de grupos de poder é sem dúvida, um atentado ao real objetivo do bom jornalismo.
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Emilson Garcia é professor, Campina Grande, PB