Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O incidente entre o prefeito e o músico

No dia 25 de maio passado, o prefeito do Rio de Janeiro e um músico se cruzaram em um restaurante japonês, na zona sul da cidade. Muitos, agora, sabem o resultado do encontro. Em breve resumo: o músico Botika Botkay, num arroubo de agressividade, agrediu verbalmente o prefeito Eduardo Paes. O prefeito, por seu turno, agrediu fisicamente o músico ao decidir ir para a ignorância que rege, por exemplo, as colisões de trânsito. A segurança oficial, sem alternativa, entrou em cena. Houve desdobramentos posteriores: exame de corpo delito, notícia em boletim de ocorrência policial e visitas ao Instituto Médico Legal (IML) e delegacia. Duas pessoas se confrontaram, a segurança foi acionada e se formou o fato jornalístico. A imprensa, por sua vez, não poderia deixar de divulgar o episódio.

O músico publicou, em rede social, sua versão do incidente. Apesar de o relato de Botika Botkay, nas redes sociais, informar, sem retratação, que agrediu Eduardo Paes – segundo ele – pelos supostos danos e prejuízos que o prefeito vem causando à cidade do Rio de Janeiro, utilizou-se de ofensa nitidamente insidiosa. Relatou que havia agredido o prefeito de forma “certeira” (sic), como se acusar uma autoridade, de forma incisiva, justificasse qualquer agressão verbal de que Eduardo Paes seria um denominado “bosta” (sic). Parece-se, até, que pretendeu, a posteriori, colher frutos decorrentes da própria conduta inapropriada. Não se agride verbalmente alguém do nada, nem autoridade, ou celebridade. As regras de boa educação são básicas.

O prefeito, diante da agressão, respondeu com agressão física. Conforme relatam os meios de comunicação, partiu para o contato corpo-a-corpo e desferiu um soco no seu oponente. Desnecessário dizer que, como autoridade municipal máxima, a tropa de segurança iria intervir no momento. E, assim, criou-se o tumulto. Prato cheio para comentários. E aqui reside o problema.

Agressão verbal

Os veículos da mídia estão, parcialmente, corretos, ao divulgarem a impropriedade da reação do prefeito. Fato que não garante razão alguma ao músico agressor. O prefeito não é um cidadão comum: representa a cidade do Rio de Janeiro. Mas a partir do momento em que ilações são veiculadas pelos comentários da mídia, abrem-se diretórios diversos, expande-se o fato jornalístico e, não raro, a pauta vira manchete sensacionalista.

Pode-se ler, aos quatro cantos, comentário com relação à conduta do prefeito Eduardo Paes. Trata-se, como diria Nelson Rodrigues, de comentários óbvios e ululantes. Algo como: a reação violenta do prefeito fere os princípios democráticos, por exemplo. O fato de que, no Brasil, o incidente se resolve sempre em briga de contato físico, simplificando o evento e subjugando parte da sociedade que nada tem a ver com o incidente. Além do fato de relembrarem, ainda, que o prefeito já teria agredido, verbalmente, em outras oportunidades, outros políticos e filhos de políticos. E daí, para as ilações desnecessárias, chove, adicionalmente, uma torrente de comentários.

O móbile da questão, o fato jornalístico relevante diz respeito a uma agressão verbal que foi dirigida, pode-se supor, contra uma autoridade do governo. A mídia se esquece de informar que nada houve de pessoal ao cidadão Eduardo Paes. Se Eduardo Paes não fosse prefeito, não teria recebido a agressão verbal injustificável.

Todos cometeram equívocos

Por outro lado, a reação da autoridade municipal foi desproporcional ao insulto recebido. Eduardo Paes não teve outra opção se não a de se retratar, posteriormente, e pedir desculpas pela atitude infantil em que incorreu. É óbvio, repita-se, que, como autoridade máxima do município, não haveria alternativa diversa senão pedir desculpas em público. E de nada deveria se gabar o músico, pelo incidente repugnante que iniciou. A vergonha deve ser dirigida aos dois sujeitos, que agiram como meliantes em plena praça pública.

Importa dizer que cometeram equívocos o músico, o prefeito e, mais, os jornalistas que ampliaram a repercussão do fato para obter efeito de notícia, notícia esta mais do que relevante.

Dizer que houve lesão aos princípios democráticos, buscar os filhos do Lula para recordar agressão verbal pretérita incorrida pelo prefeito, tratar o fato como uma ameaça à forma pela qual nos organizamos constitucionalmente e que tais, se me permitem, seria expediente demais. Como se diz comumente na língua inglesa, para a cobertura da mídia, digo “I do not know if it helps or hurts”.

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Eduardo Ribeiro Toledo é advogado, consultor jurídico e escritor