Robert Capa foi inventado pela alemã Gerta Pohorylle para vender o trabalho de seu companheiro, Endre Friedmann, húngaro que, como ela, tinha deixado Berlim com a ascensão de Hitler, em 1933. O tal Capa seria um “fotojornalista americano”, famoso por suas fotos intensas, objetivas, mas humanas. Assim eram as imagens de Endre.
Ele tinha chegado a Paris, às vésperas dos 20 anos, levando na bagagem o sucesso das fotos que tinha feito de Trotsky em Copenhague, as primeiras do líder revolucionário fora da URSS. Na ocasião, estava a serviço da agência Dephot e, com uma Leica, registrou, de perto, o líder que detestava fotógrafos.
Mas foi na Guerra Civil Espanhola, em 1936, já como Capa, ao lado de Gerta, agora Gerda Taro, que sua carreira ganhou força. Ele de Leica, ela de Rolleiflex, engajaram-se na cobertura dos combates e na causa dos republicanos. Em 1937, quando cobria combates próximos a Madri, Gerda foi atingida por um tanque e morta. Ela tinha 26 anos e foi a primeira fotógrafa a morrer em ação na história do fotojornalismo.
Gerda foi, sem dúvida, sua amiga mais cara e seu grande amor. Nas fotos dela está a força do olhar humanista que marca a obra de Capa. A guerra, para ele, não era um espetáculo, e sim a tragédia da vida. Foi isso que fez dele o desassombrado repórter da “Life” que desembarcou na primeira leva de soldados em Omaha Beach, no Dia D, e tornou-se reconhecido como o patrono incontestável do fotojornalismo de ação.
Homem do mundo, namorou Ingrid Bergman e inspirou Hitchcock na construção do repórter fotográfico de “Janela Indiscreta”. Mas seguiu sozinho, fiel à ideia que se tornou lema do fotojornalismo de ação: “Se a sua foto não é suficientemente boa é porque você não está suficientemente perto”.
Capa viveu a vida assim, de bem perto. E assim pisou em uma mina quando cobria os desdobramentos da batalha de Dien Bien Phu, no Vietnan, em 1954. Seu corpo foi encontrado sem as pernas, mas com uma câmera em cada mão. Tinha 40 anos.
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Milton Guran é fotógrafo e coordenador do FotoRio