Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A Operação Salva Eike

Provavelmente, o círculo inferior da economia (nós) nunca saberá os detalhes da Operação Salva Eike, que o próprio e o governo brasileiro vêm desenvolvendo após o ex-homem mais rico do Brasil ter tido revelada a péssima situação financeira de suas empresas. Mas os contornos dessa operação, tornados públicos aqui e ali por um noticiário sempre à serventia de Eike Batista, são nítidos. Eles repetem a dinâmica e a lógica que permitira a ascensão econômica desse moço que produz menos do que se pensa, mas que habilmente cria uma imagem pública de que vale muito mais do que em verdade vale.

A operação em andamento envolve dinheiro público (do BNDES e de negócios com a Petrobras) e uma blindagem que a imprensa faz à imagem de Eike Batista como um suposto exemplo de empreendedor que, por méritos próprios, teria chegado onde chegou. No banco estatal, o antigo oitavo homem mais endinheirado do planeta montou um verdadeiro eikeduto que lhe garante muito dinheiro público, largamente subsidiado pelo Tesouro, apesar dos insistentes indícios de fracasso, ou de, pelo menos, dificuldades por que passam seus empreendimentos. Foi isso que aconteceu no dia 18 passado, quando Eike anunciou ter obtido mais de R$ 900 milhões em novos empréstimos do BNDES.

O esquema de apoio ao ex-exemplo de capitalista tem outra perna na Petrobras, de onde Eike tirou técnicos superqualificados e as valiosíssimas informações que eles carregam na memória para montar sua própria empresa de petróleo e transacionar com a estatal do petróleo.

Ícone capitalista

A outra parte de sua estratégia de blindagem, que mais uma vez o ajuda agora no momento em que ele recorre às boas e velhas tetas da Viúva, é o consenso social em torno de si. Ele a estimula. E a imprensa corporativa gostosamente apoia. Ao inflar números e possibilidades para seus negócios, Eike avança no único mercado que domina: as expectativas em torno de possíveis ganhos e a valorização de suas empresas. Assim, comprar e vender participações de suas companhias vira um grande negócio. Para o próprio Eike Batista, é claro.

Foi isso que aconteceu há poucas semanas. Como noticiou O Globo (22/4), “os papéis ON da petrolífera [OGX, de Eike] (com direito a voto) avançaram 18,38% a R$ 1,61, depois de terem subido mais de 19% na abertura. O motivo, segundo analistas, foi uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo no fim de semana, informando que um pacote de socorro estaria em andamento para salvar a OGX”.

Comparadas a outras corporações brasileiras, as empresas de Eike Batista produzem e faturam pouco. Seus ganhos residem no perde-e-ganha desse jogo de expectativas, em que estatais aceitam negociar com um conglomerado em dificuldades e a imprensa propagandeia que tudo isso é normal no capitalismo. Mas, boa parte da responsabilidade por volumes massivos de dinheiro público serem desperdiçados em operações de salvamento de empresários falidos é nossa. Aceitamos e reproduzimos, também gostosamente, que o ícone de capitalista brasileiro represente nosso próprio ideal de crescimento individual.

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Carlos Tautz é jornalista e coordenador do Instituto Mais Democracia