Friday, 08 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Blockbuster digital, agora em português

No futuro de The Private Eye, as redes sociais deixaram de existir e a internet ruiu quando mensagens, e-mails e fotos secretas ficaram abertos por 40 dias e 40 noites. Os segredos divulgados à revelia de seus donos criaram uma nova sociedade: com medo e sem privacidade, todos têm identidades secretas. Criada por dois dos mais badalados artistas da indústria norte-americana de história em quadrinhos, o roteirista Brian K. Vaughan e o ilustrador espanhol Marcos Martin, a série está disponível para compra exclusivamente no ambiente que desconstrói: a internet, pelo preço que o leitor quiser pagar. E agora com tradução em português, por Érico Assis e Fabiano Dernadin, que já adaptaram outros trabalhos de Vaughan no Brasil.

“Eu queria encontrar uma forma de expandir o público leitor de quadrinhos e diminuir o preço do produto”, explicou Martin em entrevista por e-mail ao Estado. Segundo o artista, que mora em Barcelona, o convite de Vaughan para ilustrar uma nova revista serviu de deixa para colocar seus planos em prática. “O fato de a história tratar de uma realidade sem a web foi apenas uma coincidência.” The Private Eye está disponível para compra no site The Panel Syndicate (panelsyndicate.com) desde 19 de março e na semana passada entrou no ar sua edição em português, com o aval dos autores e com as letras desenhadas pelo próprio Martin. Nos Estados Unidos, a imprensa especializada em quadrinhos anunciou o título como “o primeiro blockbuster digital” do gênero.

Terreno fértil para autores independentes, venda de publicações alternativas, crowdfundings e kickstarters para impressão de trabalhos online, a internet havia sido pouco explorada até então por criadores habituados a trabalhar com grandes editoras, como Vaughan e Martin, ambos com séries já publicadas nas gigantes Marvel e DC Comics.

A possibilidade de outras séries

Roteirista da série Lost ao longo de três temporadas, Vaughan escreveu revistas de personagens como Homem-Aranha, Capitão América, Batman e Lanterna Verde. Mas ganhou três de seus quatro Eisner (prêmio máximo dos quadrinhos norte-americanos) com suas aclamadas séries autorais Y – O Último Homem, Ex-Machina e Runways –, as três publicadas no Brasil pela Panini Comics. Pela Image, ele lança a polêmica e elogiada ficção científica Saga.

“O retorno até agora tem sido impressionante”, diz Martin sobre o gibi digital. Desenhista de séries protagonizadas por Batgirl, Sociedade da Justiça, Doutor Estranho e, mais recentemente, Demolidor, ele e Vaughan tiveram suas contas no sistema de pagamento PayPal travadas durante uma hora no dia de lançamento de The Private Eye graças ao excesso de depósitos. “Além de pessoas que leem de graça, a opção mínima de pagamento é US$ 0,5, mas um leitor pagou US$ 125 pela primeira edição.”

Prevista para durar dez capítulos, The Private Eye foi desenhada em formato wide-screen, valorizando artes horizontais, o que facilita a leitura em telas de computadores e tablets. Na única edição publicada até agora, é apresentado o cenário offline no ano de 2076 e o protagonista Pi, um detetive ilegal especializado em investigar pessoas em uma sociedade de identidades extremamente privadas.

De acordo com Martin, a continuidade do Panel Syndicate depende do sucesso de The Private Eye. “Está cedo e precisamos ver o que acontece. Se der certo, a possibilidade de publicarmos outras séries é definitivamente real.” Também dependendo do retorno da primeira publicação do projeto está a venda de trabalhos de outros autores. “Fomos procurados por algumas pessoas, mas ainda não conseguimos pensar na viabilidade dessas propostas”, avisa.

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Ramon Vitral, do Estado de S.Paulo