Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornalismo distorcido ou uma doença crônica

Faz tempo que a imprensa esportiva abandonou a tarefa de “fábrica” de ídolos para a molecada. O único e último exemplar desse tipo de jornalismo próprio das décadas de 1950, 60 e até o início da década de 70, é a louvaminha excessiva em torno do indiscutível craque Neymar Jr. Nem mesmo a seleção é capaz de enfrentar a maré clubística em que se meteu o futebol e o esporte em geral neste país. Os jovens de hoje costumam cultuar os seus times pessoais alavancados pelas “rivalidades” estimuladas e fabricadas pela mídia.

Os antigos álbuns de figurinhas com os jogadores de hoje não empolgam os garotos desta geração e isso se deve à perversão dos estímulos lançados pela chamada crônica esportiva, hoje mais para uma doença crônica do jornalismo. Triste mesmo é ver o desinteresse mostrado em relação à seleção nacional, como se não estivéssemos em plena democracia – ao passo que uma seleção como a de 1970 tenha tido tanta repercussão em meio ao recrudescimento da ditadura em nosso país.

Um jogo entre times estrangeiros na Champions League tem despertado mais os jovens do que os campeonatos regionais internos inflados pelos interesses mercantis da mídia que nesta vez afina seus instrumentos com a oposição política. Foram-se os tempos em que os times adversários eram decorados pelo povão e as camisetas de jogadores deixavam suas marcas na torcida. Hoje as camisetas com nomes são deixadas de lado como dedicadas a mercenários que mudam de time, sem piada, como mudam de camisa.

Bem-vindos os novos teclados

No túnel sem fundo em que se meteu nosso jornalismo esportivo, e note-se que o clima “Olimpíadas” tem o mesmo desinteresse despertado pela Copa das Confederações, parece sem limites quando se mostram os interesses clubísticos e mercantis acima dos craques e ídolos.

Tomara que a moda Neymar não seja esquecida e que se passe realmente a um retorno dos antigos e românticos tempos do jornalismo esportivo que não fazia vergonha a monstros sagrados da nossa dramaturgia como a da pena de Nelson Rodrigues. Anote-se que não sou adepto do saudosismo nostálgico. Bem-vindos os novos teclados dos jovens jornalistas.

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Fausto José de Macedo é jornalista e radialista