A história credita ao jornalista americano Ivy Lee o título de ser o pioneiro a agir profissionalmente na função de estreitar o relacionamento de um assessorado com a imprensa. Em 1906, ao deixar a função de repórter e se dedicar a tarefa de assessorar o empresário John D. Rockefeller, Lee criou uma espécie de cartilha que indicava a diferença entre notícias e publicidade e como deveria ser a relação ideal entre os assessores e a imprensa. Ivy Lee foi pioneiro em uma função que, ao longo de décadas, enfatizou o relacionamento com os veículos de comunicação para atingir, por consequência, o público.
Entre as inúmeras transformações que a assessoria de comunicação enfrentou com as inovações tecnológicas uma das mais marcantes aconteceu com o surgimento das redes sociais. Se Ivy Lee atuasse nos dias de hoje, com certeza, incluiria na cartilha dele a importância de estar presente, relacionar-se e monitorar informações nas redes sociais.
Há uma década, oferecer uma pauta que conquistasse o interesse do gatekeeper, o jornalista responsável por selecionar as pautas nos veículos de comunicação, estava na lista das inúmeras tarefas desempenhadas pelas assessorias de comunicação. Dez anos depois, podemos dizer que vivemos a “segunda década de digital” e os assessores deparam com o gatewatcher, uma figura que não tem dia e hora para exercer as funções de selecionador de notícias e ainda possui o grande diferencial de poder acrescentar análises pessoais. Os gatewatchers, representados pelo público das redes sociais, são, segundo Canavillhas(2010), uma espécie de novos gatekeepers que comentam e selecionam as notícias mais interessantes para os amigos ou seguidores.
Amplitude, velocidade e durabilidade
Segundo Serrano (2013), 85,3 milhões de brasileiros, acima de 16 anos, têm acesso à internet; deste total, 46 milhões são usuários de redes sociais. Neste universo, podemos considerar que os que estão nas redes sociais formam uma poderosa e crescente mídia de massa. Além de selecionar conteúdos já veiculados e comentar, os integrantes dessa nova mídia têm o privilégio de publicar seguindo critérios de noticiabilidade, na maioria dos casos, exclusivamente pessoais.
Participar e monitorar o que está nas redes sociais, além de manter boas relações com os gatewatchers são peças fundamentais do processo que antes estava focado apenas nos veículos de comunicação tradicionais. Jornais impressos e online, rádios e TVs não são mais onipotentes na difusão em grande escala da comunicação. O gatewatcher, por meio das redes sociais, pode usufruir da possibilidade de divulgar o que considera furo jornalístico, sem esperar pela confirmação das informações. Em um contexto avaliado como inédito por Coutinho (2009) pela amplitude, velocidade e durabilidade. Desconsiderar essa figura, que a cada dia solidifica o status de formadora de opinião, é correr sérios riscos.
Referências
Amaral, Cláudio. A história da comunicação empresarial no Brasil. Disponível na Internet via http://www.portal-rp.com.br/bibliotecavirtual/memoria/0095.htm, Acessado em 25 de março de 2013.
CHAPARRO, Manuel Carlos. “Cem anos de assessoria de imprensa”. in Assessoria de Imprensa e Relacionamento com a Mídia. org. Jorge Duarte. São Paulo: Atlas, 2002.
COUTINHO. Marcelo. Relevância e audiência: a importância do capital social. Disponível na Internet via http://linux.socioambiental.org/sites/linux.socioambiental.org/files/Do%20Broadcast%20ao%20Socialcast.pdf. Acessado em 25 de março de 2013
CAVAVILHAS. João. Do gatekeepingao gatewatcher: o papel das redes sociais no ecossistema mediático. Disponível na Internet via http://campus.usal.es/~comunicacion3punto0/comunicaciones/061.pdfAcessado em 17 de novembro de 2012
SERRANO. Filipe. Década digital. Disponível na Internet via http://blogs.estadao.com.br/link/decada-digital/Acessado em 17 de abril de 2013
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Regina Zandomênico é professora universitária, Florianópolis, SC